Segundos antes de doar meu rim, meu neto revelou um segredo chocante sobre seu pai

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O meu filho estava a morrer e precisava do meu rim. A minha nora disse-me: “É a tua obrigação, porque és a mãe dele.” O médico já se preparava para me operar. De repente, o meu neto de nove anos entrou a correr na sala e gritou: “Avó! Digo a verdade sobre porque é que o meu pai precisa mesmo do teu rim.” Toda a equipa médica ficou gelada naquele momento.

Estou deitada na mesa fria do bloco operatório. A luz branca do candeeiro cirúrgico atinge-me diretamente nos olhos. Tão forte que eu quero fechá-los com toda a minha força. Mas não consigo. O meu corpo está rígido. Não é do frio, mas de uma sensação de sufoco. Como se o destino me estivesse a apertar o pescoço. O *bip bip* do monitor cardíaco soa num ritmo constante, mas cada batida é como um martelo na minha cabeça. Ouço cada som na sala.

O tilintar metálico dos instrumentos enquanto a enfermeira os arruma. O crepitar do papel quando o doutor Ferreira revê o meu processo. Até os sussurros suaves do outro lado do vidro, onde a minha nora, Joana, está com os pais. Tento olhar através do vidro fosco. Lá está ela, de braços cruzados, com um olhar afiado como uma faca. Sussurra algo aos pais, mas os seus olhos não se afastam de mim, como se estivesse a mandar-me: “Assina já. Não hesites.”

Já assinei o termo de consentimento para doar o meu rim ao Luís, o meu filho. Aquele papel deve estar agora em cima da secretária do doutor, com a minha assinatura trémula como um compromisso do qual não me posso arrepender. A enfermeira já tem a seringa na mão. O líquido da anestesia brilha sob a luz. Fecho os olhos. Tento respirar fundo, mas o peito pesa como se fosse de chumbo.

Penso no Luís, o meu filho mais velho, a quem criei e por quem sacrifiquei tudo. Ele está na sala ao lado, fraco, à espera do meu rim para sobreviver. Digo a mim mesma que isto é o certo. Como mãe, tenho de o fazer. Mas porque sinto este vazio na alma? Esta inquietude sem nome?

De repente, um barulho ensurdecedor faz-me estremecer. A porta do bloco operatório abre-se de repente, e uma rajada de ar frio entra, fazendo tremer a bandeja de instrumentos. A sala inteira parece conter a respiração. Abro os olhos, tentando levantar a cabeça, mas as cintas me seguram com força. O João, o meu neto de nove anos, entra como um furacão. Os ténis estão cheios de lama, o uniforme da escola está amarrotado, e o corpinho dele sobe e desce enquanto arfa.

Uma enfermeira corre atrás dele, desesperada. “Menino, não podes entrar aqui! Por amor de Deus, para!” Mas o João não para. Corre até mim, com os olhos grandes, cheios de medo mas também de determinação.

“Avó,” diz, com uma voz trémula mas clara, que me parte o coração. “Tenho de dizer a todos porque é que o meu pai precisa mesmo do teu rim.”

O silêncio cai sobre a sala. O *bip bip* do monitor ecoa mais alto, como se rasgasse o espaço. Um médico deixa cair umas pinças no chão. O som do metal contra o mármore é cortante. Olho para o João, o meu netinho, a quem ainda ontem abraçava enquanto contava histórias. Ele está ali, a apertar um telemóvel velho, com o rosto pálido mas os olhos a brilhar.

O que é que ele sabe? Porque está a dizer isto? O meu coração bate descontrolado, como se quisesse sair do peito. Quero gritar, perguntar-lhe naquele momento. Mas tenho a garganta tão seca que não consigo falar.

O doutor Ferreira franze a testa. Levanta uma mão, sinalizando ao resto da equipa para parar. “O que tens a dizer, diz agora.” A voz dele é grave, cortante. Os olhos dele movem-se de mim para o João, como se todos estivéssemos presos naquele instante surreal.

Do outro lado do vidro, Joana bate na porta com força. “Não o ouçam!” grita, com uma voz estridente, quase histérica. “É só uma criança! Ele não sabe o que diz!” Mas o olhar dela já não é frio. Está cheio de pânico, como se um segredo estivesse prestes a ser revelado.

O João não olha para a mãe. Só olha para mim, a apertar o telemóvel com tanta força que os dedos ficam brancos.

Inspira fundo, como se juntasse toda a coragem da vida dele. Quero sentar-me, abraçá-lo, dizer-lhe para não ter medo. Mas não consigo mexer-me.

Nos olhos do meu neto, vejo dor. Uma verdade que ele está a tentar trazer à luz.

E, naquele momento, enquanto a sala toda segura a respiração, as memórias do passado inundam-me como uma avalanche.

Lembro-me da minha velha casa, onde cada canto cheirava a desinfetante. Tenho 57 anos, mas às vezes sinto-me muito mais velha. Como se o tempo me tivesse roubado a vitalidade há muito.

O meu marido, o António, está numa cama há mais de dez anos. Senta-se na velha cadeira de rodas, cujas rodas rangem quando o empurro para o pátio, para ele apanhar um pouco de ar. Quase nunca fala. Às vezes, solta um suspiro, com o olhar perdido no vazio.

Uma vez, peguei-lhe na mão e perguntei: “António, estás cansado desta vida?” Ele apenas piscou os olhos, sem responder. Não sei se me entendeu ou se eu estava só a falar sozinha.

Aquela casa era o meu mundo. O lugar onde criei os meus dois filhos, o Luís e o Guilherme. Fiz tudo para os criar. Acordava de madrugada para ir ao mercado vender fruta. À tarde, sentava-me a coser roupa para os vizinhos. Às vezes, ficava acordada até à meia-noite para remendar peças rasgadas e entregá-las a tempo.

As minhas mãos ficaram ásperas e cheias de calos. As unhas tinham sempre terra dos dias a vender no mercado. Mas nunca me queixei. Só queria que o Luís e o Guilherme tivessem uma vida melhor.

O Luís, o meu filho mais velho, era o meu orgulho. Era alto, forte. Trabalhava na construção civil e voltava para casa sempre a rir. Mas nos últimos anos começou a enfraquecer. Primeiro foi só cansaço. Depois, começou a ficar pálido, com os olhos fundos. Uma vez, senti um terror impossível quando ele me disse: “Mãe, estou a urinar sangue.”

Apertei-o nos braços e perguntei: “Luís, o que se passa, filho? Diz-me.” Ele abanou a cabeça e sorriu, fraco. “Não te preocupes, mãe. Deve ser do trabalho.”

A Joana, a minha nora, entrou nas nossas vidas como um vento estranho. Era bonita, falava com doçura. No início, acreditei que era uma bênção para o Luís. Cuidava dele com esmero. Trazia-lhe medicamentos, vigiava-lhe as refeições, lembrava-o de tomar os comprimidos à hora certa.

Todos os vizinhos me elogiavam: “Que sorte, dona Teresa, ter uma nora assim!” E eu também acreditava.

Mas às vezes, surpreendia um olhar frio nela. Um olhar calculista, como se escondesse algo.

Uma vez, vi-a no pátio, a falar ao telemóvel de madrugada, com uma voz baixa mas apressO João pressionou o botão do telemóvel, e a voz da Joana ecoou na sala, clara e traiçoeira: *”Depois do transplante, os resultados dos testes vão servir para vendermos o medicamento no estrangeiro – e essa velha não vai ter coragem de recusar.”*

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