O estande de limonada do menino moribundo estava vazio até que os motociclistas viram o que realmente dizia debaixo da placa que anunciava “50 cêntimos.”
Pedro, de sete anos, sentou-se atrás de sua mesinha dobrável por três horas sem um único cliente, sua cabeça careca coberta por um boné amarelo, as mãos finas tremendo enquanto reorganizava os copos repetidamente.
O bairro o evitava há semanas, desde que se espalhou a notícia de que seu câncer era terminal.
Eu observava da minha varanda enquanto carros diminuíam a velocidade, viam-no, e aceleravam novamente. Pais com seus filhos atravessavam a rua para não passar perto do estande.
Uma mãe chegou a cobrir os olhos da criança ao passarem rápido, como se o câncer fosse contagioso. Como se olhar para um menino moribundo pudesse lançar-lhes uma maldição.
Pedro não chorou. Apenas ficou ali, de camiseta amarela que pendia sobre seu corpo franzino, esperando. Seu pote de vidro continuava vazio. Seu sorriso não vacilava, embora eu visse seu lábio inferior tremendo.
Então, o rugido começou. Baixo e profundo, como um trovão vindo de longe. A cabeça de Pedro ergueu-se de repente. Seus olhos arregalaram. Quatro motociclistas em Harleys vinham pela rua pacata do subúrbio, coletes de couro reluzindo sob o sol da tarde.
Os vizinhos começaram a puxar os filhos para dentro. Dona Beatriz até correu para fechar a porta, como se estivéssemos sob ataque. Mas Pedro levantou-se. Pela primeira vez em três horas, ele se pôs de pé.
O líder dos motociclistas, um homem enorme com uma barba grisalha até o peito, parou na calçada bem em frente ao estande de Pedro. Ele tirou o capacete, e foi então que viu. O pequeno bilhete escrito à mão que Pedro colara sob a placa de preço. A verdadeira razão de estar ali.
O rosto do motociclista mudou por completo. Virou-se para os irmãos, disse algo que não pude ouvir, e os quatro desligaram os motores.
“Olá, pequenino,” disse o líder, aproximando-se. “Quanto custa um copo?”
A voz de Pedro mal se ouvia. “Cinquenta cêntimos, senhor. Mas…” Ele apontou para o bilhete sob a placa.
O motociclista ajoelhou-se para ler. Vi seus ombros tremerem. Aquele homem de aparência imponente, que devia pesar uns 140 quilos, chorava ao ler o que Pedro escrevera no papel.
O bilhete dizia: *“Não estou vendendo limonada. Estou vendendo memórias. Minha mãe precisa de dinheiro para o meu funeral, mas ela não sabe que eu sei. Por favor, me ajudem a ajudá-la antes que eu morra. — Pedro, sete anos.”*
O motociclista levantou-se devagar, puxou a carteira e colocou uma nota de cem euros no pote de Pedro. “Vou levar vinte copos, irmãozinho. Mas só quero um. Dê os outros aos meus irmãos aqui.”
Os olhos de Pedro encheram-se de lágrimas. “O senhor não precisa—”
“Preciso, sim.” A voz do motociclista estava rouca de emoção. “Qual é o seu nome, guerreiro?”
“Pedro. Pedro Almeida.”
“Bem, Pedro Almeida, eu sou o Lobo. Estes são meus irmãos—Touro, Zé Soldado e Frei. Somos do Clube de Motociclistas dos Lobos. Todos veteranos. E reconhecemos um guerreiro quando vemos.”
O rostinho de Pedro iluminou-se. “Vocês foram soldados?”
“Fuzileiros,” Lobo corrigiu, suave. “E você está numa batalha mais dura que qualquer uma que enfrentamos. É preciso muita coragem para fazer o que você está fazendo.”
Foi então que a mãe de Pedro, Ana, saiu correndo de casa. “Pedro! O que você está—” Ela parou ao ver os motociclistas. O medo estampou-se em seu rosto.
