Thriller psicológico de cortar a respiração com reviravoltas inesperadas, Lisboa estava silenciosa naquela noite. O ar estava pesado com névoa a flutuar sobre o Rio Tejo. Os lampiões lançavam círculos de luz sobre os paralelepípedos molhados. Dentro de um apartamento escuro no Bairro Alto, Sofia Ribeiro estava sentada à sua secretária, olhando fixamente para o seu computador portátil. As mãos tremiam.
O email que acabara de ler não era como os outros. Era uma única frase: “Você não está segura. A verdade está dentro de si.”
Não havia remetente. Nem explicação. Mas Sofia sabia que era real. Há meses perseguia sombras. Cada passo na sua investigação levava-a a este ponto — a um lugar que não queria alcançar.
A Memória
Sofia era psicóloga, mas a sua especialidade era invulgar: recuperação de memórias. As pessoas vinham a ela à procura de respostas para coisas que não conseguiam recordar. Mas, ultimamente, começara a receber pacientes com memórias fragmentadas — memórias de acontecimentos que nunca tinham vivido.
Tentou ignorar. Até receber a sua própria mensagem.
A sua memória estava confusa. Lembrava-se de estar num local subterrâneo, ouvir vozes, e depois acordar no seu apartamento com hematomas que não conseguia explicar. Não se lembrava de como chegara ali.
Agora, na sua caixa de entrada, havia outra mensagem: coordenadas. Desta vez, a localização era Sintra, um lugar que conhecia bem desde a infância. Mas Sintra guardava memórias dolorosas — memórias que ela própria tinha enterrado.
Em Direção a Sintra
Sofia conduziu em direção a Sintra durante a noite, a chuva lavando o para-brisas. Os seus pensamentos corriam descontrolados. Porque a estavam a atrair para lá? As coordenadas levavam-na a uma antiga mansão abandonada na beira da floresta. O portão rangia ao toque da sua mão.
Lá dentro, o ar estava frio e imóvel. A tinta descascava-se das paredes, e o pó cobria todas as superfícies. Ao explorar, Sofia encontrou uma sala trancada. A chave estava presa ao seu pulso — algo de que não se lembrava de ter feito.
Dentro da sala havia um pequeno gravador. Ela carregou no botão de reprodução. Uma voz masculina falou suavemente: “Sofia, precisa de se lembrar. A mente esconde verdades que podem destruir a realidade.”
De repente, passos ecoaram atrás dela.
A Primeira Reviravolta
Virou-se, mas não havia ninguém. No chão, um envelope negro. Dentro: uma fotografia sua, tirada na mansão, mas com um homem que não conhecia. No verso estava escrito: “Ele está a observar.”
O medo apoderou-se dela. Recuou da mansão, mas o caminho parecia errado. As árvores estavam diferentes. O ar estava mais pesado. Percebeu que estava perdida.
Então ouviu-o — uma voz a sussurrar o seu nome. Era suave, mas vinha de todos os lados e de nenhum.
O seu telefone tocou. Era um número desconhecido.
“Sofia,” disse a voz. “Precisa de parar de procurar. Não é quem pensa ser.”
A linha caiu.
A Espiral
Na manhã seguinte, Sofia acordou no seu quarto de hotel em Lisboa. A mansão e a floresta pareciam um sonho. Mas o seu telefone continha novas gravações — vídeo da mansão, mostrando-a a entrar e a sair, embora ela não tivesse memória disso.
Percebeu que estava a ser manipulada. Alguém controlava as suas memórias. Mas quem?
Foi procurar ajuda junto do seu colega, Dr. Miguel Cardoso. Ele analisou os seus ficheiros. O rosto dele ficou pálido.
“Sofia,” disse baixinho. “Você fazia parte de algo… experimental. Um projeto do governo para testar manipulação de memórias. Mas foi encerrado há anos. Apagaram todos os registos.”
“Porquê eu?” perguntou ela.
Miguel hesitou. “Porque você se lembrou. E eles não podem correr esse risco.”
A Segunda Reviravolta
Naquela noite, Sofia regressou à mansão, atraída por uma força que não conseguia explicar. Lá dentro, encontrou um porão escondido. As paredes estavam forradas de espelhos. Num deles, viu-se — mas não como era agora. Viu-se amarrada a uma cadeira, com os olhos arregalados de medo.
A imagem moveu-se. Falou: “Precisa de acordar.”
Um pânico súbito apoderou-se dela. Os espelhos distorciam o seu reflexo. Sofia tropeçou para trás e bateu com a cabeça.
Quando acordou, estava numa sala branca. Dois homens de fato observavam-na.
“Não pode confiar na sua mente,” disse um. “A verdade é perigosa.”
Sofia percebeu que a verdade que procurava não era apenas sobre a mansão ou as mensagens. Era sobre a sua própria identidade.
A Reviravolta Final
Com a ajuda deles — ou talvez manipulação — Sofia escapou da sala branca e encontrou-se numa estação subterrânea em Lisboa. O ar cheirava a pedra húmida e ferrugem. O seu telefone enviou uma última mensagem: “Olhe mais fundo. As respostas estão dentro.”
Seguiu a mensagem até uma plataforma abandonada. Ali encontrou uma porta escondida atrás de grafitis. No interior havia uma pequena câmara cheia de fotografias da sua vida. Cada momento que pensava recordar estava registado ali.
No centro estava um homem. O seu rosto era familiar. Era o seu próprio.
“Sou você,” disse ele. “O verdadeiro eu. E estive preso dentro da sua mente. Precisam de si para me encontrar.”
Sofia ficou sem forças. “Porquê?”
“Para acabar com este experimento. Para acabar connosco. Deve escolher — destruir a câmara ou deixá-los controlar a realidade.”
Ela tocou nas fotografias. A câmara tremeu. Luzes piscavam. As paredes começaram a colapsar.
O Fim ou o Começo
Quando Sofia acordou, estava no seu apartamento no Bairro Alto. A chuva batia suavemente na janela. O seu telefone estava silencioso. A sua memória estava vazia.
Na sua secretária estava um pequeno espelho. Nele, o seu reflexo sorria. Mas não era o seu próprio sorriso.
Lisboa acordou naquela manhã ignorando a tempestade que tinha passado pelas suas ruas. Em algum lugar na névoa, o seu outro eu estava preso — à espera.
O experimento não tinha terminado. Apenas começara.