Voltei sem avisar e encontrei meu filho à morte… enquanto a festa rolava

6 min de leitura

Regressei a casa sem avisar. Depois de cumprir minha última missão, descobri que meu filho agonizava sozinho na sala de cuidados intensivos. Enquanto isso, minha nora estava a festejar com os amigos num iate no Mar do Algarve. Então, congelei todas as contas imediatamente. Uma hora depois, ela enlouqueceu ao descobrir.

Estou feliz por estares aqui. Fica até ao fim e diz-me de que cidade estás a ver a minha história. Quero saber até onde chegou. Pisei o Aeroporto Internacional de Lisboa justamente quando o sol começava a surgir, com uma luz dourada a atravessar os vitrais do terminal.

A velha mala militar, desgastada nos cantos, descansava aos meus pés como uma companheira de viagem fiel durante mais de 40 anos. No meu pulso, o relógio de bolso do meu pai vibrava suavemente a cada movimento, como a lembrar-me da promessa que fiz na minha juventude: sempre voltar para casa.

Aos 61 anos, recém-reformada após a minha última missão, tinha dedicado toda a minha vida aos Fuzileiros Navais de Portugal. Desde operações de resgate de reféns no Porto até noites intermináveis a ajudar nas evacuações durante um terramoto devastador. Mas hoje, só queria ser mãe. Ansiosa por abraçar o Pedro, meu filho.

Depois de tantos anos, arrastei a mala para fora da zona de bagagens com a mesma rapidez e precisão de sempre. Lá fora, o sol da manhã já queimava. Ergui a mão para chamar um táxi. “Para a Rua das Palmeiras, número 420, por favor”, disse ao motorista. Tentei manter a voz calma, mas por dentro, a emoção batia como as ondas do mar ali perto.

Imaginava o Pedro a abrir a porta com um sorriso radiante, sentados à mesa, a falar de tudo o que eu tinha perdido. Em meia hora, estaria com o meu filho. O rádio tocava notícias da Marinha, relatos que antes ouvia diariamente, mas que agora já não significavam nada para mim.

Ontem tinha terminado a minha última missão como consultora estratégica da NATO numa operação antiterrorista na América do Sul. Quarenta anos de carreira, desde impedir o contrabando de armas na fronteira até noites em claro na selva. Tudo ficara para trás como recordações distantes. Olhei em silêncio pela janela. O oceano azul estendia-se infinito. As ondas brilhavam, como se quisessem levar-me de volta àqueles dias.

Mas a minha mente estava apenas com o Pedro e com a pequena casa onde depositei tantas esperanças. O táxi entrou na estrada costeira, onde as palmeiras continuavam a balançar, tal como no dia em que parti. Mas ao parar em frente à casa do Pedro, senti um nó no peito. A casa estava escura. As cortinas fechadas. Nenhuma luz acesa.

Subi a mala até ao alpendre. Uma inquietação crescia dentro de mim. Toquei à campainha. O som ecoou no silêncio, sem resposta. Bati à porta com mais força. E outra vez. Nada. Um silêncio estranho, como se a casa tivesse sido abandonada. Desci ao jardim e olhei em volta. A caixa do correio estava cheia de panfletos amassados.

Amontoavam-se no caminho como se ninguém tivesse limpado há muito tempo. O meu coração acelerou. Um pressentimento sombrio apertava-me o peito. Sempre enviei dinheiro pontualmente ao Pedro e à Sofia, minha nora, para sustentar a família. Acreditava que tudo corria bem, que o meu filho vivia sem problemas.

Mas agora, em frente àquela casa fria, perguntava-me o que se passava. Foi então que vi a dona Amélia, a vizinha do Pedro, a regar flores do outro lado da rua. Ela vivia ali desde eu ser uma jovem, sempre simpática e a contar histórias sobre as crianças do bairro. “Dona Amélia!”, gritei.

