Hoje, recordo um momento que me marcou profundamente.
Havia um silêncio pesado naquele pequeno quarto de hospital. O menino de cinco anos, chamado Tomás Almeida, estava deitado sobre os lençóis brancos, com olhos grandes e cansados. Os médicos disseram aos pais que aquela cirurgia era a sua última esperança.
As enfermeiras preparavam-no para a anestesia quando, de repente, ele sussurrou:
— O… Zé pode vir?
— Quem é o Zé, querido? — perguntou uma das enfermeiras, surpresa.
— O meu cão. Tenho tanta saudade dele… Por favor… — Os lábios do menino tremiam.
— Sabes, meu amor, os animais não podem entrar no hospital. Estás muito fraco, compreendes? — tentou explicar.
Tomás virou o rosto, e lágrimas brilharam nos seus olhos:
— Mas eu… posso nunca mais vê-lo.
Aquela frase trespassou o coração da enfermeira. Ela trocou um olhar com as colegas e, sem saber bem porquê, concordou:
— Está bem. Mas só um minutinho.
Uma hora depois, os pais de Tomás trouxeram Zé, um cão pequeno e peludo. Assim que o viu, o animal correu para a cama, saltou e encostou-se ao dono. Pela primeira vez em semanas, o menino sorriu e abraçou-o com força.
Os médicos e enfermeiras observavam, com os olhos húmidos, a cena: a amizade entre aquele menino e o seu cão era mais forte do que a dor e o medo.
Mas, de repente, Zé ficou alerta. O pêlo eriçou-se, e ele saltou da cama, dirigindo-se a um canto da sala. Lá estava o cirurgião que iria operar Tomás. O cão latiu com tanta fúria que parecia prestes a atacar.
— Tirem este animal daqui! — gritou o homem, recuando.
As enfermeiras tentaram acalmar Zé, mas uma delas olhou fixamente para o cirurgião e percebeu. Sentiu um cheiro forte… álcool.
— Meu Deus… — murmurou a anestesista, pálida. — Estás bêbado?
Um silêncio mortal encheu a sala. Os pais ficaram brancos, as enfermeiras entreolharam-se, horrorizadas. Zé continuou a rosnar, como se protegesse o seu dono.
Minutos depois, confirmou-se: o cirurgião tinha ido trabalhar embriagado. Foi afastado imediatamente e perdeu a licença.
A cirurgia foi remarcada, e outro médico operou Tomás com sucesso.
Mais tarde, todos diziam o mesmo: Zé não era apenas um amigo leal. Tinha sido o seu anjo da guarda. Sem ele, o desfecho poderia ter sido trágico.