Miguel trabalhava numa luxuosa loja de vestidos de noiva e orgulhava-se de tudo o que era extravagante. Era bastante materialista, o que muitas vezes o tornava um pouco crítico.
Numa tarde calma, uma senhora idosa chamada Beatriz entrou na loja. Estava um dia invulgarmente tranquilo — apenas Miguel e a sua colega, Catarina, estavam a trabalhar.
Beatriz definitivamente não era o tipo de cliente que a loja costumava atender. As suas roupas eram antiquadas, o penteado desalinhado — longe do que se poderia chamar de “elegante”. Mas Beatriz nunca se importara com aparências. Valorizava a beleza interior mais do que a exterior e nunca fora do tipo materialista. O seu emprego modesto raramente a motivava a visitar lojas como aquela.
Ainda assim, Beatriz decidira que, para o seu casamento no verão, ia esbanjar. Ao entrar, Miguel olhou para cima, franziu o sobrolho com desdém e voltou ao telemóvel.
“Ó pá! Acho que alguém se perdeu a caminho do jogo do bingo. Olha para aquele cabelo. Horrível”, resmungou para Catarina. “Olhe, avózinha, deixe-me facilitar as coisas, está bem?”
“Isso não é justo, Miguel”, repreendeu Catarina. “Ela é uma cliente e merece o mesmo tratamento que qualquer outra pessoa. Agora, por favor, ajude-a. Vou buscar o novo stock ao armazém.”
Miguel revirou os olhos, ignorando-a enquanto continuava a enviar mensagens. Beatriz aproximou-se com um sorriso educado, esperando ajuda, mas ele nem sequer a olhou.
“Desculpe, jovem, poderia ajudar-me, por favor?”, perguntou com doçura.
“O que é que quer?”, respondeu ele, seco, os olhos fixos no telemóvel.
“Não há necessidade de ser rude”, respondeu Beatriz, suavemente. “Só preciso de ajuda para encontrar um vestido de noiva. Vou casar este—”
“Olhe, avózinha”, interrompeu ele, suspirando com impaciência. “Deixe-me poupar tempo a ambos. A julgar pelo seu visual, já posso perceber que não pode comprar nada aqui. Há uma loja de segunda mão a duas ruas — lá terá o que procura.”
“Ah, sim? Consegue perceber tudo isso só de olhar, não é?”, disse Beatriz, com desilusão na voz.
“Não leve a mal, querida”, respondeu Miguel. “Estou a fazer-nos um favor. Não vale a pena perdermos tempo um com o outro.”
“Bom”, disse Beatriz, com calma, “se não me respeita como cliente, respeite-me pelo menos como idosa.”
“Pois, como quiser”, murmurou ele, quase sem a ouvir.
Nesse momento, outra mulher entrou — jovem, estilosa, transbordando riqueza. Miguel levantou-se num salto, com um sorriso exagerado, e dirigiu-se a ela.
“Olá! Oh, você está absolutamente deslumbrante, querida! Em que posso ajudar hoje?”, disse, entusiasmado.
Catarina regressou do armazém a tempo de reparar na expressão desanimada de Beatriz. Deixou as caixas e aproximou-se imediatamente dela.
“Olá, minha senhora! Já foi atendida?”, perguntou Catarina, calorosamente.
“Não, o seu colega parece achar que não valho o seu tempo. Poderia ajudar-me?”, disse Beatriz, olhando para Miguel, que agora ria com a nova cliente.
“Não ligue a ele”, respondeu Catarina. “Então, o que está a procura?”
“Vou casar este verão”, disse Beatriz, animada. “E quero fazer tudo em grande!”
“Parabéns! Um casamento de verão parece maravilhoso. Acho que tenho exatamente o que procura. Siga-me”, disse Catarina, levando-a até aos vestidos.
“Já ouviu o que dizem sobre suposições, não ouviu?”
Catarina escolheu alguns vestidos para Beatriz experimentar e, para sua felicidade, Beatriz apaixonou-se por um dos mais caros da loja. Enquanto isso, a jovem “influenciadora” experimentou quase oito vestidos, tirando fotos em cada um antes de passar ao seguinte.
“Desculpe, minha senhora”, disse Miguel, com os dentes apertados. “Já experimentou quase oito vestidos e tirou fotos em todos. Qual deles vai levar?”
“Hmm… na verdade, acho que não vou levar nenhum”, respondeu ela, despreocupada, tirando mais uma selfie.
“O quê?! Então nem sequer planeava comprar nada?”, exclamou Miguel.
“Relaxe”, disse ela, com uma piscadela. “Cá entre nós, só precisava de umas fotos para as redes sociais.”
“Está a brincar?”, perguntou ele, atordoado.
“Desculpa, amigo!”, cantarolou ela, entregando-lhe o vestido e saindo.
Frustrado, Miguel virou-se — e congelou. No balcão, Beatriz estava a tirar uma mala cheia de dinheiro. Pagou o vestido mais caro a pronto e deixou uma gorjeta de 5.000 euros para Catarina.
“Uhm… é uma gorjeta generosa, minha senhora”, gaguejou Miguel, repentinamente nervoso.
“Minha senhora? Há pouco era ‘avózinha'”, respondeu Beatriz, com frieza.
“Oh, não, isso foi só… brincadeira. Se eu soubesse que—”
“Se soubesse o quê?”, interrompeu Beatriz. “Que não preciso de ir a lojas de segunda mão? Já ouviu o que dizem sobre suposições, não ouviu?”
O rosto de Miguel ardia de vergonha. Beatriz virou-se para Catarina com um sorriso caloroso.
“Obrigada, Catarina. Foste maravilhosa. Vejo-te no casamento, sim?”
“Claro, Beatriz. Foi um prazer. E obrigada pelo convite”, respondeu Catarina.
Beatriz acenou com um adeus e saiu, enquanto Miguel ficou mudo, tentando compreender o que acontecera.
“Eu—eu—não entendo”, murmurou ele.
Catarina não resistiu a rir. “A Beatriz é enfermeira”, explicou. “Vai casar com um viúvo milionário que conheceu enquanto cuidava dele depois de um acidente. Ela nem sabia que ele era rico até ele ter alta.”
Miguel ficou pasmado — e profundamente envergonhado. Catarina sorriu e deu-lhe uma palmadinha no ombro.
“Leva isto como lição, Miguel”, disse. “Da próxima vez, pense duas vezes antes de tirar conclusões sobre as pessoas.”
Naquele verão, Catarina celebrou com Beatriz e o seu novo marido no casamento deles. Foi uma noite verdadeiramente inesquecível.