Ele Disse que Sentia Falta da Nossa Filha — Mas o Que Ele Queria de Verdade Partiu Seu Coração

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Quase não atendi o telefone naquela manhã de sexta-feira.

O nome de Diogo brilhando na tela me deixou paralisada—como ver um fantasma em plena luz do dia. Três anos se passaram desde que ele foi embora sem aviso, escolhendo outra mulher e outra vida a apenas alguns quarteirões de distância. Nada de adeus. Nada de explicação. Simplesmente… desapareceu.

Mas desta vez, ele parecia diferente.

“Alice,” disse ele, com a voz baixa, como se o remorso finalmente tivesse chegado. “Ando pensando… na Sofia. Quero vê-la. Quero acertar as coisas.”

Falou sobre fins de semana juntos, compensar o tempo perdido, como nunca deixou de amá-la. Parte de mim queria desligar, fechar aquela porta para sempre. Mas a outra parte—aquela que viu a Sofia adormecer abraçada ao urso de pelúcia que um dia chamou de Papai—não podia negar a ela a chance que tanto esperava.

Então, eu disse sim.

A Sofia ficou radiante. Ela própria arrumou a mala: pijama brilhante, bolachas de animais, o coelho de pelúcia já gasto e um desenho que dizia “Senti sua falta, Papai”. Olhou para mim, sorrindo com aquela esperança infantil que ao mesmo tempo cura e parte o coração.

“Vou pedir pra ele se a gente pode comer panquecas e ir ao jardim zoológico!” ela exclamou.

Eu sorri, forçando-me a acreditar que isso era bom. Que era cura.

O sábado chegou com mensagens animadas—fotos da Sofia no balanço, comendo algodão doce, montando no carrossel. Pela primeira vez em anos, senti um lampejo de paz no peito.

Mas a paz pode enganar.

No domingo à tarde, minha irmã ligou. Nunca vou esquecer o desespero na voz dela.

“Alice, olha no Instagram. Agora.”

“O que foi?” perguntei, já abrindo o aplicativo.

“Ele se casou. Hoje. A tua filha—ela estava no casamento.”

Fiquei gelada.

Lá, na minha tela, estava Diogo, sorrindo em um terno impecável, ao lado de uma mulher de branco—a Joana. E entre eles, estava a Sofia. Vestida com um vestido branco franzido que eu nunca tinha visto, segurando um buquê quase do seu tamanho, com os olhos arregalados e o corpo tenso.

Minhas mãos ficaram frias. A garganta apertou.

Liguei. Nada. Liguei de novo. Caixa postal. Outra vez.

Então, peguei o carro.

O local era uma quinta nos arredores de Lisboa. Rosas brancas enfeitavam a entrada. Champanhe fluía. Música tocava. Diogo rodopiava com a Joana sob luzinhas cintilantes enquanto os convidados brindavam ao “para sempre”.

E lá—sozinha em um banco, longe do barulho—estava a Sofia. A tiara torta, o coelho de pelúcia apertado contra o peito.

Quando me viu, correu. “Mamã,” sussurrou, enterrando o rosto no meu casaco, “podemos ir para casa agora?”

Não disse uma palavra. Peguei-a no colo e virei para sair. Foi então que a Joana apareceu no meu caminho, toda jóias e pose.

“Espera!” ela cantou. “Ainda não tiramos a foto da família!”

Eu olhei para ela.

“Ela não é um enfeite,” disse, com a voz tremendo de raiva. “É uma criança. Não um adereço para o teu sonho de conto de fadas.”

O sorriso da Joana não vacilou. “Relaxa. Ela estava adorável. Só precisávamos de uma florzinha.”

Foi então que uma das damas de honor chegou mais perto, desconfortável.

“Ela planejou isso,” murmurou. “A Joana disse que faria o Diogo ‘pedir a menina emprestada’ para as fotos ficarem perfeitas. Disse que você cairia nessa.”

O mundo girou.

Não olhei para o Diogo. Não gritei. Apenas carreguei minha filha até o carro, protegendo-a de um salão cheio de estranhos que não mereciam conhecê-la.

Em casa, coloquei-a na cama. Ela não chorou. Apenas segurou minha mão e perguntou: “Mamã… eu sou mesmo a princesinha dele?”

Engoli as lágrimas.

“Não, minha filha. Você é a minha princesa. E eu nunca vou deixar ninguém te usar de novo.”

Pela manhã, as fotos do casamento haviam sumido das redes sociais. O conto de fadas da Joana desfez-se enquanto amigos a deixavam de seguir em silêncio. Ninguém ligou. Nem mesmo o Diogo.

Aquele fim de semana foi a última vez que ele viu a Sofia.

E talvez seja o melhor.

Porque algumas pessoas não voltam para te amar—voltam para te usar. E algumas mães não apenas criam os filhos—elas os protegem daqueles que deveriam saber melhor.

Posso não ser perfeita. Já tropecei pelo caminho. Mas nunca fui embora. Nunca usei minha filha para tapar uma imagem ou vender uma mentira.

A Sofia vai crescer sabendo que amor não é algo que se conquista por estar “adorável” numa foto de casamento. É algo que se dá livremente. Com força.

E quando ela olhar para trás, não vai lembrar de quem não ficou.

Vai lembrar de quem nunca a deixou.

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