Bikers Impediram a Porta do Casamento e Barravam TodosE foi só quando minha filha apareceu com seu vestido de noiva que os motociclistas, surpresos, abriram caminho e revelaram que tudo não passava de uma surpresa orquestrada pelo noivo.

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**Diário Pessoal**

Hoje devia ser o dia mais feliz da vida da minha filha. Mas tudo mudou quando quarenta e dois motoqueiros apareceram sem convite e bloquearam as portas da igreja, impedindo ninguém de entrar. Gritei para que saíssem, ameacei chamar a polícia, disse que estavam arruinando o dia mais importante da vida da Inês.

O líder deles, um homem enorme com cicatrizes nos braços, olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas e disse: “Minha senhora, não podemos deixar este casamento acontecer. A sua filha não sabe com quem está realmente se casando.”

Disse-lhe que estava louco, que o Tomás era um advogado respeitado, de família tradicional e que ele não tinha direito de se intrometer.

Foi então que ele abriu uma pasta com fotografias e registros hospitalares que me gelaram o sangue. Percebi que aqueles motoqueiros assustadores podiam ser a única coisa entre a minha filha e um monstro.

O casamento devia começar em vinte minutos. Duzentos convidados tentavam entrar na Sé de Lisboa, mas aquela muralha de couro e ganga não se mexia.

“Mãe, o que se passa?” A Inês apareceu ao meu lado, no seu vestido branco, radiante e confusa. “Porque é que não os fazem sair?”

“Não é nada, querida. São só umas pessoas perturbadas. Vai lá para dentro, eu trato disto.”

Mas o líder dos motoqueiros falou-lhe diretamente: “Inês, chamo-me Marco Sousa. Há três anos, o Tomás estava noivo da minha irmã, a Raquel. Ela morreu duas semanas antes do casamento.”

O rosto da Inês ficou pálido. “O Tomás disse-me que a noiva dele morreu num acidente de carro. Foi trágico, mas—”

“Não foi nenhum acidente,” o Marco cortou, com a voz a falhar.

“A minha irmã atirou-se de uma ponte depois de seis meses de maus-tratos. Ela deixou um bilhete. Deixou provas. Deixou tudo. Mas a família do Tomás tem dinheiro e influência, e o caso foi abafado.”

“Isto é mentira,” eu disse firme, colocando-me entre eles. “O Tomás é um bom homem. Ele nunca—”

“Mãe,” outro motoqueiro interrompeu, mostrando-me um telemóvel. “Esta é a carta de despedida da Raquel. Leia.”

Agarrei o telemóvel, pronta para desmenti-los. Mas as palavras naquele ecrã fizeram-me tremer:

*”Não aguento mais. O Tomás é um monstro quando as portas se fecham. Os hematomas posso esconder, mas não posso fugir ao que ele se tornou. Ameaçou matar-me se o deixasse. Disse que a família dele faria com que ninguém acreditasse em mim. Tinha razão. Denunciei-o duas vezes. As queixas desapareceram. Desculpa, Marco. Diz à mãe que a amo. Diz a todos que tentei. Mas não posso casar com ele. Não posso viver com medo. Esta é a minha única saída.”*

“Isto pode ser falso,” murmurei, mas sem convicção.

O Marco abriu a pasta. Lá dentro havia registos do hospital. Fotografias de hematomas, olhos roxos, costelas partidas. Queixas na polícia que tinham sido arquivadas misteriosamente. Mensagens onde o Tomás ameaçava a Raquel, dizia que ela não valia nada, que se arrependeria se o deixasse.

“Mostra-lhe o vídeo,” disse outro motoqueiro em voz baixa.

O Marco hesitou. “Minha senhora, não quer ver—”

“Mostra-me,” a Inês exigiu, aproximando-se e lendo por cima do meu ombro.

Ele abriu um vídeo no telemóvel. Imagens de segurança de um parque de estacionamento. Vimos a Raquel e o Tomás a discutirem. Vimo-lo agarrá-la pelo braço, atirá-la contra o carro, bater-lhe na cara. Vimo-la cair no chão enquanto ele gritava por cima dela.

