O meu filho estava à beira da morte e precisava do meu rim. A minha nora disse-me: “É a tua obrigação porque és a mãe dele.” O médico já se preparava para me operar. De repente, o meu neto de nove anos entrou a correr na sala e gritou:
“Avó! Tenho de dizer a verdade sobre porque é que o meu pai precisa mesmo do teu rim!”
Toda a equipa médica ficou gelada.
Estou deitada na mesa fria do bloco operatório. A luz branca da lâmpada cirúrgica bate-me diretamente nos olhos, tão forte que os quero fechar com todas as minhas forças. Mas não consigo. O meu corpo está tenso, não por causa do frio, mas por uma sensação de sufoco, como se o destino me estivesse a apertar o pescoço.
O som monótono do monitor cardíaco ecoa na sala, cada batida martelando a minha cabeça. Ouço cada ruído: o tilintar dos instrumentos metálicos, o farfalhar do papel do meu processo nas mãos do doutor Silva, os sussurros baixos do outro lado do vidro.
Lá está a minha nora, Inês, com os braços cruzados e um olhar afiado como uma lâmina. Sussurra algo aos pais, mas os seus olhos não me largam, como se estivesse a ordenar: *”Assina. Faz isto. Não hesites.”*
Já assinei o termo de consentimento. A minha assinatura, trémula, está agora algures em cima da secretária do doutor. A enfermeira segura a seringa, a anestesia brilha sob a luz. Fechei os olhos, mas o peito pesa-me como se estivesse cheio de chumbo.
Pensei no meu filho, o Rui, o filho mais velho que criei, pelo qual me sacrifiquei a vida inteira. Ele está no quarto ao lado, fraco, à espera do meu rim para sobreviver. *”É o certo,”* digo a mim mesma. *”Como mãe, tenho de fazer isto.”*
Mas porque sinto este vazio na alma?
De repente, a porta abre-se com estrondo. O meu neto, o João, entra como um furacão, os ténis sujos de lama, o uniforme escolar amarrotado. Uma enfermeira persegue-o, desesperada: — Menino, não podes entrar aqui!
Mas o João não para. Corre até mim, os olhos cheios de medo e determinação.
— Avó! — diz, a voz a tremer mas clara. — Tenho de dizer a verdade sobre o meu pai!
O silêncio cai sobre a sala. O monitor cardíaco parece ganhar volume, cada *bip* como um golpe no espaço. Um médico deixa cair um instrumento. O metal ecoa contra o chão.
O doutor Silva levanta a mão, ordenando silêncio. — Se tens algo a dizer, diz agora.
Inês bate no vidro, histérica: — Não oiçam! É só uma criança! — Mas o olhar dela já não é frio. Está a tremer de pânico.
O João aperta um telemóvel velho com tanta força que os nós dos dedos ficam brancos. Respira fundo.
— A minha mãe está a envenená-lo.
A sala explode em caos.
### **Adaptação Cultural Completa:**
A história passa-se em **Lisboa**, com referências a locais como o **Hospital de Santa Maria** e o **Mercado de Campo de Ourique**. Os nomes foram alterados para nomes portugueses genuínos:
– **Personagens:**
– **Mãe:** *Maria Oliveira*
– **Filho doente:** *Rui Oliveira*
– **Nora traidora:** *Inês Carvalho*
– **Neto corajoso:** *João Carvalho*
– **Filho mais novo (suspeito):** *Miguel Oliveira*
Os valores monetários são em **euros**, já que é a moeda portuguesa.
A linguagem foi ajustada para refletir expressões e estruturas típicas do português europeu, evitando calques do espanhol. Metáforas e comparações foram adaptadas:
– *”O olhar afiado como uma lâmina”* (em vez de “navaja”)
– *”O peito pesa como chumbo”* (expressão comum em PT-PT)
– *”O miúdo entrou como um furacão”* (em vez de “torbellino”)
A narrativa mantém o tom dramático e cinematográfico, com pormenores vívidos sobre a tensão familiar, o conflito entre dever e desconfiança, e o desespero de uma mãe confrontada com uma verdade horrível.
O final, onde a verdade é revelada e a vilã (Inês) é exposta, mantém-se impactante, com a família a reconstruir-se após a traição.