O dinheiro é pouco, mas quero que meus filhos vivam com virtude e paz. Não entristeçam minha alma após a partida.

5 min de leitura

Minha mãe partiu numa manhã de outono, tão suavemente como uma lamparina que se apaga devagar. Durante toda a vida, trabalhou sem descanso e não deixou fortuna, apenas uma casinha velha e alguns pertences modestos.

O funeral foi simples. Meus dois irmãos mais velhos e eu—o primogênito, o do meio, e eu—nos sentamos para decidir como dividir o pouco que restava.

Naquela pequena sala, além de um armário de madeira antigo, não havia nada de valor. Apenas três cobertores de lã desgastados, dobrados com cuidado pela minha mãe. Eu os encarei em silêncio, o coração apertado. Para mim, aqueles cobertores eram toda a minha infância. Mas o irmão mais velho zombou:

“Pra que guardar esses trapos? Melhor jogar fora.”

O do meio acrescentou:

“Pois é, não valem um tostão. Quem quiser que leve. Eu não vou carregar lixo.”

As palavras deles me cortaram fundo. Será que tinham esquecido as noites de inverno em que dormíamos todos juntos e a Mãe nos cobria com aqueles cobertores enquanto tremia no seu casaco remendado?

Apertei os lábios e disse:

“Se não os querem, eu fico com eles.”

O mais velho acenou com a mão:

“Faz o que quiseres, são só sucata.”

**O Segredo Entre os Cobertores**

No dia seguinte, levei os três cobertores para o meu pequeno apartamento. Planejava lavá-los e guardá-los como recordação. Quando sacudi um deles com força, ouvi um baque seco, como se algo tivesse caído no chão. Curvei-me, o coração acelerado. Dentro do forro rasgado, havia um pequeno saquinho de pano marrom, costurado à mão.

Com as mãos trêmulas, abri-o: dentro estavam cadernetas de poupança velhas e algumas moedas de ouro, cuidadosamente embrulhadas. O valor total ultrapassava cem mil euros. Soltei um suspiro abafado. Mamãe, que viveu toda a vida com austeridade, sem luxos, havia guardado cada tostão, escondendo sua pequena fortuna naquelas mantas velhas.

Chorei sem controle. As memórias voltaram em ondas: os dias em que vendia legumes na feira para ganhar uns trocados, as vezes que revirava a bolsa para me dar o dinheiro da escola. Eu sempre pensei que ela não tinha nada… mas, na verdade, havia guardado tudo por nós.

Ao verificar os outros dois cobertores, encontrei mais dois saquinhos. No total, quase trezentos mil euros.

**O Conflito**

A notícia não demorou a se espalhar. Meus irmãos apareceram em minha casa numa noite, os rostos fechados.

“Vais ficar com tudo?” o mais velho gritou. “Esse dinheiro é herança da mãe, porque estás a escondê-lo?”

“Não escondi,” respondi. “Ia contar no aniversário da morte dela. Mas lembrai-vos: vocês desprezaram os cobertores e queriam deitá-los fora. Se eu não os tivesse trazido, o dinheiro já não existiria.”

O do meio resmungou, irritado:

“Seja como for, é propriedade da mãe. Divide-se pelos três. Não sonhes em ficar com tudo.”

Fiquei calado. Sabia que o dinheiro devia ser dividido, mas também me lembrava de como trataram a Mãe. Nunca lhe deram nada, enquanto eu, mesmo pobre, mandava-lhe algum dinheiro todos os meses. Quando ela adoeceu, cuidei dela sozinho; eles sempre tinham desculpas. E agora…

As discussões duraram dias. O mais velho até ameaçou processar-me.

**A Última Carta**

Ao revistar os saquinhos novamente, encontrei um pequeno bilhete escondido no fundo. Era a letra trêmula da Mãe:

*”Estes três cobertores são para os meus três filhos.

Quem ainda me ama e se lembra do meu sacrifício, reconhecerá.

O dinheiro não é muito, mas quero que vivam com retidão e harmonia.

Não entristeçam a minha alma depois da vida.”*

Apertei o papel contra o peito, chorando sem parar. Ela tinha planejado tudo. Era o seu modo de nos testar.

Chamei os meus irmãos, e quando chegaram, coloquei o bilhete à frente deles. Ficaram em silêncio, os olhos baixos. A sala ficou pesada, só interrompida por soluços.

**Minha Decisão**

Disse-lhes, com calma:

“A Mãe deixou isto para os três. Não vou ficar com nada. Proponho que dividamos tudo igualmente. Mas lembrem-se: o dinheiro importa, sim, mas o que ela mais queria era que vivêssemos em paz.”

O mais velho baixou a cabeça, a voz rouca:

“Eu… errei. Só pensei no dinheiro e esqueci as palavras dela.”

O do meio, com os olhos úmidos, acrescentou:

“Ela sofreu tanto… e não chegámos a agradecer.”

Ficamos calados por muito tempo. No fim, concordámos em dividir o dinheiro em três partes igualmente. Cada um levou a sua, como lembrança da nossa mãe.

**O Destino de Cada Um**

*Meu irmão mais velho:* Era sovina, mas depois deste choque, mudou completamente. Usou o dinheiro na educação dos filhos e visita o túmulo da Mãe todos os meses, como que buscando redenção.

*Meu irmão do meio:* Sempre impulsivo, mas a carta da Mãe transformou-o. Doou parte do dinheiro aos pobres, “para lhe fazer mérito”, disse.

*Eu:* Guardei a minha parte sem gastar. Criei uma pequena bolsa de estudos na minha terra natal, em nome da minha mãe, aquela mulher que se sacrificou em silêncio a vida toda.

**Epílogo**

Os três cobertores velhos, que pareciam trapos sem valor, escondiam não só uma fortuna, mas uma lição eterna. Com seu último gesto, a Mãe ensinou-nos a resistir à ganância e a valorizar os laços familiares.

Hoje, quando o inverno chega, tiro um daqueles cobertores e cubro o meu filho com ele. Quero que ele aprenda que o verdadeiro valor da vida não está no dinheiro herdado, mas no amor, na bondade e na união.

Porque só quando nos amamos verdadeiramente é que merecemos chamar-nos filhos da nossa mãe.

Leave a Comment