Naquela tarde, a chuva caía torrencialmente sobre a estrada quase deserta. Conduzia pela autoestrada quando algo me chamou a atenção. À beira do asfalto, uma pastor alemã encharcada, magra, com os olhos cheios de desespero, ladrava freneticamente e olhava fixamente para o chão.
No início, pensei que tivesse encontrado comida ou algo do género. Mas lutar com tanto afinco por comida naquela tempestade? Improvável. Parei o carro e saí, sentindo a água gelada bater-me no rosto. Ao aproximar-me, vi: junto a um muro de betão, um filhote ferido tentava, em vão, subir. A pata dianteira estava lesionada, e ele não conseguia escapar. Quando a cadela me viu, o ladrar transformou-se num ganido suplicante, como se estivesse a pedir socorro.
Ajoelhei-me com cuidado, ergui o cachorro e levei-o para a estrada. Ambos estavam ali, encharcados, mas vivos. Respirei fundo, aliviado, e virei-me para regressar ao carro. Mas então, aconteceu algo que me gelou o sangue. 😱
A cadela e o filhote começaram a seguir-me. Mal abri a porta do condutor, a mãe colocou-se à frente do carro, bloqueando a passagem. Nos seus olhos, não havia agressão — apenas súplica. Percebi então: não queriam que eu partisse.
Abri a porta do passageiro. Num instante, os dois saltaram para dentro, como se aquilo já estivesse combinado.
Agora vivem comigo, ambos espertos e cheios de energia.
Às vezes pergunto-me: terão eles encenado aquilo à beira da estrada, só para encontrar um dono? Nunca saberei. Mas tenho a certeza de uma coisa — os cães são mais inteligentes do que pensamos.