A babá descobriu marcas estranhas nas fraldas e decidiu filmar — o que viu a deixou em pânico.

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Inês Silva trabalhava como ama em Lisboa há quase seis anos, mas nada a preparou para o que encontrou na casa dos Azevedo. Quando aceitou o emprego, tudo parecia perfeito — a casa elegante, os pais afáveis e, mais importante, o bebê alegre de nove meses, Rodrigo. A mãe, Beatriz, passava longas horas trabalhando como agente imobiliária, enquanto o pai, Pedro, era engenheiro de software e trabalhava maioritariamente de casa.

As primeiras semanas correram bem. Inês adorava Rodrigo — os seus risos enchiam a casa de alegria, e ele tinha a temperança mais serena que já vira num bebê. Mas depois, começou a reparar em coisas que não batiam certo. Sempre que lhe mudava a fralda, havia marcas vermelhas nas coxas. No início, achou que fosse irritação ou a fralda apertada, mas as marcas eram estranhas — quase como impressões de dedos.

Comentou isso com Beatriz um dia, com delicadeza. Ela pareceu genuinamente surpresa e prometeu falar com o pediatra. Na semana seguinte, porém, as marcas apareceram de novo, noutros lugares. O padrão era demasiado estranho para ignorar.

Depois, vieram os sons. Enquanto Rodrigo dormia, Inês ouvia passos no andar de cima, embora Pedro dissesse estar a trabalhar no escritório no rés-do-chão. Certa vez, foi ver o bebê e ouviu o leve clique de uma porta a fechar-se — dentro do quarto dele.

O desconforto transformou-se em temor. Uma manhã, ao encontrar outra marca — desta vez, um pequeno hematoma — tomou uma decisão. Comprou uma minúscula câmara, disfarçada de ambientador, e colocou-a num canto do quarto.

Por dois dias, nada aconteceu. No terceiro dia, enquanto Rodrigo dormia, Inês reviu as gravações no telemóvel. As mãos tremeram ao pressionar ‘play’.

Os primeiros minutos mostravam apenas o bebê a dormir. Depois, a porta abriu-se — devagar, silenciosamente. Uma figura entrou. Inês gelou. Não era Beatriz. Nem Pedro. Era alguém que nunca tinha visto antes.

Com a respiração suspensa, viu a desconhecida inclinar-se sobre o berço.

Era uma mulher, talvez na casa dos cinquenta, com um vestido desbotado de flores. Os seus movimentos eram cuidadosos, quase ternurentos, quando estendeu a mão para tocar no rosto de Rodrigo. Depois, para horror de Inês, abriu o body do bebê e pressionou algo frio e metálico contra a sua pele. Rodrigo resmungou, mas não chorou.

O primeiro instinto de Inês foi correr para casa, mas obrigou-se a continuar a ver. A mulher movia-se pelo quarto como se o conhecesse bem. Pegou na chupeta de Rodrigo, cheirou-a e sorriu — como quem revive uma memória. Depois, murmurou algo que a câmara quase não captou: “És tão parecido com ele.”

Naquela noite, Inês não dormiu. Passou horas a considerar hipóteses — uma vizinha com chave, uma parente desconhecida, uma intrusa. Mas na manhã seguinte, Pedro comentou, casualmente, que trabalharia até tarde, e Beatriz estaria numa visita até meia-noite. O horário pareceu… estranho.

Decidiu confrontá-los — mas antes, colocou mais duas câmaras: uma no corredor e outra virada para a porta da frente.

Na noite seguinte, ao rever as gravações, a verdade tornou-se ainda mais inquietante. A mulher misteriosa apareceu de novo — mas não entrou pela porta da frente ou corredor. Saiu do rés-do-chão.

O sangue gelou nas veias de Inês. O rés-do-chão era o espaço de trabalho de Pedro, que sempre insistira ser “proibido” por causa dos seus projetos confidenciais. Agora, parecia haver algo muito mais sombrio ali.

No dia seguinte, quando Pedro saiu para as compras, Inês desceu às escondidas. O ar estava húmido, com um cheiro metálico sutil. No fundo, havia uma porta trancada com um teclado. Havia arranhões à volta da fechadura — como se alguém tentara abri-la por dentro.

Recuou, com o coração aos saltos. Naquela noite, fez uma chamada anónima para a polícia, relatando um possível intruso.

Quando os agentes chegaram, Pedro mostrou-se calmo e cooperativo. Deixou-os revistar a casa, incluindo o rés-do-chão. Não encontraram nada. A porta trancada, afirmou ele, levava a um antigo arrumo. Deu o código e abriu-a: prateleiras vazias, pó e um leve cheiro a lixívia.

A polícia foi-se embora. Inês sentiu-se humilhada — mas algo ainda não fazia sentido. Por que desaparecera a mulher? Por que havia novas marcas em Rodrigo no dia seguinte?

Manteve as câmaras ligadas. Duas noites depois, viu a verdade.

A gravação começou como as outras — o quarto silencioso, Rodrigo a dormir. Depois, do canto do quadro, a porta do rés-do-chão abriu-se de novo. A mesma mulher surgiu, com um olhar vidrado e movimentos robóticos.

Mas desta vez, Pedro seguiu-a.

Inês soltou um grito abafado. Nas imagens, Pedro falava baixinho, guiando a mulher pelo braço. “Está tudo bem, Mãe,” sussurrou. “Podes vê-lo só por um minuto.”

Mãe.

A revelação atingiu Inês com força. A mulher não era uma desconhecida — era a mãe de Pedro. Mais tarde, registos policiais confirmariam que se chamava Margarida Azevedo, uma ex-enfermeira psiquiátrica dada como desaparecida há cinco anos, após ser diagnosticada com demência severa. Pedro dissera a todos que morrera num lar.

Mas não morrera. Ele escondera-a no rés-do-chão.

A gravação mostrava Pedro a destrancar a porta e a levar a mãe de volta para baixo depois de ela tocar no bebê. Antes de descerem, Margarida olhou diretamente para a câmara — como se soubesse. “É tão parecido com o meu Pedrinho,” murmurou. “Não deixes que o levem.”

Inês entregou o vídeo à polícia na manhã seguinte. Em horas, os agentes voltaram com um mandado. Atrás de uma parede falsa no rés-do-chão, encontraram um quarto improvisado — uma cama, fotos antigas e suprimentos médicos. Margarida estava lá, assustada e confusa, mas ilesa.

Pedro confessou que não suportara internar a mãe e a escondera durante anos, convencendo Beatriz de que ela falecera. Margarida subia às escondidas por uma passagem antiga para ver o neto quando Pedro não vigiava — até as câmaras de Inês revelarem tudo.

A história espalhou-se rapidamente pelo bairro. Beatriz pediu a separação pouco depois, e Pedro enfrentou acusações por sequestro e falsificação de documentos. Inês deixou a casa dos Azevedo para sempre, mas guardou a câmara disfarçada de ambientador — uma lembrança do dia em que a sua intuição salvou uma criança e desenterrou um segredo à vista de todos.

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