Ela levantou a cabeça, com os olhos muito abertos de surpresa. “Valentina! Meu Deus! Voltaste. Mas não sabes de nada.” Aproximei-me, as pernas quase a tremer ao ouvir a sua voz. “De quê? Onde está o Pedro?”, perguntei, tentando não deixar a voz falhar.

Dona Amélia deixou o regador no chão, com um olhar cheio de compaixão. “O Pedro está há duas semanas no Hospital Santa Maria. A ambulância veio a meio da noite. Vi claramente o símbolo na viatura.” Fez uma pausa e continuou num tom mais baixo. “E a Sofia… o meu filho disse que viu uma publicação dela nas redes sociais. Está a festejar num iate no Algarve.”

Fiquei petrificada, como se o mundo inteiro tivesse desabado debaixo dos meus pés. O Pedro, no hospital. Duas semanas. E a Sofia, a quem confiei o cuidado do meu filho, a festejar num iate. Senti o sangue a parar nas veias, o coração a bater com pontadas dolorosas.

“Sabes onde fica o Hospital Santa Maria?”, perguntei com voz rouca. Dona Amélia assentiu e indicou-me o caminho. Sem pensar duas vezes, corri para a rua e ergui a mão para outro táxi. “Hospital Santa Maria, o mais rápido possível”, disse ao motorista, quase em tom de ordem.

Dezenas de perguntas amontoavam-se na minha mente. O que teria acontecido ao meu filho para o levarem às pressas? E a minha nora? Como podia estar numa festa de luxo enquanto o meu filho estava doente num hospital? Sentada no táxi, sentia o coração a arder no peito.

Apertei com força o relógio de bolsillo, tanto que os meus nós dos dedos ficaram brancos. O Pedro, o menino que corria atrás de mim na praia, que me abraçava sempre que eu voltava das longas missões. Agora estava num hospital. E eu, a mãe que dedicou a vida a proteger o país, nem sequer sabia que ele precisava de mim.

Culpava-me pelos anos a enviar apenas dinheiro, achando que isso bastava para ele ter uma boa vida. Mas agora só queria chegar ao Pedro. Vê-lo, saber que estava vivo, que estava bem.

O táxi parou à entrada do Hospital Santa Maria, e o sol do meio-dia cegou-me. Paguei ao motorista, arrastei a mala pela entrada e tentei controlar a respiração para não me deixar levar pelo pânico que ameaçava desabar.

O átrio estava cheio de vozes, passos e do alto-falante a chamar pacientes numa melodia caótica. Dirigi-me diretamente à receção, onde uma jovem enfermeira verificava prontuários. “Procuro o Pedro Almeida”, disse, a voz seca, como se cada palavra exigisse um enorme esforço.

A enfermeira ergueu os olhos, fitou-me por um instante e folheou rapidamente alguns papéis. “Está nos cuidados intensivos. 5.º andar, quarto 512”, respondeu num tom mecânico, como se fosse apenas mais uma informação de rotina.

Nem tive tempo de agradecer e corri para o elevador. “Por favor, segurem a porta”, pedi, quando vi que estava prestes a fechar-se. Um homem de meia-idade esticou a mão para a travar, esperando que eu entrasse. O cheiro penetrante de desinfetante atingiu-me, e tive de conter o vómito.

Quando as portas se abriram no 5.º andar, o corredor da UCI estendia-se, frio e silencioso, apenas interrompido pelo som constante das máquinas médicas. Caminhei depressa, as minhas velhas botas militares a ressoar contra o chão de azulejos.

A porta do quarto 512 estava entreaberta, e uma luz branca filtrava-se de dentro, fazendo-me hesitar por um segundo. Empurrei-a devagar,Valentina entrou no quarto e viu o filho, fraco e ligado às máquinas, mas ao sentir sua mão, ele abriu os olhos e sussurrou: “Mãe, finalmente estás aqui”, e nesse momento, apesar da dor, ela soube que nunca mais o abandonaria. .

Leave a Comment