Tinha uma Mãe Catadora de Lixo — Durante Doze Anos os Meus Colegas Me Evitavam, Até Que no Dia da Formatura, Uma Única Frase Minha Fez Toda a Escola Chorar
Durante doze anos de escola, o apelido “filha da catadora de lixo” foi como uma cicatriz impossível de apagar para Mariana, uma menina do bairro da Mouraria, em Lisboa, que cresceu sem pai.
O pai morreu antes de ela nascer, deixando-a com uma mãe magra, de mãos calejadas e cheirando a suor e poeira: Dona Isabel, uma mulher que recolhia lixo nas ruas e nos contentores da cidade para sustentar a filha.
No primeiro dia do primeiro ano, Mariana levou uma mochila velha, costurada pela mãe. O uniforme estava desbotado e remendado nos joelhos, e os sapatos eram de plástico, rachados de tanto uso.
Mal entrou na sala, começaram os murmúrios e as risadinhas de alguns colegas:
— “Essa não é a filha da mulher do lixo?”
— “Cheira a lixeira.”  
No recreio, enquanto os outros comiam sanduíches e bolos, Mariana sentava-se sozinha debaixo da árvore do pátio, comendo devagar um pedaço de pão sem nada.
Uma vez, um colega empurrou-a, e o pão caiu no chão. Mas, em vez de se zangar, ela apanhou-o, limpou-o com a mão e comeu-o outra vez, segurando as lágrimas.
Os professores sentiam pena, mas pouco podiam fazer. Assim, todos os dias, Mariana caminhava para casa com o coração pesado, mas com a promessa da mãe ecoando na mente:
“Estuda, filha. Para não teres de viver como eu.”
No secundário, tudo ficou mais difícil. Enquanto os colegas traziam telemóveis novos e ténis de marca, ela continuava com o mesmo uniforme remendado e a mochila cosida com linha vermelha e branca.
Depois das aulas, não saía com amigos; em vez disso, voltava para casa para ajudar a mãe a separar garrafas e latas, vendendo-as no depósito antes do anoitecer.
As mãos dela muitas vezes estavam cheias de feridas e os dedos inchados, mas nunca se queixava.
Um dia, enquanto estendiam plásticos ao sol atrás da pequena casa, a mãe sorriu e disse:
“Mariana, um dia estarás num palco, e eu aplaudirei com orgulho, mesmo coberta de pó.”  
Ela não respondeu. Apenas escondeu as lágrimas.
Na universidade, Mariana deu explicações para ajudar nas despesas. Todas as noites, depois das aulas, passava pelo bairro onde a mãe a esperava, para ajudá-la a carregar os sacos de plástico.
Enquanto os outros dormiam, ela estudava à luz de uma vela, com o vento a entrar pela pequena janela da sua casa.
Doze anos de sacrifício.
Doze anos de troças e silêncio.  
Até que chegou o dia da formatura.
Mariana foi nomeada “Melhor Aluna do Ano” por toda a escola.  
Vestia o velho fato branco arranjado por Dona Isabel. Na última fila do auditório, a mãe estava sentada — suja, com graça nos braços, mas com um sorriso cheio de orgulho.
Quando chamaram Mariana ao palco, todos aplaudiram. Mas, ao pegar no microfone, a sala ficou em silêncio.
“Durante doze anos, chamaram-me filha da catadora de lixo,” começou, com a voz a tremer.
“Não tenho pai. E a minha mãe — aquela mulher ali atrás — criou-me com mãos habituadas à sujidade.”  
Ninguém falou.
“Quando era pequena, tinha vergonha dela. Envergonhava-me de a ver recolher garrafas à frente da escola.
Mas um dia entendi: cada garrafa, cada pedaço de plástico que a minha mãe apanhou, foi o que me permitiu entrar nas aulas todos os dias.”  
Respirou fundo.
“Mãe, perdoa-me por ter tido vergonha de ti. Obrigada por remendares a minha vida como remendavas os buracos do meu uniforme.
Prometo que, a partir de hoje, serás o meu maior orgulho. Já não terás de baixar a cabeça no lixo, mãe. Serei eu quem a levantará por nós duas.”  
O diretor não conseguiu dizer nada.
Os alunos começaram a enxugar as lágrimas.  
E, na última fila, Dona Isabel, a magra e morena catadora de lixo, tapou a boca, chorando de felicidade silenciosa.
Desde aquele dia, ninguém voltou a chamá-la “filha da catadora de lixo.”
Agora, ela é a inspiração de toda a escola.
Os mesmos colegas que a evitavam aproximaram-se um a um para pedir perdão e serem seus amigos.  
Mas todas as manhãs, antes de ir para a universidade, ainda se pode vê-la debaixo da árvore do pátio, a ler um livro, a comer pão e a sorrir.
Porque, para a Mariana, não importa quantas honras receba, o prémio mais valioso não é um diploma nem uma medalha — mas o sorriso da mãe que um dia lhe deu vergonha, mas que nunca, nunca se envergonhou dela.