**Diário Pessoal**
Nunca imaginei que o casamento pudesse transformar-se num pesadelo tão grande. Quando aceitei casar com Miguel Sousa, pensei que estava a entrar numa família amorosa, cheia de tradições. Miguel vinha de uma família abastada, mas eu também não era pobre—fui criada numa família respeitável, de classe média no Porto, com pais que valorizavam o trabalho árduo e a humildade. Contudo, nunca ostentei o facto dos meus dois irmãos mais velhos, Diogo e Rodrigo, serem empreendedores de sucesso. Para a família Sousa, eu era apenas a “Inês”, não a “irmã de bilionários”.
No início, tudo parecia suportável. Miguel tratava-me bem em privado, mas a sua mãe, Margarida, e a irmã mais nova, Carlota, não perdiam oportunidade para me humilhar. Criticavam as minhas roupas, o meu sotaque do Norte, até a minha carreira—eu trabalhava como assistente social. Chamavam-me “indigna” de pertencer aos Sousa, que se orgulhavam de frequentar clubes exclusivos e círculos de caridade da alta sociedade.
O ponto de rutura chegou na festa de aniversário de Margarida, realizada num clube privado em Cascais. Os Sousa tinham convidado mais de duzentos convidados, todos ricos, sofisticados e críticos. Eu vestira-me com elegância, num vestido azul-claro, na esperança de passar despercebida. Mas Margarida tinha outros planos. Depois do jantar, ergueu-se, bateu na taça de champanhe e sorriu de forma cruel para mim.
“Já que a Inês quer provar que merece estar aqui,” anunciou, “vamos ver se tem confiança. Mostre a todos o que esconde por baixo desse vestido barato!”
A plateia ficou em silêncio. Eu congelei. Pensei que fosse apenas uma piada de mau gosto, mas Carlota e duas primas cercaram-me, puxando as mangas do meu vestido e sussurrando alto: “Tira isso, se não tens vergonha! Vamos ver se mereces o Miguel!”
O meu rosto ardia de humilhação. A plateia ria, desconfortável, alguns filmando a cena com os telemóveis. Miguel, em vez de me defender, desviou o olhar, bebendo do copo como se eu fosse invisível.
As minhas mãos tremiam, as lágrimas a ameaçarem cair. Queria gritar, revidar, mas a voz morreu na minha garganta. Nunca me sentira tão pequena, tão impotente. Naquele momento, o plano de Margarida tinha funcionado—eu estava à beira de me desmoronar.
E então, quando pensei que não aguentava mais, ouviram-se passos firmes pelo salão. Os murmúrios aumentaram quando dois homens, bem vestidos e de postura imponente, entraram. Virei o rosto, incrédula.
Diogo e Rodrigo—os meus irmãos—estavam ali, os olhos ardendo de fúria.
O clima mudou instantaneamente. As risadas cessaram. Os telemóveis baixaram. As pessoas cochichavam, reconhecendo-os. Diogo, fundador de uma empresa tecnológica global, e Rodrigo, magnata do imobiliário—nomes frequentes nas listas de bilionários—não eram homens perante os quais se humilhava a irmã de alguém.
“Inês,” Rodrigo disse, firme, abraçando-me com proteção. “O que raio se passa aqui?”
Margarida tentou manter a compostura, o seu sorriso arrogante a desvanecer. “Isto é um assunto de família. Não têm nada a ver com isto.”
Diogo soltou uma risada cortante. “Nada a ver? Humilharam a nossa irmã em público. Isso dá-nos todo o direito.” O seu olhar percorreu a sala, gelado e autoritário. “Quem aqui achou isto aceitável? Quem achou que humilhar uma mulher—a vossa própria nora—era entretenimento?”
Miguel tentou intervir, minimizando. “Diogo, Rodrigo, isto está a ser exagerado. A minha mãe só estava a brincar—”
“Brincar?” Diogo cortou-lhe a frase, avançando. “Ficaste parado enquanto a tua mulher era humilhada, ameaçada e obrigada a despir-se em público. E chamas a isto uma brincadeira?” A sua voz ecoou pelo salão, fazendo vários convidados recuarem.
Agarrei-me ao braço de Rodrigo, as lágrimas finalmente a caírem—mas desta vez, não eram de vergonha. Eram de alívio.
Carlota tentou justificar-se. “Ela não é boa o suficiente para o Miguel! Não pertence à nossa família. Todos sabem. Estávamos só a provar o óbvio.”
Rodrigo cerrou os olhos, perigosamente. “E que ponto era esse? Que são uns cobardes, escondidos atrás do nome da família? Notícia fresca—a Inês merece estar aqui mais do que qualquer um de vocês. Não por nossa causa, nem por dinheiro, mas porque tem dignidade. Algo que esta família claramente não tem.”
Os convidados remexeram-se, desconfortáveis. Alguns até concordaram, em silêncio. A imagem refinada dos Sousa desmoronava-se.
Margarida empalideceu. “Não têmE, enquanto a família Sousa enfrentava as consequências da sua crueldade, eu segurei nas mãos dos meus irmãos e percebi que, no fim, o amor verdadeiro sempre vence.