O bebê do milionário não comia nada até que a empregada humilde cozinhou isto. “Senhor Almeida, se seu filho não comer nas próximas 24 horas, teremos que hospitalizá-lo e alimentá-lo por sonda.” As palavras do Dr. Silva ecoaram como uma sentença de morte nos ouvidos de Eduardo Almeida.
O homem mais poderoso da indústria hoteleira em Portugal, dono de uma fortuna avaliada em mais de 30 milhões de euros, se encontrava completamente impotente diante da recusa do seu bebê de 18 meses em aceitar qualquer alimento. Eduardo observava através do vidro do quarto infantil enquanto o pequeno Tomás chorava inconsolavelmente nos braços da enfermeira Margarida, a quinta especialista em nutrição infantil contratada nos últimos dois meses.
Sobre a mesinha de mogno importado repousavam intactos os purés orgânicos trazidos da França, as papinhas preparadas pelo chef do restaurante mais exclusivo do Chiado e até as mamadeiras com as fórmulas mais caras do mercado. Nada. A criança recusava tudo. Já se passavam seis meses desde aquela noite chuvosa de abril quando Isabel, sua esposa, perdera a vida num trágico acidente de carro na A5. Seis meses em que a luz se apagara não apenas nos olhos de Eduardo, mas também nos do seu pequeno filho.
Tomás começara a recusar comida gradualmente até chegar ao ponto em que seus lábios se recusavam a abrir para qualquer colher que se aproximasse. “Senhor Almeida, tentei tudo que está ao meu alcance”, disse a enfermeira Margarida ao sair do quarto com o rosto pálido de frustração. “A criança simplesmente não quer comer, nem mesmo os biscoitos que normalmente encantam bebês da sua idade.”
Eduardo passou a mão pelo cabelo perfeitamente alinhado, desfazendo a ordem que sua imagem pública sempre exigia. Seus olhos castanhos, que haviam intimidado empresários em salas de reunião, agora só refletiam desespero. “Quanto ele já perdeu?”, perguntou com voz rouca. “Quase 2 kg no último mês, senhor. Seu peso está abaixo do percentil mínimo para a idade.” Se continuar assim… A enfermeira não terminou a frase. Não era necessário.
Nesse momento, o som de saltos altos ecoou pelo mármore do corredor. Aparecendo das sombras, apareceu Beatriz Almeida de Sousa, mãe de Eduardo, uma mulher de 62 anos cujo rosto fora trabalhado pelos melhores cirurgiões plásticos do Porto. Vestia um tail de cores claras e trazia no pescoço um colar de pérolas que pertencera à sua bisavó. “Eduardo, isso é ridículo”, declarou Beatriz com sua voz autoritária. “Essa criança precisa de mão firme, não dessas bobagens de enfermeiras e especialistas. No meu tempo, as crianças comiam o que lhes davam ou passavam fome.”
“Mãe, por favor, não agora”, suplicou Eduardo esfregando as têmporas onde começava a se formar uma enxaqueca. “Falo sério, filho. Você já gastou uma fortuna com todos esses experts.” E a criança continua do mesmo jeito. Sabe o que Tomás precisa? Precisa de uma mãe, uma mulher de boa família que possa criá-lo adequadamente. A Sofia Tavares tem perguntado por você. Sua família tem excelente reputação e ela adoraria ser mãe de Tomás.
“Chega, mãe.” A voz de Eduardo ecoou pelo corredor, fazendo a enfermeira Margarida se assustar. “Isabel morreu há seis meses. Seis meses e tudo que você pensa é em substituí-la como se fosse um móvel velho.” Beatriz apertou os lábios em linha fina de reprovação. “Não estou dizendo para substituí-la, Eduardo. Mas essa criança precisa de estabilidade, precisa de uma figura materna e você precisa seguir em frente com sua vida.”
“Minha vida é meu filho”, respondeu Eduardo com firmeza. “E vou encontrar um jeito de ajudá-lo, com ou sem sua aprovação.” Beatriz suspirou dramaticamente e se virou, suas pérolas brilhando sob a luz da cristaleira. “Você é teimoso como seu pai. Mas tudo bem, continue desperdiçando seu dinheiro em soluções que não funcionam. Quando essa criança estiver no hospital ligada a tubos, lembre-se que eu avisei.”
