História sobrenatural assustadora com final feliz

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A Casa das Sombras

O Regresso à Aldeia

História sobrenatural assustadora com final feliz, Helena tinha 19 anos e regressava à pequena aldeia de São Bartolomeu depois de um ano a estudar em Lisboa. A sua avó materna tinha falecido recentemente, e a família decidira vender a antiga casa de pedra onde ela vivera.

Era uma construção isolada, no topo de uma colina, rodeada por árvores retorcidas e com fama de ser mal-assombrada. Desde criança que Helena ouvira histórias sobre sombras estranhas nos corredores e vozes sussurradas nas noites de inverno. A avó dizia que eram apenas histórias de aldeia, mas nem ela própria dormia sozinha sem um terço na mesa de cabeceira.

Agora, cabia a Helena passar alguns dias na casa para organizar os objetos pessoais antes da venda.

— Vai ser tranquilo — disse ao pai pelo telemóvel, tentando parecer confiante. — É só arrumar caixas.

Mas, no fundo, o coração batia-lhe com ansiedade.

Primeiros Estranhos Acontecimentos

Na primeira noite, Helena acendeu a lareira e tentou concentrar-se a separar fotografias antigas. Mas, pouco depois da meia-noite, ouviu passos no corredor do andar de cima.

Parou, gelada. Estava sozinha.

— Deve ser o vento — murmurou, embora soubesse que o vento não fazia madeira ranger daquela forma.

Subiu as escadas devagar, com a lanterna do telemóvel. O corredor estava vazio, mas sentiu um arrepio quando passou diante do quarto da avó. A porta estava entreaberta, apesar de ela se lembrar de a ter fechado.

No interior, o espelho antigo que ficava sobre a cómoda tinha uma mancha escura, como se fosse fumo preso no vidro. Quando se aproximou, jurou ver uma sombra mover-se no reflexo, embora atrás dela não houvesse ninguém.

Assustada, fechou a porta e voltou para a sala.

O Diário da Avó

No dia seguinte, Helena continuou a arrumação. Dentro de uma gaveta, encontrou um diário gasto que pertencia à avó. As primeiras páginas falavam da rotina da aldeia, colheitas, festas, vizinhos. Mas, a partir de certa altura, as anotações tornaram-se perturbadoras:

“As vozes voltaram. Dizem o meu nome quando apago a luz.”

“Ontem vi uma mulher junto à janela. Quando me aproximei, desapareceu. Mas o vidro ainda tinha o vapor da respiração dela.”

“A casa não me deixa em paz. Há algo aqui preso, algo que não pertence a este mundo.”

Helena leu em silêncio, com a pele arrepiada. Talvez a avó tivesse sofrido de alucinações na velhice. Ou talvez as histórias da aldeia fossem verdadeiras.

O Espírito da Criança

Nessa noite, decidiu trancar todos os quartos e dormir no sofá da sala, junto à lareira. Pelas três da manhã, acordou com o som de uma criança a rir.

Sentou-se de repente. O riso ecoava pelo corredor, suave mas nítido. Pegou na lanterna e dirigiu-se lentamente para a escada.

No cimo, viu uma figura pequena. Parecia uma menina de uns oito anos, com cabelo comprido e vestido antigo. Estava descalça e olhava-a fixamente, sem piscar.

— Quem és tu? — perguntou Helena, com a voz a tremer.

A menina não respondeu. Apenas levantou a mão e apontou para o quarto da avó, antes de desaparecer como fumo no ar.

Helena correu para dentro do quarto. O espelho estava agora completamente negro, como se tivesse sido coberto por uma sombra sólida.

O Espelho Maldito

Helena percebeu que o espelho tinha alguma ligação ao que estava a acontecer. Decidiu investigar. Ao mover o móvel, encontrou inscrições gravadas discretamente na madeira: símbolos estranhos, quase como runas antigas.

Mostrou uma fotografia ao padre da aldeia, que conhecia desde pequena. Ele empalideceu ao ver os símbolos.

— Este espelho não devia estar aqui. Foi usado em rituais antigos. Há histórias de objetos que se tornam portais para o que não deve entrar no nosso mundo.

