Cinquenta Motociclistas Bloqueiam a Rodovia para Salvar Garota em Pânico

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Estávamos a voltar de um passeio em homenagem a um falecido amigo quando uma miúda de pijama saiu a correr do bosque. Os pés ensanguentados e os braços a agitar desesperadamente para a fila de motas—como se fôssemos a sua última esperança na Terra.

Todas as motas travaram ao mesmo tempo, formando uma muralha de cromados e couro em três faixas da estrada. Os carros atrás de nós buzinaram, mas nenhum motard se mexeu.

O líder do grupo, Zé Grande, quase não parou a tempo. A menina colou-se à sua mota, agarrando-se a ele como se fosse a sua salvação. “Ele vem, ele vem! Por favor, não deixem que me leve outra vez!”, soluçou.

Da estrada secundária, surgiu uma carrinha. O condutor empalideceu ao ver cinquenta motards a bloquear-lhe o caminho.

“Por favor,” implorou a menina, a voz frágil por entre o rugir dos motores. “Ele disse que me ia levar ver a minha mãe… mas ela já morreu há dois anos. Não sei onde estou e—”

A porta da carrinha abriu-se. Um homem saiu, as mãos no ar, um sorriso falso estampado no rosto. Parecia ter quarenta anos, bem-vestido, como se tivesse saído diretamente de um campo de golfe. “Inês, meu amor,” disse, a voz a pingar falsa preocupação. “A tua tia está desesperada. Vamos para casa.”

Inês encostou-se ainda mais ao Zé Grande. “Eu não tenho tia,” sussurrou. “A minha mãe morreu e o meu pai está em missão na Guiné. Este homem raptou-me da escola e—”

“Ela está confusa,” interrompeu o homem. “É a minha sobrinha. Tem problemas de comportamento. Às vezes foge.” Puxou do telemóvel. “Posso chamar o terapeuta dela, se precisarem—”

“Pára aí,” ordenou o Zé Grande, com a autoridade de quem passou trinta anos nos Fuzileiros. O homem congelou. À nossa volta, cinquenta motards formaram um círculo protetor. Os motores ao ralenti, uma barreira que ninguém ultrapassaria.

Inês arregaçou a manga, mostrando hematomas que me gelaram o sangue. “Ele já me tem há três dias,” disse. “Há mais crianças.”

A palavra atingiu-nos como um martelo.

“Chamem a PSP,” gritou alguém. Eu já estava a discar. O trânsito acumulava-se, as buzinas a berrar, mas nenhum motard se mexia. O sorriso falso do homem rachou.

“Estão a cometer um erro,” rosnou. “Tenho documentos. Ela está doente. Vou levá-la para um centro—”

“Então não te importas de esperar pela polícia,” disse Serpente, bloqueando a carrinha com a sua mota. O homem tentou fugir para o veículo—mas não deu três passos. O Toninho, com os seus 150 quilos de músculo, imobilizou-o no chão, enquanto ele se debatia e gritava.

“Revistem a carrinha,” ordenou o Zé Grande, ainda a segurar Inês. Lá dentro, amarrados e amordaçados, estavam mais duas crianças.

Seguiu-se o caos controlado. Inês revelou o nome completo—Inês Almeida—e como tinha sido raptada da sua escola a mais de 300 quilómetros de distância. Marcara os dias no braço, e quando a carrinha parou numa área de serviço, conseguiu libertar-se.

“Eu rezei por anjos,” disse, a voz abafada contra o colete do Zé Grande. “Acho que os anjos usam couro.”

A polícia chegou primeiro, depois a PJ. A carrinha estava registada com um nome falso, mas as impressões digitais do homem ligavam-no a outros seis raptoPor fim, naquele dia, Inês provou que a coragem de uma criança pode mudar o mundo, e os motards, de fato, lembraram a todos que até os anjos usam botas de biqueira de aço.

(fim).

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