Casamento aos 25 anos parecia o final feliz que toda mulher sonhava. Mas em três anos, entendi que fora a pior decisão da minha vida.
Naquele dia, a febre passava de 40°C. O corpo tremia, a cabeça rodopiava, os membros pesados como pedra. Só queria ficar quieta e descansar. Mas quando o meu marido, Ricardo, chegou do trabalho, suas primeiras palavras foram um rosnado:
“Por que não tem arroz pronto? Por que não cozinhou?” Tentei me levantar, a voz sumida:
“Eu… estou com febre. Não consigo hoje. Só por esta noite, amanhã compenso.”
Os olhos dele incendiaram-se de raiva. “De que serve uma mulher que não faz nem um arroz?” Antes que eu reagisse, sua mão bateu em meu rosto com força de trovão.
A face ardia, as lágrimas escorriam. Não sabia se era pela dor ou pela humilhação. Tentei protestar: “Ricardo… estou muito doente…” mas ele não ligou. Entrou no quarto, bateu a porta, deixando-me trêmula no sofá.
Naquela noite, delirante, entendi a verdade: o homem que chamei de marido nunca me amou. Nunca me viu como parceira, só como criada.
Pela manhã, soube que não aguentava mais. Com mãos trêmulas mas o coração estranhamente calmo, preenchi os papéis do divórcio e assinei. Entrando na sala, disse, serena:
“Ricardo, quero o divórcio. Não vivo mais assim.”
Antes que ele reagisse, minha sogra, Dona Lurdes, saiu da cozinha aos berros:
“Divórcio? Quem você pensa que assusta? Esta casa não é lugar de sair quando bem entender!”
Apontou o dedo, gritando mais alto:
“Se sair, vai acabar pedindo esmola na rua. Ninguém vai querer uma inútil como você!”
Era outro tapa, mas desta vez não doeu. Ergui-me, olhei-a nos olhos e respondi com calma:
“Pedir esmola ainda é melhor que viver nesta casa sem dignidade. Pelo menos os mendigos são livres. Prefiro isso a ser sombra da tua família.”
O silêncio caiu. Até Ricardo, que vinha aos berros, parou diante do meu olhar. Pela primeira vez, não senti medo.
Com uma mala pequena, deixei tudo para trás. Os vizinhos cochichavam quando passei: “Coitada, mas é corajosa.”
A vida depois não foi fácil. Aluguei um quartinho, voltei a trabalhar, curei-me devagar. Mas cada manhã trazia alívio. Nada mais de tapas, nada de noites em pânico.
Um mês depois, a força e a alma voltaram. O trabalho fluía, amigos animavam, colegas apoiavam. Percebi que a felicidade não está numa casa grande, mas na paz e no respeito.
Enquanto isso, Ricardo e Dona Lurdes enfrentaram sua queda. Espalhou-se a crueldade dele, e a loja perdeu clientes. As pessoas os evitavam, cansadas da arrogância dela.
Os meses passaram, e eu me tornei mais forte, mais livre. Às vezes, lembro daquela noite febril—foi o ponto que me salvou.
Uma vez, alguém perguntou se me arrependia do divórcio. Eu ri.
“Arrependimento? Não. Só lamento não ter saído antes. Se não tivesse assinado aqueles papéis, ainda seria uma sombra. Agora sou livre, e a liberdade é o maior presente.”