“Senhora,” disse Lobo, tirando os óculos escuros. “Seu filho é um exemplo. Está aqui tentando cuidar de você mesmo estando… doente.”
O rosto de Ana desmoronou. “Pedro, meu amor, você não precisa se preocupar com dinheiro. Isso não é sua obrigação.”
“Mas, mãe,” Pedro disse baixinho, “eu ouvi você chorando no telefone. Você disse à vovó que não tinha dinheiro para… para depois. Eu queria ajudar.”
Vi Ana desabar numa cadeira de jardim do vizinho, soluçando. Lobo ajoelhou-se ao seu lado. “Senhora, quanto tempo ele tem?”
“Seis semanas,” sussurrou. “Talvez menos. Os tumores estão no cérebro agora. Os médicos disseram que não há mais nada a fazer.”
Lobo levantou-se e pegou o telefone. “Touro, chama os irmãos. Todos. Diga que temos uma situação. Um pequeno guerreiro precisa de nós.”
Em uma hora, quarenta e sete motociclistas estavam em nossa rua. Cada um aproximou-se do estande de Pedro, leu o bilhete e colocou dinheiro no pote. Alguns deram vinte euros. Outros, cem. Um deles, um homem mais velho com emblemas do Ultramar, colocou quinhentos euros e não conseguiu falar, engasgado pelas lágrimas.
Pedro tentou servir a limonada, mas suas mãos tremiam demais. Lobo pegou o jarro. “Deixa-me ajudar, irmãozinho. Você comanda, eu sirvo.”
“Por que estão todos sendo tão bondosos comigo?” Pedro perguntou.
Touro, um motociclista com os braços cobertos de tatuagens militares, ajoelhou-se. “Porque você nos lembra por que lutamos, pequeno. Lutamos por crianças como você. Crianças que não deveriam enfrentar batalhas tão grandes. Que mereciam mais do que a vida lhes deu.”
Frei, que tinha uma cruz no colete, falou. “E porque cuidar uns dos outros é o que fazemos. Você está cuidando da sua mãe. Nós estamos cuidando de você. É assim que funciona.”
Os motociclistas ficaram por três horas. Beberam limonada. Contaram histórias sobre suas motos. Deixaram Pedro sentar nelas, tiraram fotos com ele, deram-lhe emblemas de seus coletes.
Mas, mais importante, fizeram um plano.
Lobo chamou Ana de lado. “Senhora, vamos ajudar. Nosso clube tem um fundo para situações assim. Já arrecadamos para as despesas médicas do Pedro, mas não sabíamos… do resto.”
“Não posso aceitar—”
“Pode, sim. E vai. Pedro está tentando ser um homem, tentando cuidar de você. Deixe-nos ajudá-lo nisso. Deixe-o ver que seu esforço valeu a pena. Que ele fez a diferença.”
Nas cinco semanas seguintes, os Lobos transformaram o estande de Pedro em um evento. Todo sábado, apareciam. Traziam amigos. Outros clubes. Grupos de veteranos. O pote de vidro de Pedro foi substituído por um grande pote de picles, depois por um balde de vinte litros.
O jornal local noticiou: *“Estande de Limonada de Menino Moribundo Arrecada Milhares com Ajuda de Motociclistas.”*
Pedro foi enfraquecendo. Na quarta semana, já não conseguia ficar em pé. Lobo fez-lhe uma cadeira especial com almofadas e guarda-sol. Na quinta semana, mal conseguia ficar acordado. Os motociclistas sentavam-se com ele, segurando o guarda-sol, servindo limonada enquanto Pedro cochilava.
No último sábado em que Pedro pôde sair, mais de duzentos motociclistE, quando o último motociclista passou pelo estande, colocando sua nota no balde e murmurando “Descansa em paz, pequeno herói”, Pedro sorriu, fechou os olhos e partiu, sabendo que sua mãe estaria bem, e que seu legado de coragem e amor jamais seria esquecido.