O milionário que rejeitou a empregada grávida e uma década depois só sentiu remorso

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Rodrigo Albuquerque sempre acreditou que os erros podiam ser enterrados sob dinheiro, distância e tempo — até o dia em que entrou no imponente saguão da nova sede tecnológica no centro do Porto e viu a última mulher que esperava reencontrar. De pé, confiante no centro da sala, dando ordens a uma equipa de executivos, estava Leonor Vaz, a empregada doméstica de quem se tinha apaixonado… e a mulher que abandonou quando ela lhe disse que estava grávida.

Dez anos antes, Rodrigo era um milionário de trinta anos, com todos os privilégios ao seu alcance. Leonor, então com vinte e dois, trabalhava na quinta da família: quieta, humilde e incansável. Nunca esperou que um homem rico como ele se interessasse por ela, mas Rodrigo interessou-se. Partilharam conversas noturnas na cozinha, risos doces no jardim e uma noite impulsiva que mudou tudo. Quando Leonor lhe disse que esperava um filho dele, a confiança de Rodrigo desfez-se em pedaços. O seu poderoso pai — o homem que controlava o império Albuquerque — avisou-o que “uma empregada não era digna do apelido da família”. Rodrigo, aterrorizado com a possibilidade de perder a herança e a reputação, tomou a decisão mais cobarde da sua vida: negou qualquer responsabilidade e cortou todo o contacto.

Leonor partiu sem pedir nada. Desapareceu da mansão na manhã seguinte, e Rodrigo convenceu-se de que era o melhor. Enterrou a memória num canto da mente, até ao momento em que a viu novamente.

E ali estava ela: já não era a empregada tímida com roupa usada. Vestia um fato azul-marinho sob medida, uma discreta placa dourada com o seu nome e uma autoridade serena que fazia todos na sala pararem quando falava. A Rodrigo gelou-se o sangue ao ver o logótipo da empresa atrás dela: *Vaz Inovações*.

O choque atingiu-o como uma onda: a empregada que abandonara tornara-se a diretora executiva da empresa que a sua firma tentava adquirir.

Leonor viu-o. Os seus olhos alargaram-se por uma fracção de segundo, depois tornaram-se frios e impenetráveis. De repente, Rodrigo sentiu-se pequeno, mais pequeno do que jamais se sentira na vida.

Tinha vindo negociar um acordo comercial.
Em vez disso, estava prestes a enfrentar as consequências de uma traição de dez anos atrás.

Rodrigo seguiu Leonor até à sala de reuniões envidraçada, com o coração a bater com tanta força que sentia nos ouvidos. Todos os funcionários observavam com curiosidade silenciosa: porque é que o seu diretor, sempre tão seguro, parecia tão tenso?

Leonor sentou-se à cabeceira da mesa, postura ereta e expressão profissional mas distante. «Senhor Albuquerque», começou, sem sequer o tratar pelo nome. «Faça desta reunião breve. Tenho outro compromisso em trinta minutos.»

O tom dela cortou mais do que qualquer grito.

Rodrigo anuiu, forçado. — Claro. Obrigado por me receber. A Vaz Inovações é líder em IA para dispositivos médicos, e a minha empresa acredita…

— Refere-se à empresa do seu pai — corrigiu ela, seca.

Ele encolheu-se.

O olhar dela não vacilou. — Sejamos honestos, Rodrigo. Não está aqui porque acredita na nossa missão. Está aqui porque a Albuquerque & Filhos está a ficar para trás.

Ele engoliu em seco. Ela não estava errada.

Mas os negócios não ocupavam os pensamentos de Rodrigo. Continuava a examinar o rosto dela, à procura de algum vestígio da mulher que um dia conhecera. Em vez disso, viu alguém mais forte, alguém que não lhe devia nada.

— Não sabia que tinha fundado uma empresa — murmurou.

— Não sabia nada — respondeu ela. — Não perguntou.

As palavras atingiram-no como um soco.

Ele respirou fundo. «Leonor… preciso de te dizer uma coisa. Há dez anos, eu era jovem, tinha medo e era estúpido. Tomei decisões por medo.»

