Casal Barrado na Porta do Casamento por MotociclistasOs motociclistas, que eram velhos amigos do noivo, revelaram que tudo era uma surpresa para começar a festa com uma entrada inesquecível.

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Quarenta e dois motociclistas apareceram sem convite no casamento da minha filha e bloquearam as portas da igreja, impedindo a entrada de todos. Gritei para que saíssem, ameacei chamar a polícia, disse que estavam arruinando o dia mais importante da vida dela.

O líder do grupo, um homem enorme com cicatrizes cobrindo os braços, apenas ficou ali me olhando com lágrimas nos olhos e disse: “Senhora, não podemos deixar este casamento acontecer. A sua filha não sabe com quem está se casando de verdade.”

Disse que ele era louco, que Diogo era um advogado respeitado, de família tradicional, que não tinham direito de interferir.

Foi quando ele abriu uma pasta cheia de fotografias e registros hospitalares que me gelaram o sangue, e eu percebi que aqueles motoqueiros assustadores poderiam ser a única barreira entre a minha filha e um monstro.

O casamento começaria em vinte minutos. Duzentos convidados tentavam entrar na Sé de Lisboa, mas aquela muralha de couro e jeans não se mexia.

“Mãe, o que está acontecendo?” Inês, minha filha, apareceu ao meu lado vestida de branco, radiante e confusa. “Por que eles não saem?”

“Não é nada, querida. Só umas pessoas desequilibradas. Volta lá dentro, eu resolvo isto.”

Mas o líder falou diretamente com ela. “Inês, eu sou o Marco Vaz. Há três anos, Diogo Almeida estava noivo da minha irmã, Raquel. Ela morreu duas semanas antes do casamento.”

O rosto de Inês ficou pálido. “Diogo me disse que a noiva dele morreu num acidente de carro. Foi trágico, mas—”

“Não foi um acidente,” Marco interrompeu, a voz falhando.

“Minha irmã se atirou de uma ponte depois de seis meses de abuso dele. Ela deixou um bilhete. Deixou provas. Deixou tudo. Mas a família dele tem dinheiro e influência, e o caso foi abafado.”

“Isso é mentira,” eu disse firme, colocando-me entre eles. “Diogo é um homem bom. Ele nunca—”

“Mãe,” outro motociclista interveio, estendendo um telefone. “Este é o bilhete de suicídio da Raquel Vaz. Leia.”

Agarrei o telefone, pronta para provar que estavam errados. Mas as palavras na tela fizeram minhas mãos tremerem:

“Não aguento mais. Diogo é um monstro quando as portas se fecham. Os hematomas eu escondo, mas não consigo fugir do que ele se tornou. Ele ameaçou me matar se eu o deixasse. Disse que a família dele faria ninguém acreditar em mim. Ele tinha razão. Denunciei duas vezes. As duas vezes, os registros desapareceram. Sinto muito, Marco. Diz à mãe que eu a amo. Diz a todos que eu tentei. Mas não posso me casar com ele. Não posso viver com medo. Esta é a minha única saída.”

“Isto pode ser falso,” murmurei, mas sem convicção.

Marco abriu a pasta. Dentro havia registros hospitalares. Fotos de hematomas, olhos roxos, costelas quebradas. Boletins de ocorrência que haviam sido arquivados e misteriosamente fechados. Mensagens em que Diogo ameaçava Raquel, dizia que ela não valia nada, que se arrependeria de tentar fugir.

“Mostra o vídeo,” outro motociclista disse baixinho.

Marco hesitou. “Senhora, é melhor não ver—”

“Mostre,” Inês exigiu. Ela se aproximara, lendo por cima do meu ombro.

Ele abriu um vídeo no telefone. Imagens de segurança de um estacionamento. Raquel e Diogo discutindo. Ele agarrou seu braço, jogou-a contra um carro, deu-lhe um tapa no rosto. Vimos ela cair no chão enquanto ele gritava em cima dela.

A data mostrava três semanas antes da sua morte.

“Desliga,” sussurrei. “Por favor, desliga.”