Helena engoliu em seco.
— Está a dizer que há… algo preso dentro do espelho?

O padre não respondeu diretamente, mas deu-lhe uma pequena cruz de metal.
— Se voltares a ver algo, lembra-te: a luz e a verdade são mais fortes do que as trevas.

A Revelação

Nessa noite, Helena sentou-se diante do espelho com a cruz na mão. O quarto estava gelado, apesar da lareira acesa no andar de baixo.

De repente, o vidro escureceu e a imagem de uma mulher surgiu: pálida, com olhos fundos e um sorriso distorcido.

— Finalmente alguém me vê — sussurrou a voz, ecoando no quarto.

Helena sentiu a pele gelar.
— Quem és tu?

— Esta casa é minha… e a tua avó tentou expulsar-me. Mas eu fiquei. A criança que viste é só um reflexo. Eu alimento-me do medo.

A figura começou a pressionar o vidro, como se tentasse sair. Rachaduras apareceram no espelho.

Helena levantou a cruz e gritou:
— Não tens lugar aqui!

Um clarão de luz encheu o quarto. A mulher gritou e desapareceu, mas o espelho ficou ainda mais negro.

O Segredo da Avó

Assustada, Helena voltou ao diário. Nas últimas páginas, a avó tinha escrito algo revelador:

“Descobri que a entidade não quer apenas assustar. Está presa ao espelho desde há gerações. Alimenta-se do medo dos moradores da casa. A única forma de a libertar é através da compaixão. Preciso de coragem para a enfrentar sem ódio, mas já não tenho forças.”

Helena percebeu então que não bastava expulsar o espírito. Era preciso libertá-lo.

A Última Noite

Na noite seguinte, preparou-se para enfrentar o espelho uma última vez. Colocou velas em círculo no quarto e segurou o diário da avó.

Quando a meia-noite soou, a sombra voltou. A mulher apareceu novamente, gritando, mais furiosa do que nunca.

— Ninguém me pode salvar! — rugiu.

Helena, em vez de recuar, deu um passo à frente.
— Não estou aqui para te destruir. Estou aqui para te ouvir. Quem és tu, de verdade?

A figura congelou. Pela primeira vez, os olhos dela pareceram humanos, cheios de dor.

— Fui Inês… há muitos anos. Vivi nesta aldeia. Morri injustamente e o meu espírito ficou preso ao espelho. Só conheci solidão e medo desde então.

Helena baixou a cruz.
— Então deixa-me ajudar-te. Não tens de ficar presa para sempre.

A Libertação

As rachaduras no espelho começaram a brilhar. A mulher chorava, a sua forma mudando de monstruosa para humana.

— Ninguém me tinha falado com bondade em tantos anos… — murmurou. — Obrigada.

Com um último clarão, o vidro partiu-se em mil pedaços, espalhando-se pelo chão. A figura de Inês transformou-se em luz e desapareceu suavemente, deixando apenas paz no quarto.

A temperatura voltou ao normal. O silêncio já não era sufocante.

Um Novo Amanhecer

Na manhã seguinte, Helena abriu as janelas da casa. Pela primeira vez, o sol entrou sem aquela sensação pesada.

Voltou à aldeia e contou ao padre o que acontecera. Ele ouviu em silêncio e, no fim, disse apenas:
— Libertaste não só a casa, mas também a memória da tua família.

Quando a família chegou para organizar a venda, todos notaram a diferença. Já não havia aquela sensação estranha, aquele frio nos corredores. Era apenas uma casa antiga, pronta para novos começos.

O Final Feliz

Meses depois, Helena voltou à colina para se despedir da casa antes da venda. Levou flores e deixou-as no quarto da avó, em memória de ambas: a mulher que a criara com amor e a alma perdida que finalmente encontrara paz.

Enquanto saía, sentiu uma brisa suave e ouviu, quase como um sussurro, uma voz feminina a dizer:
— Obrigada.

Sorriu. Já não tinha medo.

Sabia que, às vezes, os maiores terrores escondem apenas histórias de dor à espera de serem ouvidas. E que até nas casas mais escuras pode nascer a luz, se alguém tiver coragem de olhar para além do medo.

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