As palavras de sua mãe ficaram pairando no ar enquanto ela se afastava, o som de seus saltos desaparecendo pelo corredor. Eduardo entrou no quarto de Tomás e se aproximou do berço onde o pequeno jazia exausto de tanto chorar. Suas bochechas, antes gordinhas e rosadas, agora mostravam os ossos salientes. Seus olhos azuis, iguais aos de Isabel, o olhavam com uma tristeza que nenhum bebê deveria conhecer.
“Meu pequeno príncipe”, sussurrou Eduardo acariciando suavemente a cabeça do filho. “Por favor, coma alguma coisa, qualquer coisa. Seu pai faria qualquer coisa para vê-lo bem.” Tomás simplesmente fechou os olhos, exausto.
Do outro lado da cidade, num modesto apartamento no bairro da Amadora, Matilde Santos dobrava cuidadosamente sua única saia apresentável enquanto sua irmã mais nova, Joana, a observava do colchão que dividiam. “Tens certeza disso, Matilde?”, perguntou Joana, de 16 anos, roendo uma unha. “Dizem que os ricos são muito exigentes e tu nunca trabalhaste numa casa dessas.”
Matilde, de 28 anos, sorriu com aquela tranquilidade que só a fé e a necessidade combinadas podem dar. Seu rosto moreno mostrava os traços marcantes de sua terra natal, uma pequena vila no Alentejo, e seus olhos escuros brilhavam com determinação. “Joana, estamos há três meses em Lisboa e mal conseguimos pagar o aluguel. A mãe precisa dos remédios na aldeia e tu precisas terminar a escola. Esta oportunidade na casa dos Almeida paga o triplo do que ganhava limpando escritórios.”
“Mas dizem que a senhora Beatriz é um dragão”, insistiu Joana. “A Maria, que vende bolinhos na esquina, disse que a prima dela trabalhou lá e foi despedida em duas semanas por quebrar uma xícara.” Matilde guardou a saia na pequena mala de tecido. “Então terei cuidado para não quebrar nenhuma xícara”, respondeu com bom humor. “Além disso, precisamos desse dinheiro. Não temos o luxo de ter medo.”
Aproximou-se da prateleira onde guardavam a única fotografia que trouxera da aldeia – sua avó Amélia, com o avental florido e seu sorriso cheio de sabedoria, em frente ao pequeno fogão a lenha. “A avó sempre dizia que Deus proverá”, murmurou Matilde tocando o vidro da moldura. “E que mãos humildes podem curar mais que dinheiro. Confio nisso.”
“Oxalá tenhas razão, irmã.” No dia seguinte, ao amanhecer, Matilde pegou três autocarros diferentes para chegar às colinas de Sintra, uma das áreas mais exclusivas da região de Lisboa. Quando o táxi que tomou na última parada parou em frente à mansão Almeida, Matilde teve que conter um grito de surpresa. A residência era um palácio moderno de três andares com janelões enormes, jardins impecavelmente podados e uma fonte de pedra na entrada. As paredes eram brancas como neve e os portões de ferro forjado brilhavam sob o sol da manhã.
“Tem certeza que é aqui, menina?”, perguntou o taxista olhando para ela pelo retrovisor com evidente curiosidade. Matilde assentiu, pagou com as últimas notas que tinha e respirou fundo antes de tocar a campainha da entrada de serviço. A porta foi aberta por uma mulher robusta de uns 50 anos, com expressão séria e avental impecável.
“Matilde Santos?”, perguntou sem cerimônia. “Sim, senhora. Vim para a vaga de empregada doméstica.” “Sou a Dona Fernanda, a governanta. Chegaste atrasada.Matilde entrou na cozinha e, com as mãos trêmulas, preparou uma canja de galinha simples, usando os segredos que a avó Amélia lhe ensinara, e quando ofereceu a primeira colherada ao pequeno Tomás, o milagre aconteceu – o bebê abriu a boca e comeu, salvando não só a si mesmo mas também o coração partido do pai, provando que o amor verdadeiro e a simplicidade podem curar até as dores mais profundas.