Inês estava congelada, ainda vestida de noiva, encarando o telefone como se pudesse mordê-la. “Diogo nunca… ele nunca levantou a voz para mim.”

“Raquel também dizia isso,” Marco respondeu. “No primeiro ano. Ele era perfeito. Romântico. Atento. Até que se comprometeram, e tudo mudou. Ele começou a isolá-la dos amigos, a controlar sua roupa, a verificar seu telefone. Foi gradual. Quando ela percebeu o que estava acontecendo, já estava encurralada.”

“Preciso falar com Diogo,” Inês disse, mas a voz tremia.

“Não,” eu cortei, instinto materno gritando. “Você não vai chegar perto dele.”

“Dona Silva,” Marco falou suavemente, “não queríamos fazer isto. Invadir um casamento, assustar todo mundo. Mas não podíamos deixar outra mulher se casar com ele. Não podíamos deixar a morte de Raquel não significar nada.”

“Por que agora?” exigi. “Por que não foram à polícia? Por que não—”

“Tentamos de tudo,” outro motociclista respondeu. Era mais velho, barba grisalha, olhos bondosos. “Sou o tio da Raquel, Tomás. Fomos à polícia dezessete vezes nos últimos três anos. Todas as denúncias foram enterradas. O pai do Diogo é juiz. O tio dele é procurador. O sistema protege ele.”

“Então resolveram aterrorizar minha filha no dia do casamento?”

“Resolvemos salvar a vida dela,” Marco disse simplesmente. “Acompanhamos o Diogo desde que Raquel morreu. Quando soubemos que ele estava noivo de novo, investigamos. Descobrimos que ele já fez isso antes. Raquel não foi a primeira vítima.”

Ele mostrou mais dossiês. Outras duas mulheres. Ambas tinham ordens de restrição contra Diogo que misteriosamente desapareceram. Ambas tinham registros hospitalares. Uma mudou de país para fugir dele.

“Encontramos elas,” Tomás explicou. “Pedimos para testemunharem, para nos ajudarem a pará-lo. As duas estavam com medo. A família dele as ameaçou, comprou o silêncio, fez elas desaparecerem.”

Inês ficou muito quieta. “Mãe, lembra quando eu caí das escadas no mês passado?”

Meu sangue congelou. “O quê?”

“Estávamos discutindo. Sobre o meu trabalho. Ele não queria que eu aceitasse a promoção porque significava mais horas. Pensei que era só ciúme. Mas quando disse que ia aceitar mesmo assim…” Ela tocou no pulso, que havia torcido. “Ele me agarrou. Eu me soltei e caí. Mas ele me agarrou. Forte.”

“Por que não me contou?” murmurei.

“Porque ele se desculpou. Comprou flores. Disse que estava estressado com o casamento. Disse que nunca mais aconteceria.”

Os motociclistas trocaram olhares. Já tinham ouvido essa história antes.

Marco se ajoelhou para ficar no nível de Inês. “Minha irmã dizia a mesma coisa. Depois da primeira vez, da segunda, da décima. Ele sempre pedia desculpas. Sempre tinha uma justificativa. Sempre fazia ela sentir que era culpa dela.”

Diogo apareceu então, empurrando os convidados confusos. “Que diabos está acontecendo? Inês, por que não está lá dentro?”

A voz dele era afiada. Irritada. E ouvi pela primeira vez—a frieza por trás do charme habitual.

“Diogo,” Inês começou, cautelosa, “essas pessoas dizem que você já foi noivo antes. De uma mulher chamada Raquel Vaz.”

O rosto dele ficou vazio. “Isso é história antiga. Ela era instável. Trágico, o que aconteceu.”

“Ela se matou por sua causa,” Marco disse, erguDiogo tentou se explicar, mas o olhar de pavor de Inês e a evidência irrefutável revelada pelos motociclistas finalmente abriram seus olhos, e ela correu até meus braços, enquanto a polícia chegava e a verdade sobre o monstro por trás do terno caro se espalhava para sempre.

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