Na festa, ninguém dançava com ele… até a garçonete falar em sua língua

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A festa realizou-se num dos locais mais exclusivos de Lisboa, na esplanada envidraçada do Hotel Marquês de Pombal, onde o céu alaranjado se fundia com as luzes citadinas. Era um casamento elegante, cheio de sorrisos forçados, fatos bem cortados e perfumes caros flutuando no ar. A orquestra tocava um fado com precisão técnica, mas sem alma.

Todos esforçavam-se para parecer felizes, todos menos um. Num canto afastado, sentado à mesa redonda, estava um homem que parecia ter sido colocado ali por engano. Tomás Almeida, português, rosto inexpressivo, fato escuro impecável, as mãos pousadas rigidamente sobre as pernas.

Não falava com ninguém, não olhava para ninguém, apenas observava em silêncio, como se o mundo ao seu redor fosse um filme mudo que já vira muitas vezes. Os convidados evitavam até cruzar o olhar com ele. Uns sussurravam abertamente. Dizem que é milionário, mas não parece. Ouvi dizer que tem fábricas de automóveis ou que comprou metade do Algarve, mas ninguém se aproximava.

Enquanto a pista de dança começava a encher-se de pessoas a mover-se desajeitadamente entre risos e copos, ele permanecia imóvel, como se não soubesse ou não quisesse fazer parte daquilo. Não entendia uma palavra do que diziam, mas entendia os gestos, os risos contidos, os olhares desviados.

O desconforto não precisa de tradução. Entretanto, entre bandejas e copos vazios, Leonor movia-se ágil pelo salão, evitando conversas que não lhe pertenciam. Tinha 24 anos, olhos atentos e uma expressão que tentava manter neutra, embora os seus pensamentos raramente se calassLeonor aproximou-se dele com um copo de água fresca e, ao ouvir o seu “obrigado” em português arranhado, respondeu em japonês, revelando um mundo que nenhum dos dois pensara encontrar naquela noite solitária.

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