Casada a um mendigo por ser cega: o que aconteceu depois

5 min de leitura

Mariana nunca tinha visto o mundo, mas sentia a sua crueldade com cada respiração. Nasceu cega numa família que valorizava a beleza acima de tudo. As suas duas irmãs eram admiradas pelos olhos cativantes e corpos esbeltos, enquanto ela era tratada como um fardo, um segredo vergonhoso trancado longe de todos.

A mãe morreu quando ela tinha apenas cinco anos, e desde aí o pai mudou. Tornou-se amargo, ressentido e cruel—especialmente com ela. Nunca a chamava pelo nome; chamava-lhe “aquela coisa”. Não a queria à mesa durante as refeições nem perto quando havia visitas. Acreditava que ela estava amaldiçoada, e quando Mariana fez 21 anos, ele tomou uma decisão que destruiria o pouco que restava do seu coração já tão partido.

Numa manhã, o pai entrou no seu quarto pequeno, onde Mariana sentava-se em silêncio, passando os dedos sobre os pontos salientes de um livro em Braille já desgastado. Atirou-lhe um pedaço de pano dobrado no colo.

“Vais casar-te amanhã,” disse secamente.

Mariana congelou. As palavras não faziam sentido. Casar? Com quem?

“É um pedinte da igreja,” continuou o pai. “Tu és cega, ele é pobre. Um bom par para ti.”

O sangue pareceu desaparecer-lhe do rosto. Queria gritar, mas nenhum som saiu. Não tinha escolha. O pai nunca lhe dera escolhas.

No dia seguinte, casou-se numa cerimónia apressada e pequena. Claro, nunca viu o rosto dele, e ninguém se atreveu a descrevê-lo. O pai empurrou-a para o homem e disse-lhe para agarrar o seu braço. Ela obedeceu, como um fantasma dentro do próprio corpo. As pessoas riam-se, murmuravam: “A rapariga cega e o pedinte.”

Depois da cerimónia, o pai deu-lhe um saco pequeno com algumas roupas e empurrou-a novamente para o homem.

“Agora é problema teu,” disse, afastando-se sem olhar para trás.

O pedinte, chamado Afonso, guiou-a em silêncio pela estrada. Não disse nada por muito tempo. Chegaram a uma pequena cabana no limite da vila. Cheirava a terra molhada e a fumo.

“Não é muito,” Afonso disse suavemente. “Mas estarás segura aqui.”

Ela sentou-se no velho tapete dentro de casa, segurando as lágrimas. Esta era a sua vida agora. Uma rapariga cega casada com um pedinte, numa cabana feita de barro e esperança.

Mas algo estranho aconteceu naquela primeira noite.

Afonso preparou-lhe chá com mãos gentis. Deu-lhe o seu próprio casaco e dormiu perto da porta, como um cão de guarda a proteger a sua rainha. Falou com ela como se ela importasse—perguntando-lhe que histórias gostava, que sonhos tinha, que comidas a faziam sorrir. Nunca ninguém lhe perguntara essas coisas.

Os dias viraram semanas. Todas as manhãs, Afonso a levava ao rio, descrevendo o sol, os pássaros, as árvores com tanta poesia que Mariana começou a sentir que os via através das suas palavras. Cantava para ela enquanto lavava roupa e contava-lhe histórias sobre estrelas e terras distantes à noite. Ela riu-se pela primeira vez em anos. O coração começou a abrir-se. E naquela cabana estranha, aconteceu algo inesperado: Mariana apaixonou-se.

Uma tarde, enquanto procurava a sua mão, perguntou:
“Sempre foste pedinte?”

Ele hesitou. Depois respondeu suavemente:
“Nem sempre.”

Mas não explicou mais. E Mariana não insistiu.

Até um dia.

Foi sozinha ao mercado comprar legumes. Afonso dera-lhe instruções cuidadosas, e ela decorou cada passo. Mas a meio do caminho, alguém agarrou-a violentamente.

