Era uma noite chuvosa de inverno em Lisboa quando Duarte Mendes recebeu o telefonema que mudaria a sua vida para sempre. A chuva batia contra as janelas do seu apartamento de luxo enquanto ele verificava os relatórios trimestrais da sua empresa. Aos 35 anos, tinha transformado uma pequena start-up num império de tecnologia multimilionário. O seu iPhone tocou, mostrando um número desconhecido. Algo o fez atender.
“Por favor, senhor… ajude-nos”, soluçava uma voz infantil. “Estamos com fome e tanto frio…”
Era uma menina chamada Beatriz, de sete anos, que encontrou o telemóvel num caixote do lixo e marcou o primeiro contacto de emergência. Com ela estavam as irmãs gémeas, Carolina e Daniela, de três anos, abandonadas pela mãe num beco atrás de um Pingo Doce.
Duarte, acostumado a negociar milhões, sentiu o coração apertar. Em minutos, estava no seu Mercedes preto a caminho do local. Encontrou as três meninas encolhidas atrás de caixas de cartão, encharcadas e tremendo de frio.
“Vou ajudar-vos”, prometeu, ajoelhando-se na rua molhada, sem se importar com o fato de milhares de euros que estragava.
Levaram-nas ao Hospital de Santa Maria, onde uma enfermeira chamada Ana os recebeu com carinho. Daniela estava com princípio de pneumonia, mas o médico garantiu que ficaria bem. Duarte, que nunca imaginara ser pai, descobriu-se a aprender sobre antibióticos, fraldas e histórias para dormir.
A juíza Costa concedeu-lhe custódia temporária, mas advertiu: “Isto não é um negócio, Sr. Mendes. São crianças que precisam de amor, não só de dinheiro.”
Nos dias seguintes, a vida meticulosa de Duarte virou de pernas para o ar. Beatriz, incrivelmente inteligente para a idade, devorava livros avançados enquanto protegia as irmãs como uma mãe. Carolina não parava de fazer perguntas, e Daniela, mesmo doentinha, espalhava sorrisos por todo o apartamento.
Quando uma assistente social chamada Margarida veio avaliar a situação, Duarte já tinha convertido o escritório num quarto infantil e contratado uma pediatra. Mas foi Beatriz quem selou o destino: “O Sr. Duarte cumpre as promessas”, disse, segurando-lhe a mão com convicção.
Os testes de ADN revelaram o inesperado: as meninas eram suas sobrinhas. A mãe delas, sua irmã Filipa, desaparecida há anos depois de fugir de um homem perigoso.
A descoberta levou a polícia a Ricardo Silva, um criminoso procurado. Com a ajuda da memória prodigiosa de Beatriz, prenderam-no numa operação dramática. Filipa, gravemente ferida, foi encontrada num hospital.
“Obrigada por salvá-las”, sussurrou Filipa, reencontrando as filhas após meses de separação.
O telefone que Beatriz usara para ligar a Duarte não fora obra do acaso. Filipa programara-o para a emergência, sabendo que o irmão as protegeria.
Meses depois, numa varanda em Lisboa, Duarte olhava as três meninas a brincar, agora seguras e felizes. Filipa, em recuperação, sorria ao vê-las crescer com o amor que mereciam.
“Não foi sorte”, disse Duarte, abraçando-as. “Foi família.”