Tiago trabalhava numa loja luxuosa de vestidos de noiva e orgulhava-se de tudo o que fosse extravagante. Era bastante materialista, o que muitas vezes o tornava um pouco crítico demais.
Num fim de tarde tranquilo, uma senhora idosa chamada Mariana entrou na loja. O dia estava invulgarmente calmo — apenas Tiago e a sua colega, Joana, estavam a trabalhar.
Mariana não era o tipo de cliente que a loja costumava atender. As suas roupas pareciam ultrapassadas, o cabelo desalinhado — longe do que se poderia considerar “elegante.” Mas Mariana nunca se importara com aparências. Valorizava a beleza interior mais do que ostentação e nunca fora do tipo materialista. O seu emprego modesto raramente a levava a lojas como aquela.
Ainda assim, decidira que, para o seu casamento no verão, iria esbanjar um pouco. Assim que entrou, Tiago ergueu o olhar, franziu a testa com desdém e voltou ao telemóvel.
“Olha só, parece que alguém se perdeu a caminho do jogo da sueca. Olha aquele cabelo… Que desastre,” murmurou para Joana. “Ó avó, deixa-me poupar-lhe tempo, está bem?”
“Não é justo, Tiago,” respondeu Joana, firme. “Ela é uma cliente e merece o mesmo tratamento que qualquer outra. Agora, por favor, ajuda-a. Vou buscar as encomendas novas.”
Tiago revirou os olhos, ignorando-a enquanto continuava a mexer no telemóvel. Mariana aproximou-se com um sorriso educado, esperando auxílio, mas ele nem sequer olhou.
“Desculpe, jovem, poderia ajudar-me?” perguntou com gentileza.
“O que é que quer?” respondeu de forma abrupta, ainda distraído.
“Não há necessidade de ser rude,” disse Mariana, suave. “Só preciso de ajuda para escolher um vestido de noiva. Vou casar-me—”
“Olhe, avó,” interrompeu, suspirando com impaciência. “Poupe-nos os dois. A julgar pelo seu fato, já percebi que não pode pagar nada aqui. Há uma loja de segunda mão na rua ao lado — lá terá o que procura.”
“Ah, é? Concluiu isso com um só olhar?” respondeu Mariana, desapontada.
“Não leve a mal, querida,” disse Tiago. “Estou a fazer-nos um favor. Para quê perder tempo?”
“Bem,” respondeu Mariana, calma, “se não me respeita como cliente, respeite-me pelo menos como idosa.”
“Pois, claro,” murmurou ele, sem interesse.
Nesse momento, entrou outra mulher — jovem, elegante, com ar de quem tinha dinheiro. Tiago levantou-se num pulo, com um sorriso largo.
“Olá! Meu Deus, está deslumbrante! Como podemos ajudar?” exclamou, entusiasmado.
Joana voltou da arrumação a tempo de ver a expressão desanimada de Mariana. Deixou as caixas e foi logo ter com ela.
“Boa Tarde! Já a ajudaram?” perguntou Joana, afável.
“Não, o seu colega achou que eu não valia o seu tempo. Poderia ajudar-me?” respondeu Mariana, olhando para Tiago, que agora se ria com a nova cliente.
“Não ligue a ele. Então, o que procura?”
“Vou casar-me este verão,” disse Mariana, animada. “E quero algo especial.”
“Parabéns! Um casamento de verão deve ser maravilhoso. Acho que tenho exatamente o que procura. Venha comigo,” disse Joana, levando-a até aos vestidos.
Joana escolheu alguns modelos para Mariana experimentar, e para sua surpresa, ela apaixonou-se pelo vestido mais caro da loja. Enquanto isso, a cliente “influencer” experimentou quase oito vestidos, tirando fotos em cada um.
“Desculpe,” disse Tiago, forçando um sorriso. “Já experimentou oito vestidos e tirou fotos em todos. Qual vai levar?”
“Hum… na verdade, acho que não vou comprar nada,” respondeu ela, despreocupada, tirando mais uma selfie.
“O quê? Então nem planejava comprar?” exclamou Tiago, incrédulo.
“Calma,” disse ela, com um sorriso malandro. “Entre nós, só precisava das fotos para as redes sociais.”
“Está a brincar?” perguntou ele, estupefacto.
“Desculpa!” disse ela, entregando-lhe o vestido e saindo.
Frustrado, Tiago virou-se — e parou, gelado. No balcão, Mariana estava a tirar uma carteira cheia de notas. Pagou pelo vestido mais caro à vista e deixou uma gorjeta de 5.000 euros para Joana.
“Uhm… isso é uma gorjeta generosa, senhora,” balbuciou Tiago, nervoso.
“Senhora? Há pouco era ‘avó’,” respondeu Mariana, fria.
“Oh, não, foi só… uma brincadeira. Se eu soubesse que—”
“Se soubesse o quê?” interrompeu ela. “Que não preciso de ir a uma loja de segunda mão? Já ouviu o ditado sobre presumir, não ouviu?”
O rosto de Tiago ardia de vergonha. Mariana virou-se para Joana com um sorriso caloroso.
“Obrigada, Joana. Foste maravilhosa. Vemo-nos no casamento, sim?”
“Claro, Mariana. Foi um prazer. E obrigada pelo convite,” respondeu Joana.
Mariana acenou e saiu, enquanto Tiago ficou mudo, tentando perceber o que acontecera.
“Eu… eu não entendo,” murmurou.
Joana não resistiu a rir. “A Mariana é enfermeira,” explicou. “Vai casar com um viúvo milionário que conheceu quando o cuidou depois de um acidente. Ela nem sabia que ele era rico até ele ter alta.”
Tiago ficou atónito — e profundamente envergonhado. Joana sorriu e deu-lhe uma palmadinha no ombro.
“Leva isto como lição, Tiago. Da próxima, pensa duas vezes antes de julgar pelas aparências.”
Naquele verão, Joana celebrou com Mariana e o seu novo marido no casamento. Foi uma noite verdadeiramente inesquecível.
A lição é clara: nunca julgues um livro pela capa. O preconceito de Tiago em relação a Mariana, baseado apenas nas aparências, conduziu-o ao seu próprio vexame. Se a tivesse tratado com igualdade, quem sabe não teria ganho uma boa gorjeta e um convite? Trata todos com respeito, independentemente de como se apresentam — até porque as histórias por trás de cada pessoa podem ser as mais surpreendentes.