**Diário de Teresa Sousa**
Meu filho mais novo, que é piloto de aviação, ligou-me. “Mãe, há algo estranho. Minha cunhada está aí em casa?” Respondi que sim, que ela estava no banho. A voz dele baixou para um sussurro. “Impossível, porque tenho o passaporte dela nas minhas mãos. Ela acabou de embarcar no meu voo para França.” Nesse momento, ouvi passos atrás de mim.
Hoje de manhã, como em qualquer outro dia, apressei-me a lavar a louça depois do pequeno-almoço. O João, meu filho mais velho, já havia saído para o trabalho, deixando a casa em silêncio. O meu neto, o pequeno Duarte, um diabinho de sete anos, também já tinha partido para a escola no transporte escolar. E a Leonor, minha nora, esposa do João, subira as escadas momentos antes. A sua voz suave chegou até mim: “Mãe, vou tomar banho rapidinho.” Assenti com a cabeça, sorrindo.
Mal terminei de arrumar o último prato, o telefone fixo tocou. Sequei as mãos no avental e corri para atender. A voz jovial e alegre do Afonso, meu filho mais novo, encheu a linha. “Mãe, só liguei para dar um olá. Tenho um tempinho livre durante uma escala no aeroporto.” Ouvir a voz dele foi como um abraço para o meu coração. O Afonso é o meu orgulho, um jovem copiloto que vive o sonho de conquistar os céus desde criança.
Contei-lhe coisas do dia-a-dia, mas de repente o tom dele mudou. “Mãe, aconteceu algo muito estranho. A Leonor está aí em casa?” Estranhei e olhei para as escadas, de onde ainda vinha o som da água a correr no banheiro. “Claro, filho, a Leonor está a tomar banho.” Havia falado com ela há menos de dez minutos. Como poderia estar enganada?
Mas do outro lado da linha, o Afonso ficou em silêncio por um longo momento. Depois, a voz dele ficou séria. “Mãe, é impossível. Tenho o passaporte dela aqui. Ela acabou de embarcar no meu voo para França.” Ri-me, achando que era engano, mas ele não brincou. Contou-me que, após todos os passageiros embarcarem, encontrou um passaporte caído perto do portão de embarque. Quando o abriu, viu a foto da Leonor.
O meu coração bateu mais rápido, mas tentei manter a calma. “Tens certeza, Afonso? Pode ser de outra pessoa.” Ele suspirou. “Mãe, desci à cabine dos passageiros e vi-a sentada na primeira classe, ao lado de um homem rico e elegante. Estavam a conversar como se fossem um casal.”
As palavras dele cortaram-me como uma faca. Como era possível? A Leonor estava em casa, eu tinha acabado de ouvi-la. Mas, nesse exato momento, a água do banho parou. A porta abriu-se, e a voz dela desceu pelas escadas. “Mãe, com quem estás a falar?” Entrei em pânico e menti, dizendo que era uma amiga.
Fechei a porta da sala e sussurrei ao telefone. “Afonso, acabo de ouvir a Leonor. Ela está aqui.” Do outro lado, ele respondeu com firmeza: “Mãe, é impossível. Estou a vê-la claramente no avião.” Desliguei o telefone com as mãos a tremer. Se a Leonor estava no avião, quem era a pessoa na minha casa?
Minutos depois, a Leonor desceu à cozinha, vestida com um vestido azul-claro, o cabelo ainda húmido. Sorria como sempre. “Mãe, hoje vou ao mercado mais cedo. Quer que traga alguma coisa?” A voz dela era amável, mas dentro de mim uma tempestade se formava.
O resto do dia foi uma confusão. Notava pequenos detalhes: um dia, a Leonor escrevia com a mão direita; no outro, com a esquerda. Às vezes era carinhosa com o Duarte; outras, fria e distante. Até os vizinhos comentavam que ela parecia diferente.
Decidi seguir a Leonor. Numa tarde, em vez de ir ao mercado, ela virou para um beco atrás do bairro operário. Escondi-me e vi-a entrar numa casa velha. Corri para casa, mas quando cheguei, a Leonor já estava na cozinha, vestida de forma diferente.
Nos dias seguintes, descobri a verdade. A Leonor tinha uma gémea, a Isaura, que ela usava para se fazer passar por si quando estava longe com o seu amante. Quando finalmente enfrentámos a Leonor, a verdade veio à tona. Ela admitiu tudo com frieza e partiu, deixando o João e o Duarte destroçados.
Mas a história não acabou mal. A Isaura, que fora enganada pela irmã, mostrou ter um coração de ouro. Aos poucos, tornou-se parte da nossa família. Cuidava do Duarte como uma mãe, e o João reencontrou a felicidade ao seu lado.
Hoje, olho para a nossa vida e vejo que a verdade, por mais dolorosa, nos libertou. A nossa família está mais forte do que nunca. E, no fim, aprendi que nem sempre as coisas são o que parecem. Mas, se confiarmos no nosso instinto, a verdade acaba por vir à tona.