Todas as Noites, um Cão Negro Rosnava para o Bebê, e a Terrível Verdade Foi Revelada

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Desde o dia em que trouxeram o bebé para casa, o cão preto chamado Carvão tornou-se um guardião constante do quarto. A princípio, Rodrigo e a esposa, Matilde, acharam um bom sinal: o cão protegia o bebé, vigiando a porta. Mas, após três noites, a tranquilidade desmoronou.

Na quarta noite, às 2:13 da madrugada, Carvão endireitou-se, o pelo eriçado como espinhos, rosnando para o berço ao lado da cama. Não ladrou nem avançou—apenas rosnou, um som seco e contínuo, como se algo lhe abafasse a voz nas sombras.

Rodrigo acendeu o candeeiro e foi acalmar o bebé. A pequena Inês dormia tranquilamente, os lábios tremendo como se chupasse algo, sem chorar. Mas Carvão fitava a cama. Agachou-se, esticou o pescoço, enfiou o focinho no vão escuro e empoeirado e rosnou novamente. Rodrigo ajoelhou-se, acendeu a lanterna do telemóvel e viu apenas caixas, fraldas e uma sombra espessa como um poço sem fundo.

Na quinta noite, repetiu-se às 2:13. Na sexta, Matilde acordou sobressaltada com um arranhar lento e deliberado, como unhas a raspar madeira. “Devem ser ratos”, disse, a voz trémula. Rodrigo aproximou o berço do armário e pôs uma ratoeira. Mesmo assim, Carvão encarava a cama, soltando grunhidos sempre que o bebé se mexia.

Na sétima noite, Rodrigo decidiu não dormir. Sentou-se na cama no escuro, apenas com a luz do corredor a projetar um filete dourado. O telemóvel estava pronto para gravar.

Às 1:58, uma aragem entrou pela janela entreaberta, trazendo o cheiro húmido do jardim.

Às 2:10, a casa parecia oca, sem vida.

Às 2:13, Carvão ergueu-se, mas não rosnou de imediato. Olhou para Rodrigo, pressionou o focinho contra a sua mão, como a pedir-lhe atenção. Depois avançou, cauteloso, e apontou o nariz para debaixo da cama. O rosnado escapou-lhe, profundo e prolongado, como a impedir algo de sair.

Rodrigo ergueu a luz do telemóvel. Naquele clarão breve, viu movimento. Não era um rato. Uma mão, esverdeada e suja de terra, movia-se como uma aranha. A luz tremeluziu enquanto a sua mão tremia. Rodrigo recuou, esbarrando no armário. Matilde sentou-se, perguntando em pânico. Inês continuava a dormir, os lábios húmidos de leite.

Rodrigo agarrou a filha, pôs-se à sua frente e pegou num antigo taco de basebol. Carvão atirou-se para debaixo da cama, os rosnados transformando-se em latidos furiosos, as unhas a arranhar o chão. Das trevas surgiu um som gelado, depois silêncio. As luzes oscilaram. Algo recuara, rápido, deixando um rasto de pó negro.

Matilde chorou, implorando que chamassem a polícia. Com mãos trémulas, Rodrigo discou. Dez minutos depois, chegaram dois agentes. Um ajoelhou-se, iluminando o vão com a lanterna enquanto afastava caixas. Carvão bloqueava o berço, os dentes à mostra. “Acalme-se”, disse o agente com calma. “Deixe-me ver…” Debaixo da cama estava vazio. Apenas pó remexido e marcas de garras a serpentear no soalho.

A lanterna deteve-se numa fenda na parede, junto à cabeceira: a madeira fora cortada o suficiente para passar uma mão. Bateu—ressoou oco. “Há uma cavidade. Esta casa teve obras?”

Rodrigo abanou a cabeça. Nesse momento, Inês gemeu. Carvão olhou fixo para a fenda e rosnou. Das trevas, ecoou um sussurro rouco e humano: “Shhh… não o acordes…”

Ninguém na casa dormiu depois daquele sussurro.
O agente mais novo, Duarte, pediu reforços. Enquanto esperava, arrancou o rodapé. Os pregos eram novos, brilhantes contra a madeira envelhecida. “Alguém mexeu aqui há um mês ou dois”, disse. A garganta de Rodrigo secou. “Comprei a casa a um casal de idosos há três meses. Disseram que só pintaram a sala e arranjaram o teto, não o quarto.”

Com um pé-de-cabra, Duarte arrancou a madeira. Por trás, havia um vazio negro como uma gruta. O cheiro húmido misturava-se a outro: leite azedo e talco. Carvão puxou Rodrigo para trás, rosnando. Matilde agarrou Inês, o coração a martelar.

Duarte iluminou o interior.

“Está alguém aí?” Silêncio. Mas, quando a luz percorreu a cavidade, todos viram: objetos de bebé (uma chupeta, uma colher de plástico, uma fralda amarrotada) e dezenas de marcas riscadas na madeira, entrelaçadas como uma rede.

Quando os reforços chegaram, inseriram uma câmara minúscula e encontraram um embrulho de pano sujo. Dentro, um caderno gasto, com uma letra feminina e trémula:

“Dia 1: Dorme aqui. Ouço a respiração dele.”
“Dia 7: O cão sabe. Vigia, mas não morde.”
“Dia 19: Tenho de ser silenciosa. Só quero tocar-lhe na face, ouvir o choro mais perto. Não acordes ninguém.”

As entradas eram breves, frenéticas, como escritas no escuro.
“Quem vivia aqui antes?”, perguntou um agente. Rodrigo lembrou-se vagamente: no dia da escritura, o casal idoso estava acompanhado por uma jovem. Ela mantivera a cabeça baixa, o cabelo a cobrir metade do rosto. A idosa dissera: “Ela é preocupada, não fala muito.” Na altura, não deram importância.

A câmara revelou mais: a cavidade estendia-se pela parede, formando um túnel escondido. Num canto, havia um ninho improvisado: um cobertor fino, uma fronha e latas de leite vazias. No chão, um risco novo: “Dia 27: 2:13. Respira mais forte.”

2:13—a hora em que Inês acordava para mamar. Alguém registara a rotina da menina, de dentro das paredes.

“Não é um fantasma”, disse Duarte, sombrio. “É uma pessoa.” Investigando mais, encontraram trincos partidos e pegadas sujas no telhado. Alguém entrara e saíra até há pouco.

Ao amanhecer, Duarte aconselhou: “Fechem o quarto esta noite. Deixem o cão lá dentro com um de nós. Vamos ver se ela volta.”

Naquela noite, às 2:13, o pano a cobrir a fenda moveu-se. Uma mão fina e suja surgiu. Depois, um rosto encovado: olhos fundos, cabelo emaranhado, lábios gretados. Mas o mais perturbador era o olhar fixo no berço, como sede em forma humana.

Ela sussurrou outra vez: “Shhh… não a acordes… só quero vê-la…”
Era a jovem, Leonor, sobrinha dos antigos donos. Perdera o bebé no final da gravidez, entrara em depressão e, de algum modo, regressara àquela casa. Durante quase um mês, vivera nas paredes, agarrada ao som da respiração de uma criança como último laE, enquanto o sol nascia, Carvão deitou-se ao lado do berço de Inês, os olhos semicerrados, como se soubesse que, desta vez, o silêncio da madrugada traria apenas paz.

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