O Cão Negro Rosnava para o Bebê Todas as Noites – Até que o Pai Descobriu o Terror Sob a Cama

6 min de leitura

Desde o dia em que trouxeram o bebé para casa, o cão preto chamado Bóris de repente transformou-se num guardião constante do quarto. A princípio, João e a mulher, Marta, acharam que era bom sinal: o cão protegia o bebé, vigiando a porta. Mas depois de apenas três noites, a tranquilidade deles desfez-se como um castelo de areia.

Na quarta noite, precisamente às 2h13, Bóris ficou hirto, de pêlo eriçado como espinhos, rosnando para o berço ao lado da cama. Não ladrou nem atacou, apenas soltou um rosnado arrastado e cortado, como se alguém lhe abafasse a voz das sombras.

João acendeu o candeeiro e foi acalmá-lo. O bebé dormia tranquilamente, os lábios crispados como se estivesse a mamar, sem chorar. Mas os olhos de Bóris estavam fixos debaixo da cama. Cheirou o chão, enfiou o focinho no espaço empoeirado e rosnou novamente. João ajoelhou-se, acendeu a lanterna do telemóvel e só viu algumas caixas, fraldas de reserva e uma sombra espessa como um poço sem fundo.

Na quinta noite, o mesmo às 2h13. Na sexta, Marta acordou assustada ao ouvir um arranhar lento, deliberado, como unhas a arrastar-se na madeira. “Devem ser ratos”, disse, com voz trémula. João puxou o berço para perto do armário e pôs uma ratoeira. Mesmo assim, Bóris olhava fixamente para a estrutura da cama, soltando rosnados curtos sempre que o bebé se mexia.

Na sétima noite, João decidiu não dormir. Sentou-se na cama no escuro, só com a luz do corredor a projectar um fio dourado no quarto. O telemóvel estava pronto para gravar.

Às 1h58, uma rajada sacudiu a janela entreaberta, trazendo o cheiro húmido do jardim.
2h10, a casa parecia oca, sem alma.
2h13, Bóris levantou-se de um salto, não a rosnar logo, mas a olhar para João, esfregando o focinho na mão dele, suplicando com os olhos. Depois rastejou, como se estivesse a caçar, e apontou o focinho para debaixo da cama. O seu rosnado explodiu, profundo, arrastado, como se impedisse algo de sair.

João apontou a luz do telemóvel. Naquele breve clarão, viu movimento. Não era um rato. Uma mão, pálida e esverdeada, suja de terra, moveu-se como uma aranha. A luz tremeluziu quando a mão dele tremeu. João tropeçou para trás, batendo no armário. Marta sentou-se, a fazer perguntas em pânico. O bebé continuava a dormir, os lábios húmidos de leite.

João agarrou o filho, escondeu-o atrás das costas e pegou num taco de basebol velho. Bóris atirou-se para debaixo da cama, os rosnados transformaram-se em latidos furiosos, as unhas a arranhar o chão. Da escuridão veio um som de arranhar gelado, depois silêncio. As luzes cintilaram. Algo retirou-se para dentro, rápido, deixando um rasto de pó negro.

Marta soluçou, pedindo para chamar a polícia. As mãos trémulas de João discaram. Em dez minutos, chegaram dois agentes. Um ajoelhou-se, iluminou com a lanterna enquanto afastava caixas. Bóris bloqueou o berço, mostrando os dentes. “Calma”, disse o agente. “Deixa-me ver…” Debaixo da cama estava vazio. Só pó revolvido, marcas de garras nos soalhos.

A lanterna do agente parou numa fenda na parede perto da cabeceira: a madeira tinha sido cortada o suficiente para uma mão passar. Bateu, o som era oco. “Está podre. A casa foi remodelada?”

João negou. Nesse momento, o bebé choramingou. Os olhos de Bóris brilharam; virou a cabeça para a fenda e rosnou. Da escuridão, veio um sussurro rouco, humano: “Shhh… não o acordes…”

Ninguém na casa dormiu depois daquele sussurro.

O agente mais novo, Duarte, pediu reforços. Enquanto esperava, arrancou o rodapé de madeira. Estranhamente, os pregos eram novos, brilhantes contra a madeira envelhecida. “Alguém mexeu aqui há um ou dois meses”, disse. A garganta de João ficou seca. Ele comprara a casa a um casal de idosos três meses antes. Tinham dito que só pintaram a sala e arranjaram o telhado.

Com um pé-de-cabra, Duarte arrancou a madeira. Atrás havia um vazio, negro como uma gruta. O cheiro húmido misturava-se com outro: leite azedo e talco. Bóris puxou João para trás, rosnando. Marta agarrou o bebé, o coração aos pulos. Duarte apontou a luz para dentro.

“Alguém aí?” Silêncio. Mas quando o feixe cruzou, todos viram: artigos de bebé (uma chupeta, uma colher de plástico, um pano amarrotado) e dezenas de riscos na madeira, entrelaçados como uma teia.

Quando a equipa de apoio chegou, meteu uma câmara pequena e puxou um pano sujo. Dentro, havia um caderno gasto com letra trémula feminina:
“Dia 1: Durmo aqui. Ouço a respiração dele.”
“Dia 7: O cão sabe. Faz guarda, mas não morde.”
“Dia 19: Tenho de estar calada. Só quero tocar-lhe na face, ouvir o choro mais perto. Não acordes ninguém.”

As entradas eram curtas, frenéticas, como escritas no escuro.

“Quem vivia aqui antes?”, perguntou um agente. João lembrava-se vagamente: na escritura, o casal de idosos estava com uma jovem. Ela mantivera a cabeça baixa, o cabelo a tapar metade do rosto. A idosa dissera: “Ela é tímida, não fala muito.” Na altura, não deram importância.

A câmara revelou mais: a cavidade corria ao longo da parede, formando um túnel estreito. Num canto, havia um ninho improvisado: manta fina, fronha, latas de leite vazias. No chão, um risco novo: “Dia 27: 2h13. Respira mais forte.”

2h13: a hora em que o bebé costumava acordar para mamar. De algum modo, a rotina do filho tinha sido observada… de dentro das paredes.

“Não é um fantasma”, disse Duarte, sombrio. “É uma pessoa.” Investigando mais, encontraram janelas com ferrolhos partidos e marcas sujas no telhado. Alguém tinha entrado e saído até há pouco.

Ao amanhecer, Duarte aconselhou: “Fechem o quarto esta noite. Deixem o cão lá dentro com um de nós. Vamos ver se ela volta.”

Naquela noite, às 2h13, o pano a tapar a fenda moveu-se. Uma mão fina, suja de terra, apareceu. Depois, um rosto macilento: olhos fundos, cabelo emaranhado, lábios gretados. Mas o que mais chamou a atenção foi o olhar fixo no berço, como sede em forma humana.

Ela sussurrou novamente: “Shhh… não o acordes… Só quero vê-lo…”

Era a jovem, Inês, sobrinha dos antigos donos. Perdera o bebé no final da gravEla perdera o bebé no final da gravidez, mergulhara numa profunda depressão e, de algum modo, voltara para aquela casa, apegando-se ao som da respiração de uma criança como se fosse o último fio que a ligava à realidade, até que, finalmente, os agentes a levaram para um lugar onde pudesse receber ajuda, e João e Marta nunca mais deixaram Bóris sair do lado do berço, sabendo que, por vezes, os monstros não são monstros, apenas almas perdidas precisando de um pouco de luz.

Leave a Comment