Menina chama a polícia, mas o que encontraram em casa deixou todos sem palavras

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Era no meio da noite na cidade de Vilar do Monte. Dentro da esquadra mal iluminada, o Sargento Eduardo Marques estava sozinho à mesa da receção, lutando para se manter acordado. A luz fluorescente sobre a sua cabeça zumbia baixinho, e o único som na sala era o ruído abafado de um computador antigo. Ele olhou para o relógio na parede. Os ponteiros marcavam quase três horas. Era sempre a hora mais difícil, quando o silêncio parecia pesar mais do que o normal, como se o mundo inteiro tivesse parado de respirar.

Eduardo esfregou os olhos e suspirou. Nenhuma chamada tinha entrado desde o início do seu turno. Recostou-se na cadeira, ponderando se devia servir-se de mais um café passado e frio. Foi então que o telefone tocou, o som agudo cortando a quietude como uma faca.

Ele atendeu automaticamente. “Esquadra de Vilar do Monte, fala o Sargento Marques. Em que posso ajudar?”

Por um instante, ouviu apenas o ruído da linha. Depois, veio uma voz frágil, hesitante e trémula. “Está ali?”

Eduardo franziu a testa. Era uma criança, talvez não tivesse mais do que seis ou sete anos. O seu tom suavizou-se de imediato. “Olá, querida. Porque estás a ligar para a polícia a esta hora? Onde estão os teus pais?”

Houve uma pausa, e depois a menina sussurrou: “Estão no quarto.”

“Podes passar a tua mãe ou o teu pai ao telefone?”, perguntou Eduardo, com delicadeza.

Um longo silêncio seguiu-se. Então, a voz da menina voltou, ainda mais baixa. “Não posso.”

Eduardo endireitou-se na cadeira, um desconforto a crescer-lhe no peito. “Diz-me o que aconteceu. Só ligas para nós se for algo importante.”

“É importante”, disse ela, e ele ouviu o esforço para não chorar. “Fui acordá-los, mas não mexem. Não me respondem.”

O cansaço que lhe turvava os pensamentos dissipou-se num instante. Os seus instintos gritavam que aquela chamada não era normal.

Manteve a voz calma, por ela. “Talvez estejam apenas a dormir profundamente. É muito tarde.”

“Não”, sussurrou a menina. “Abanei-os. Eles acordam sempre, mas desta vez não.”

Eduardo tapou o auscultador com a mão e fez sinal ao Agente Silva, que cochilava num canto, para preparar a viatura. Depois, voltou ao telefone. “Há mais algum adulto contigo? Avós, ou uma babysitter?”

“Não. Só eu e eles”, respondeu ela.

“Está bem. Preciso que me digas a tua morada para irmos ver se está tudo bem.”

Ela ditou-a devagar, tropeçando nos números. Eduardo anotou rapidamente, reconhecendo o bairro: casas antigas nos arredores da cidade. Manteve o tom sereno. “Fizeste muito bem em ligar. Agora ouve com atenção: fica no teu quarto até chegarmos. Não saias. Consegues fazer isso?”

“Sim”, murmurou ela.

Dez minutos depois, a viatura parou em frente a uma casa modesta de dois andares, com a tinta branca a descascar. A luz do alpendre brilhava fracamente. Para surpresa de Eduardo, a porta da frente abriu-se antes de baterem. Uma menina de camisa de noite estava ali, os olhos arregalados e cheios de medo.

“Eles estão lá em cima”, disse ela, simplesmente, apontando para o corredor.

Eduardo e Silva trocaram um olhar rápido e seguiram-na. Quando entraram no quarto dos pais, um arrepio percorreu o ambiente. Um homem e uma mulher estavam deitados lado a lado, pálidos, imóveis. Sem sinais de luta, sem feridas visíveis—apenas um silêncio arrepiante.

“Meu Deus”, Silva murmurou baixinho.

Eduardo chamou imediatamente uma ambulância e a equipa de investigação. A cena era perturbadora, mas não parecia um crime. Havia algo mais errado.

Quando a equipa de emergência chegou, descobriu rapidamente a causa. Uma fuga de gás do sistema de aquecimento antigo tinha enchido a casa silenciosamente durante a noite. Os pais nunca acordaram, sufocados enquanto dormiam.

A sobrevivência da menina foi um milagre. O seu quarto, no andar de cima, estava ligeiramente afastado da maior concentração de gás. Mais importante, ela tinha o hábito de deixar a janela entreaberta. Aquele pequeno fluxo de ar fresco salvara-lhe a vida, embora os médicos mais tarde confirmassem que inalara fumos suficientes para ficar gravemente doente. Foi levada para o hospital, mas estabilizou em horas.

Eduardo relembrou a chamada vezes sem conta nos dias seguintes. Se a tivesse ignorado como uma brincadeira, ou assumido que era apenas o medo de uma criança, a menina talvez não tivesse sobrevivido até à manhã. A sua decisão de ouvir, de levar as suas palavras a sério, dera-lhe uma chance à vida.

Nos momentos calmos após o caso ser encerrado, Eduardo revivia a voz dela ao telefone. Frágil, insegura, mas corajosa o suficiente para alcançar ajuda na escuridão. E porque ela o fez, e porque alguém atendeu, a esperança permaneceu onde a tragédia quase levou tudo.

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