**Diário de um Homem – A História de Leonor**
Quando Leonor Almeida casou-se com Miguel Rodrigues, acreditava estar a iniciar uma vida de amor e parceria. Miguel era encantador durante o namoro — atencioso, gentil e cheio de promessas. Mas tudo mudou no momento em que regressaram da lua de mel.
Sua mãe, Margarida, deixou claro que Leonor não era boa o suficiente para o seu único filho. Criticava tudo — a sua comida, as suas roupas, até a forma como falava.
— Nem sequer consegues fritar um ovo direito — gozou Margarida certa manhã. — O meu filho merece alguém melhor.
Leonor mordeu o lábio e não respondeu. Miguel, em vez de a defender, encolheu os ombros e disse, friamente: — A mãe tem razão, Leonor. Devias esforçar-te mais.
A partir daí, a humilhação tornou-se parte do seu quotidiano. Cozinhava, limpava e lavava roupa como uma empregada, mas nunca era suficiente. As palavras afiadas de Margarida cortavam cada vez mais fundo, e a indiferença de Miguel doía mais do que qualquer insulto.
Nos jantares de família, Leonor ficava em silêncio enquanto ambos a ridicularizavam. — Ela é tão caladinha — dizia Margarida. — Deve ser porque não tem nada interessante para acrescentar.
Miguel ria, sem perceber que cada risada apagava um pouco do amor que Leonor sentia por ele.
Numa noite, durante uma festa de família, as coisas chegaram ao limite. Leonor mal tinha provado o seu vinho quando Margarida se levantou e anunciou em voz alta: — Cuidado, Leonor. Se beberes mais, vais envergonhar o meu filho como da última vez.
Todos riram. Leonor corou de vergonha. — Só bebi meio copo — sussurrou.
Miguel bateu com o copo na mesa. — Não respondas à minha mãe! — gritou. Depois, para seu horror, pegou no vinho e derramou-o sobre a cabeça dela, à frente de todos.
O salão ficou em silêncio. O vinho escorria do seu cabelo para o vestido.
Margarida sorriu. — Talvez assim aprendas algum respeito.
Leonor olhou para eles — o marido, a sogra, as pessoas que riam da sua humilhação — e algo dentro dela despedaçou-se.
Ergueu-se, limpou o vinho do rosto e disse, com calma: — Vão arrepender-se disto.
Sem outra palavra, saiu do restaurante, deixando-os mudos.
Leonor não voltou para a casa que partilhava com Miguel. Em vez disso, pegou num comboio noturno e dirigiu-se a uma mansão em Lisboa — a casa do seu pai.
O seu pai, António Almeida, era um empresário conhecido, um investidor que tinha construído uma fortuna com as próprias mãos e sempre amou a filha incondicionalmente. Quando Leonor casou-se com Miguel, escolhera não revelar a sua riqueza, querendo um casamento baseado no amor, não no dinheiro.
Quando o porteiro a viu encharcada e a tremer, chamou António imediatamente. Ele apareceu, pálido de choque.
— Leonor? — a voz dele falhou. — O que te aconteceu?
Naquele momento, ela desmoronou-se. Entre lágrimas, contou tudo — os insultos, a crueldade, a humilhação.
Os olhos de António escureceram. — Trataram-te assim?
— Sim — sussurrou. — E eu deixei.
Ele segurou-lhe a mão. — Não mais. Estás em casa agora.
Nas semanas seguintes, Leonor recuperou no palacete do pai. António insistiu que ela consultasse um advogado, mas Leonor tinha um plano melhor. — Não quero vingança por raiva — disse. — Quero que sintam o que é perder tudo o que pensavam controlar.
Descobriu que a empresa de Miguel — aquela de que ele tanto se gabava — estava à beira da falência. Desesperado por investidores, ele enviara propostas a vários empresários, sem saber que um deles era o seu sogro.
António entregou-lhe a pasta. — Ele precisa de dois milhões de euros para se salvar. Se eu investir, terei a maioria das acções.
Leonor sorriu pela primeira vez em semanas. — Então vamos investir — disse. — Mas em meu nome.
Um mês depois, Leonor tornou-se acionista maioritária da empresa de Miguel, sem que ele soubesse. Assistiu à distância enquanto ele continuava a viver arrogantemente, convencido do próprio poder.
Até que um dia foi convocado para uma reunião com o novo dono.
Entrou na sala de reuniões e congelou.
Sentada à cabeceira da mesa, estava Leonor — confiante, calma, impecavelmente vestida.
Miguel empalideceu. — Leonor? O que estás a fazer aqui?
Ela cruzou as mãos. — Chegaste tarde. Vamos começar.
Ele olhou em volta, confuso. — O que se passa?
— A empresa que geres — disse ela, com voz firme — foi adquirida no mês passado. O novo dono… sou eu.
Ele abriu a boca, sem palavras. — Isso é impossível.
— Nada é impossível — respondeu friamente. — Precisavas de financiamento. Eu forneci-o através da empresa do meu pai. O que significa que agora controlo 60% desta empresa. Tu trabalhas para mim.
Margarida, que o acompanhara, engasgou-se. — Enganaste-nos!
— Não — Leonor sorriu levemente. — Subestimaram-me.
Miguel tentou rir, mas a voz falhou-lhe. — Isto é ridículo. Não podes simplesmente aparecer e…
— Posso — interrompeu ela. — E fi-lo.
Inclinou-se para a frente. — Disseste que eu não era nada sem ti. Afinal, é o contrário.
Em uma semana, convenceu o conselho a destituir Miguel como CEO por “má gestão e conduta imprópria”. Margarida, outrora orgulhosa, implorou pelo seu perdão.
Leonor não ergueu a vozLeonor olhou para ambos e sorriu serenamente, sabendo que a verdadeira vitória não estava na sua queda, mas na sua própria liberdade.