A data era três semanas antes da sua morte.

“Desliga isso,” eu pedi. “Por favor, desliga.”

A Inês estava paralisada, ainda no vestido de noiva, a olhar para o telemóvel como se ele a fosse morder. “O Tomás nunca… ele nunca levantou a voz para mim.”

“Foi o que a Raquel também disse,” o Marco respondeu. “No primeiro ano. Era perfeito. Romântico. Atento. Depois, ficaram noivos, e tudo mudou. Começou a afastá-la dos amigos. A controlar a roupa que usava. A ver o telemóvel dela. Foi gradual. Quando ela percebeu, já estava presa.”

“Preciso de falar com o Tomás,” a Inês disse, mas a voz tremia.

“Não,” eu disse com firmeza, o instinto materno a gritar. “Não vais nem perto dele.”

“Senhora Silva,” o Marco disse gentilmente, “não queríamos fazer isto. Arruinar um casamento, assustar toda a gente. Mas não podíamos deixar mais uma mulher casar com ele. Não podíamos deixar que a morte da Raquel não tivesse significado.”

“Porquê agora?” exigi. “Porque não foram à polícia? Porque não—”

“Tentámos tudo,” outro motoqueiro disse. Era mais velho, com barba grisalha e olhos bondosos. “Sou o tio da Raquel, o António. Fomos à polícia dezassete vezes nestes três anos. Todas as queixas foram arquivadas. O pai do Tomás é juiz. O tio é procurador. O sistema protege-o.”

“Então decidiram aterrorizar a minha filha no dia do casamento?”

“Decidimos salvar a vida dela,” o Marco disse simplesmente. “Temos vigiado o Tomás desde que a Raquel morreu. Quando soubemos que estava noivo outra vez, investigámos. Descobrimos que ele já fizera isto antes. A Raquel não foi a primeira vítima.”

Ele mostrou mais papéis. Outras duas mulheres. Ambas tinham ordens de restrição que misteriosamente foram canceladas. Ambas tinham registos hospitalares. Uma tinha mudado de país para fugir dele.

“Encontrámo-las,” o António explicou. “Pedimos para testemunharem, para nos ajudarem a pará-lo. As duas tinham medo. A família dele ameaçou-as, pagou-lhes, fez com que desaparecessem.”

A Inês ficou em silêncio. “Mãe, lembras-te quando caí das escadas no mês passado?”

O meu sangue gelou. “O quê?”

“O Tomás e eu estávamos a discutir. Sobre o meu trabalho. Ele não queria que eu aceitasse a promoção porque ia trabalhar mais horas. Pensei que era só ciúme. Mas quando disse que ia aceitar…” Ela tocou no pulso, que tinha ficado torcido. “Ele agarrou-me. Eu puxei-me e caí. Mas ele agarrou-me. Com força.”

“Porque não me disseste?” perguntei em voz baixa.

“Porque ele pediu desculpa. Trouxe-me flores. Disse que estava stressado com o casamento. Disse que nunca mais aconteceria.”

Os motoqueiros trocaram olhares. Já tinham ouvido essa história antes.

O Marco ajoelhou-se para ficar à altura da Inês. “A minha irmã disse o mesmo. Depois da primeira vez, e da segunda, e da décima. Ele pedia sempre desculpa. Tinha sempre uma desculpa. Fazia-a sentir que a culpa era dela.”

Foi então que o Tomás apareceu, empurrando os convidados confusos. “Que raio se passa aqui? Inês, porque não estás lá dentro?”

A voz dele estava cortante. Zangada. E, pela primeira vez, percebi o tom por trás do charme habitual.

“Tomás,” a Inês disse com cuidado, “estas pessoas diz”Estas pessoas dizem que já estiveste noivo de uma rapariga chamada Raquel Sousa,” a Inês respondeu, os dedos a tremerem enquanto segurava as provas que acabavam de salvar a sua vida.

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