“Rata cega!” cuspiu uma voz.

Era a sua irmã. Leonor.

“Ainda viva? Ainda a fingir que és a esposa de um pedinte?”

Mariana sentiu as lágrimas, mas manteve-se firme.

“Sou feliz,” disse.

Leonor riu-se com crueldade.
“Nem sabes como ele é. É um lixo. Tal como tu.”

Depois sussurrou algo que partiu Mariana.

“Ele não é pedinte. Mariana, mentiram-te.”

Mariana voltou para casa desorientada. Esperou até ao anoitecer e, quando Afonso regressou, perguntou novamente—desta vez com firmeza.

“Diz-me a verdade. Quem és realmente?”

Ele ajoelhou-se à sua frente, pegou-lhe nas mãos e disse:

“Ainda não devias saber. Mas não posso mentir mais.”

O coração dela acelerou.

Ele respirou fundo.

“Não sou pedinte. Sou filho do Duque.”

O mundo de Mariana girou. “Filho do Duque.” A mente percorreu cada momento que tinham partilhado—a sua bondade, a sua força, as histórias vivas, demasiado ricas para um simples pedinte—e de repente tudo fez sentido. Nunca fora um pedinte. O pai casara-a não com um pobre, mas com um homem nobre disfarçado de trapos.

Afastou as mãos, a voz trémula:
“Porquê? Porque me deixaste acreditar que eras um pedinte?”

Afonso levantou-se, a voz calma mas carregada de emoção.
“Porque queria alguém que me visse—não a minha riqueza, não o meu título. Apenas a mim. Alguém puro. Alguém cujo amor não pudesse ser comprado. Tu eras tudo o que eu rezara, Mariana.”

O coração dela lutou entre a raiva e o amor. Porque não lhe dissera? Porque a deixara sentir-se como lixo?

Afonso ajoelhou-se novamente.
“Nunca quis magoar-te. Vim disfarçado porque estava cansado de mulheres que amavam o trono, não o homem. Depois ouvi falar de uma rapariga cega, rejeitada pelo próprio pai. Observei-te de longe, semanas antes de me aproximar dele disfarçado. Sabia que ele aceitaria, porque queria livrar-se de ti.”

As lágrimas correram pelo rosto de Mariana. A dor da rejeição do pai misturava-se com o choque da verdade de Afonso. Sussurrou:
“E agora? O que acontece agora?”

Afonso apertou-lhe a mão gentilmente.
“Agora vens comigo—para o meu mundo, para o palácio.”

O coração dela saltou.
“Mas sou cega. Como posso ser duquesa?”

Ele sorriu.
“Já és, minha princesa.”

Na manhã seguinte, uma carruagem real esperava à porta da cabana. Guardas vestidos de preto e dourado curvaram-se diante de Afonso e Mariana. Ela agarrou-se ao seu braço com força enquanto a carruagem seguia para o palácio.

Quando chegaram, a multidão suspirou. O príncipe desaparecido regressara—mas com uma rapariga cega ao seu lado. A Duquea estudou Mariana com olhos penetrantes. Ela inclinou-se humildemente. Afonso ficou firme ao seu lado e declarou:

“Esta é a minha esposa—a mulher que escolhi. A mulher que viu a minha alma quando ninguém mais viu.”

A Duquea ficou em silêncio por um momento, depois avançou e abraçou Mariana.
“Então é minha filha,” disse.

Mariana quase caiu de alívio. Afonso sussurrou:
“Eu disse-te, estás segura.”

Naquela noite, junto à janela do palácio, Mariana ouviu os sons da corte real. A sua vida mudara num só dia. Já não era “E, enquanto o vento trouxe o cheiro das flores do jardim real, Mariana sorriu, sabendo que finalmente encontrara não apenas um lar, mas um amor que transcende a vista e habita apenas na infinita luz da alma.

Leave a Comment