História sobrenatural sobre casa mal-assombrada

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A Casa do Monte Escuro

O início

História sobrenatural sobre casa mal-assombrada, Na encosta de uma pequena aldeia chamada São Bartolomeu, erguia-se uma casa antiga, solitária, conhecida por todos como a Casa do Monte Escuro. Era uma construção do século XIX, de janelas altas, paredes de pedra e um portão de ferro sempre enferrujado.

Os moradores da aldeia contavam histórias sobre ela. Diziam que, nas noites de lua cheia, luzes estranhas apareciam nas janelas. Outros afirmavam ouvir gritos e passos vindos do interior, apesar de a casa estar abandonada há mais de cinquenta anos.

As crianças desafiavam-se mutuamente a tocar no portão e fugir. Os adultos desviavam o olhar sempre que passavam por lá. Para todos, a Casa do Monte Escuro era mais do que uma ruína: era um lugar amaldiçoado.

O regresso de Helena

Helena, uma jovem de 27 anos, regressou à aldeia depois da morte do pai. Tinha crescido em Lisboa, mas herdara uma pequena propriedade na região e decidira passar alguns meses por lá. Gostava de ler, escrever e estar longe do barulho da cidade.

Uma tarde, enquanto caminhava pelas colinas, avistou a famosa casa. Sempre ouvira histórias de infância, mas nunca acreditara nelas. Para ela, fantasmas eram apenas invenções para assustar os mais novos.

Curiosa, aproximou-se. O portão de ferro estava entreaberto. Empurrou-o, e o som estridente ecoou pelo vale. A sensação de frio percorreu-lhe a espinha, mas avançou.

O primeiro contacto

Por dentro, a casa estava em ruínas. O chão rangia, as paredes estavam cobertas de humidade e teias de aranha pendiam do teto. Ainda assim, havia algo estranho: os móveis estavam no lugar, como se os antigos moradores tivessem saído às pressas, deixando tudo para trás.

Helena encontrou um piano antigo na sala principal. Passou os dedos pelas teclas e um som rouco ecoou. Nesse momento, ouviu passos vindos do andar de cima.

Assustou-se, mas pensou: Deve ser um animal. Subiu as escadas lentamente. O ar estava mais frio. Ao entrar num quarto, viu um espelho grande e rachado. Aproximou-se.

No reflexo, não estava sozinha. Uma mulher de vestido branco e rosto pálido olhava fixamente para ela.

Helena virou-se depressa. O quarto estava vazio. Quando voltou a olhar para o espelho, a figura já não estava lá.

Saiu da casa a correr, o coração a bater descontrolado.

As histórias da aldeia

No dia seguinte, contou o que vira a Dona Amélia, vizinha idosa da aldeia. A senhora suspirou e disse:
— Minha filha, essa casa tem um passado negro.

E revelou-lhe a lenda:

Antigamente, vivia ali uma família rica: o senhor Duarte, a esposa Beatriz e a filha pequena, Inês. Diziam que Duarte era um homem cruel, que batia na mulher e tratava mal os empregados.

Numa noite de tempestade, Beatriz foi encontrada morta no quarto, caída junto ao espelho. O marido jurou que ela enlouquecera e se suicidara. Mas muitos acreditavam que ele a matara.

Pouco depois, Duarte e a filha desapareceram sem deixar rasto. Alguns diziam que ele fugira. Outros, que forças malignas os levaram. Desde então, a casa ficou vazia.

— Quem entra lá dentro nunca sai o mesmo — concluiu Dona Amélia. — Tu viste a Beatriz. A sua alma não tem descanso.

Helena riu nervosamente, mas no fundo estava inquieta.

A obsessão

Apesar do medo, Helena não conseguia deixar de pensar na casa. Algo a puxava de volta.

Começou a sonhar com a mulher do espelho. No sonho, Beatriz estendia-lhe a mão e sussurrava:
— Ajuda-me…

Na noite seguinte, levou uma lanterna e voltou ao Monte Escuro. Caminhou até ao quarto do espelho. O ar estava pesado, quase irrespirável.

