**Diário, 15 de Julho**
O sol ardente começava a descer, tingindo o campo alentejano em tons dourados e alaranjados.
Os turistas voltavam para o acampamento depois de um longo dia de observação da vida selvagem, quando um deles reparou num movimento estranho perto do rio.
Uma sombra enorme debatia-se na água lamacenta, e só após olhar com atenção é que o homem percebeu: era um leão.
Um predador majestoso, o rei dos animais, estava a afogar-se no rio, lutando desesperadamente para se manter à tona.
Imediatamente, ele percebeu que algo estava errado.
Os leões sabem nadar, mas este estava claramente ferido e debilitado.
E naquele momento, enquanto todos os outros ficaram paralisados pelo horror, o homem não hesitou.
Largando a mochila e a câmara, atirou-se à água.
O rio gelado recebeu-o com uma corrente forte.
Puxar o leão para a margem parecia impossível — o corpo do animal era pesado, e o pelo molhado arrastava-o para baixo.
O homem forçou cada músculo, a respiração cada vez mais ofegante.
Mas a ideia de ver aquele animal morrer diante dos seus olhos impulsionou-o.
Agarrando o leão pelo pescoço, conseguiu arrastá-lo para fora do rio.
Finalmente, com um esforço sobre-humano, levou-o para a margem. O leão jazia imóvel, o peito sem movimento.
Desesperado, o homem ajoelhou-se ao seu lado e começou a fazer massagem cardíaca.
As suas mãos batiam no peito forte mas inerte do animal, uma e outra vez.
O sangue pulsava-lhe nos ouvidos, as mãos dormentes de tanto esforço, mas ele continuou, os dentes cerrados.
Minutos angustiantes passaram.
E então — um suspiro quase impercetível.
Depois, outro.
O corpo do leão estremeceu, e os enormes olhos âmbar abriram-se lentamente.
O homem recuou.
Quando o animal, ainda cambaleante, se ergueu, o coração do homem quase saltou do peito.
Ele sabia: agora estava tudo acabado. Estava frente a frente com um predador.
O leão não distinguiria amigo de inimigo. O instinto prevaleceria.
Foi então que o animal deu um passo em frente. Depois outro.
O homem ficou imóvel, sem se atrever a respirar. E, de repente, o enorme animal baixou a cabeça e… lambeu-lhe as mãos.
Depois o rosto. A língua áspera era quente e viva. Parecia que o leão agradecia ao homem que o salvara da morte.
Olharam-se nos olhos — um homem e um animal selvagem, unidos por um momento de desespero e luta.
Então, o leão virou-se e, com passos tranquilos, desapareceu no matagal, fundindo-se na paisagem.
O homem ficou ali parado durante muito tempo, o coração ainda acelerado.
Ele sabia: naquele dia, não salvara apenas um leão. Vivera um encontro que o mudaria para sempre.