Grávidas dão azar a carros novos! Saiam daqui!” gritou o homem, batendo a porta do veículo novinho.

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A mulher, Catarina Santos, grávida de seis meses, ficou parada à beira da estrada. As mãos tremiam enquanto segurava a barriga, os olhos arregalados de incredulidade.

Era para ser uma noite feliz. O Tiago acabara de apanhar o carro novo da concessionária no centro de Lisboa. Catarina sorrira o dia todo, ansiosa pela primeira viagem com o marido. Imaginava os dois a rir, a falar de nomes para o bebé, a sonhar com a futura família.

Mas esse sonho desfez-se no momento em que o Tiago travou bruscamente numa rua tranquila da periferia.

“Saia já do carro!”, berrou.
Catarina olhou para ele, achando que era brincadeira. “Tiago… o que estás a dizer? Está escuro aqui fora. Eu não—”
“Estou a falar a sério!”, interrompeu, o tom cortante. “Vais estragar a sorte do meu carro novo. Não devias ter vindo.”

Desapertou-lhe o cinto e praticamente empurrou-a para fora do carro. Catarina tropeçou, mal conseguindo manter-se de pé. A porta bateu com força, e o Tiago acelerou, os faróis a desaparecer na noite.

Por alguns segundos, Catarina ficou imóvel sob o candeeiro da rua. Depois, a realidade caiu-lhe como uma onda. Ele deixara-a mesmo ali. O marido—o homem que um dia se ajoelhara para beijar a sua barriga e prometera amor eterno—abandonara-a por causa de uma superstição.

O vento era frio. Ela abraçou-se a si mesma, sentindo humilhação e dor. Uma cólica aguda atingiu-lhe o ventre, e o pânico invadiu-a. “Por favor, não agora”, sussurrou. “Por favor, bebé, fica calmo.”

Um carro abrandou perto dela. A janela abriu-se, revelando uma senhora de meia-idade com olhos bondosos. “Querida, estás bem? Precisas de ajuda?”

Catarina hesitou, mas a preocupação na voz da mulher quebrou o seu orgulho. “Sim… por favor”, murmurou.

A mulher, Maria Oliveira, ajudou-a a entrar no carro e ofereceu-lhe água. Durante a viagem silenciosa, o telemóvel de Catarina vibrou. Era o Tiago.

“Não chores, vais superar isto.”
“Eu avisei-te, não quero que estragues o meu carro novo.”
“Para de ser dramática.”

Cada mensagem foi como uma facada no coração.

Maria reparou nas lágrimas silenciosas e disse, suavemente: “Querida, um homem que te trata assim não merece ser pai. Tu e o teu bebé merecem paz.”

Naquela noite, Catarina sentou-se no sofá do apartamento, a olhar para a parede. Percebeu a verdade que ignorara por muito tempo: a arrogância do Tiago não era nova—apenas mostrava agora a sua verdadeira face.

E, ao colocar a mão sobre a barriga, sussurrou: “Não vou deixar-te crescer perto desta crueldade.”

Na manhã seguinte, o Tiago agiu como se nada tivesse acontecido. Assobiava na cozinha enquanto via avaliações de carros no telemóvel. “Devias ter visto as caras na concessionária”, disse, orgulhoso. “Todos olharam quando saí com ele. Aquele carro é um monstro.”

Catarina sentou-se à mesa, pálida e em silêncio, a mexer o chá. Os olhos estavam inchados de tanto chorar, mas o Tiago não parecia notar—ou não queria.

“Por que estás assim?”, perguntou. “Já te disse para não exagerar. Estás muito emotiva ultimamente. Agradece por eu te sustentar.”

Catarina não respondeu. Mas lá dentro, o coração endureceu. Percebeu que não restava bondade naquele homem. Apenas ego.

Naquela tarde, quando o Tiago saiu para o trabalho, ela ligou ao irmão, João Silva. O João nunca gostara do Tiago; percebera a sua arrogância desde o início. Quando Catarina contou o que acontecera, houve silêncio do outro lado da linha.

Finalmente, João disse: “Faz as malas. Vens para cá. Não vou permitir que ele te trate assim.”

As mãos de Catarina tremiam enquanto arrumava as roupas. Cada pontapé do bebé lembrava-lhe porque tinha de ser forte. Olhou em volta—cada foto, cada memória—e percebeu que já não pertencia àquele lugar.

Antes de sair, deixou um bilhete na cozinha:

“Escolheste o carro em vez da família. Não vou deixar que escolhas pelo meu filho também. —Catarina.”

Quando o Tiago chegou a casa e viu o armário vazio, explodiu. Ligou-lhe vezes sem conta, deixou mensagens furiosas, até andou pela cidade à sua procura. Mas Catarina não respondeu.

Na casa do irmão, rodeada de calor e amor, sentiu-se segura pela primeira vez em meses. Dormiu profundamente, em paz.

Os dias viraram semanas. Concentrou-se na gravidez, juntou-se a aulas de pré-natal online e até falou com um advogado sobre o divórcio. O Tiago, entretanto, começou a desmoronar. Os colegas descobriram o que ele fizera—João tratou disso. Os murmúrios seguiram-no por todo lado.

O homem que só se importava com aparências via-se agora publicamente humilhado. E, pela primeira vez, o Tiago arrependeu-se das suas escolhas.

Dois meses depois, numa manhã fresca de primavera, Catarina entrou em trabalho de parto. O irmão levou-a a correr para o hospital, segurando-lhe a mão enquanto ela suportava as dores. Horas depois, os gritos transformaram-se em risos suaves quando a enfermeira lhe colocou uma menina nos braços.

“Bem-vinda ao mundo, Beatriz”, sussurrou, lágrimas de alegria a escorrer-lhe pelo rosto.

O Tiago soube do nascimento por um amigo em comum. Sem hesitar, dirigiu-se ao hospital. O fato, antes impecável, estava amarrotado, os olhos cansados. Pela primeira vez, o homem orgulhoso parecia pequeno.

Quando entrou no quarto, congelou. Catarina estava sentada, a sorrir para a Beatriz, com o João ao lado, protector. As enfermeiras ignoraram-no.

“Vim… ver a minha filha”, disse, baixinho.

Catarina ergueu o olhar. A expressão era calma, mas distante. “A nossa filha não precisa de um pai que manda a mãe para fora do carro”, afirmou, firme. “Perdeste esse privilégio no momento em que escolheste o teu ego em vez da família.”

A voz do Tiago quebrou. “Catarina, por favor. Errei. Fui estúpido. Vou mudar.”

Ela abanou a cabeça. “A Beatriz merece melhor. Deves pensar no homem que queres ser—mas eu já não vou esperar por ti.”

O Tiago saiu do hospital em silêncio. Sentou-se no seu Mercedes, os bancos de pele frios e sem vida. Pela primeira vez, sentiu apenas vazio. O carro que simbolizava sucesso era agora um monumento ao seu fracasso.

Entretanto, Catarina prosperou. Mudou-se para uma casa acolhedora, arranjou trabalho remoto e rodeou-se de quem verdadeiramente a amava. A Beatriz cresceu saudável e feliz, o riso a encher a casa de luz.

O Tiago via-as às vezes à distância—Catarina a levar a Beatriz ao parque, a rir ao sol. Cada vez, sentia o peso do que perdera.

Trocara amor por vaidade, família por orgulho—e agora, não tinha nenhum.

E Catarina? Nunca olhou para trás.

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