De repente, a porta fechou-se sozinha. A luz da lanterna apagou-se. E no silêncio, ouviu um sussurro ao ouvido:
— Ele matou-me.

Helena tremeu. Quando olhou para o espelho, viu Beatriz de novo. Mas desta vez, a mulher não parecia assustadora. Parecia triste, perdida.

— O que queres de mim? — perguntou Helena, com voz trémula.

A figura apontou para o chão. Helena iluminou o soalho e percebeu que uma das tábuas estava solta. Puxou-a com esforço e encontrou uma pequena caixa de madeira. Dentro, havia um diário antigo.

O diário de Beatriz

De volta a casa, Helena leu as páginas. Eram confissões da própria Beatriz.

Escrevia sobre o marido violento, sobre noites em que chorava em silêncio, sobre o medo que sentia por Inês. Na última entrada, lia-se:

“Se eu desaparecer, não foi suicídio. Duarte quer calar-me. Mas que a minha alma permaneça, até que a verdade seja revelada.”

Helena sentiu arrepios. A história era clara: Beatriz fora assassinada.

A verdade escondida

No dia seguinte, mostrou o diário a Dona Amélia. A vizinha levou-a a falar com o padre da aldeia, que confirmou que, há muitos anos, rumores de assassinato tinham circulado, mas Duarte era um homem influente e nunca fora acusado.

— Talvez o espírito dela espere justiça — disse o padre.

Helena voltou à casa mais uma vez, levando o diário. Ao entrar no quarto do espelho, sentiu novamente o frio. Levantou o caderno e disse em voz alta:
— Beatriz, a tua história foi lida. A verdade será lembrada.

Nesse instante, o espelho tremeu e rachou ainda mais. Uma figura luminosa surgiu: Beatriz, agora sorridente. Aproximou-se, tocou na mão de Helena e desapareceu numa luz suave.

O lado sombrio

Mas nem tudo terminou ali. Dias depois, Helena começou a sentir outra presença. Desta vez, não era Beatriz. Era algo mais escuro.

Certa madrugada, acordou com arranhões na porta do quarto. Ouvia passos arrastados na sua sala. Quando saiu para ver, encontrou a palavra “CULPA” escrita a carvão na parede.

Voltou ao diário e percebeu que havia páginas arrancadas. Talvez Duarte tivesse escrito algo. Talvez a sua presença ainda rondasse a casa.

No sonho seguinte, viu um homem alto, de olhos vazios, aproximar-se dela e gritar:
— A casa é minha!

Helena percebeu: libertara Beatriz, mas acordara Duarte.

O confronto final

Determinada a acabar com o tormento, Helena voltou ao Monte Escuro com o padre e Dona Amélia. Levaram água benta, velas e rezas antigas.

Quando entraram na sala principal, uma ventania abriu todas as janelas. O piano começou a tocar sozinho.

— Duarte, a tua crueldade acabou! — gritou o padre. — Não tens poder sobre este lugar!

Um vulto negro surgiu no espelho, gritando. As velas apagaram-se. Helena sentiu-se puxada para dentro do vidro, como se mãos invisíveis a arrastassem.

Com todas as forças, levantou o diário e bradou:
— A tua mentira acabou! A aldeia sabe a verdade!

O vulto soltou um grito ensurdecedor. O espelho partiu-se em mil pedaços e o silêncio voltou.

No chão, apenas um vento frio, que lentamente desapareceu.

O fim

Desde esse dia, a Casa do Monte Escuro nunca mais mostrou sinais de assombração. Alguns moradores ainda têm medo de passar por lá, mas já não se ouvem gritos nem passos.

Helena guardou o diário como prova da coragem de Beatriz.

Certa noite, voltou a olhar para o céu. Uma andorinha passou voando, e ela sentiu uma paz que há muito não sentia.

Percebeu que algumas histórias de fantasmas não são apenas medo: são pedidos de justiça.

E, no fundo, a verdadeira assombração não está nos espíritos, mas nos crimes e dores que os vivos tentam esconder.

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