Os olhos dela afinal suavizaram-se, mas apenas com desilusão. «O medo não justifica abandonar uma mulher grávida.»

A respiração falhou-lhe. — Ficaste com o bebé?

Leonor recostou-se devagar. — Sim, Rodrigo. Fiquei com o nosso bebé. Um filho. Chama-se Tomás.

O mundo dele parou.

Um filho. Uma criança cuja existência ele desconhecia. Uma criança que crescera sem ele por sua própria fraqueza. A culpa apertou-lhe o peito como um torno.

— Ele… está bem? — sussurrou.

Leonor assentiu, voz firme mas cautelosa. — É brilhante. Bondoso. Tudo o que tu não eras na idade dele.

Ele merecia aquilo.

— Leonor, por favor — a voz de Rodrigo falhou. — Deixa-me vê-lo. Deixa-me pedir desculpa. Deixa-me tentar corrigir as coisas.

Ela fitou-o durante um longo momento, pesando dez anos de dor, traição e sobrevivência.

As últimas palavras dela foram serenas mas devastadoras.

«Vou pensar, Rodrigo. Mas se aceitar… vais conhecê-lo nos meus termos. Não nos teus.»

Três dias depois, Leonor concordou em encontrar-se com Rodrigo num parque tranquilo perto de casa. Pela primeira vez em anos, Rodrigo sentiu-se verdadeiramente nervoso — não por negócios, não por dinheiro, mas pelo momento em que ficaria frente a frente com o filho que abandonara antes mesmo de nascer.

Leonor chegou com um rapaz de nove anos: pele morena, cabelo castanho-escuro, olhos curiosos e uma centelha de inteligência que fez Rodrigo engasgar-se. Tomás trazia um robot de brincar nas mãos, completamente absorto.

— Tomás — disse Leonor, docemente —, este é o senhor Albuquerque. Trabalha em tecnologia, como gostas.

O rapaz ergueu o olhar. «Olá, senhor.»

A cortesia dele partiu a compostura de Rodrigo. — Olá, Tomás. É… um prazer conhecer-te.

Sentaram-se num banco enquanto Leonor os observava à distância, cautelosa. Tomás falou entusiasmado sobre concursos de robótica, desafios da escola e como queria construir máquinas para ajudar crianças com deficiência. Quanto mais Rodrigo ouvia, mais o remorso o atormentava. Aquele era o seu filho — inteligente, bondoso, cheio de sonhos — e ele tinha perdido tudo.

A certa altura, Tomás perguntou, inocente: «A mãe disse que te conhecia. É verdade?»

O coração de Rodrigo acelerou. Olhou para Leonor, que anuiu levemente.

— Sim — disse ele, baixinho. — Há muito tempo. E cometi erros que a magoaram. Agora estou a tentar ser melhor.

Tomás assimilou aquilo com uma maturidade surpreendente. «A mãe diz que as pessoas podem mudar. Mas só se realmente tentarem.»

Os olhos de Rodrigo arderam.

Uma hora depois, Leonor aproximou-se. Viu as mãos trémulas dele, a culpa no seu rosto e a cautelosa simpatia de Tomás. Suspirou baixinho — dez anos não tinham apagado a dor, mas ver pai e filho juntos despertou nela algo inesperado: uma frágil esperança.

— O que vai acontecer agora? — perguntou Rodrigo.

Leonor estudou-o. — Queres fazer parte da vida do Tomás?

— Com tudo o que tenho — respondeu, firme.

— Então prova-o — disse ela. — Constância. Responsabilidade. Esforço. Chega de fugir.

Ele anuiu. «Não vou falhar outra vez.»

Pela primeira vez, ela acreditou — não totalmente, ainda não, mas o suficiente para dar o primeiro passo.

Tomás sorriu aos dois. «Podemos ir todos tomar um gelado?»

Leonor hesitou. Depois olhou para Rodrigo — olhou fundo — eRodrigo sorriu, os olhos úmidos, e respondeu com um simples “sim”, sabendo que aquele gelado era o primeiro passo de uma longa jornada para reparar o que um dia destruiu.

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