O Mistério da Escola Abandonada
Capítulo 1 – O Desafio
História sobrenatural para adolescentes, Era uma noite fresca de outono em Vila Nova, uma cidade pacata onde quase nada de emocionante acontecia. No entanto, entre os adolescentes do liceu local, havia sempre espaço para desafios malucos e histórias assustadoras contadas nos intervalos.
A mais famosa era sobre a Escola da Colina, um edifício antigo que ficava a poucos quilómetros da cidade. Há mais de vinte anos, a escola fora fechada depois de um incêndio misterioso numa das alas principais. Nunca ninguém soubera exatamente o que acontecera, mas os rumores diziam que uma aluna chamada Clara tinha morrido presa nas chamas. Desde então, ninguém se atrevia a entrar lá à noite.
Nessa sexta-feira, no café onde os jovens costumavam reunir-se, Pedro lançou um desafio:
— Aposto que nenhum de vocês tem coragem de passar uma noite inteira na Escola da Colina.
Os amigos olharam uns para os outros. Sofia, corajosa mas sempre racional, respondeu:
— Isso é só uma lenda. Não há fantasmas. Se tu vais, eu vou contigo.
Rita, sempre nervosa mas incapaz de ficar de fora, acrescentou:
— Eu não queria… mas se vocês forem, eu também vou.
Tiago, o brincalhão do grupo, completou:
— Perfeito! Quatro corajosos a enfrentar o além!
E assim ficou decidido. Às onze da noite, iriam entrar na escola abandonada e ficar até ao nascer do sol.
Capítulo 2 – A Chegada à Escola
À hora marcada, os quatro encontraram-se com mochilas, lanternas e telemóveis prontos para filmar a aventura. O portão enferrujado da escola rangeu quando Pedro o empurrou. O vento frio parecia sussurrar entre as árvores que rodeavam o edifício.
— Bem-vindos ao nosso hotel cinco estrelas! — disse Tiago em tom de brincadeira.
O edifício estava em ruínas, com janelas partidas, paredes cobertas de grafitis e corredores escuros que pareciam não ter fim. À medida que entravam, os ecos dos seus passos faziam parecer que estavam a ser seguidos.
Sofia parou e disse:
— Lembrem-se, é só uma construção velha. O medo está na nossa cabeça.
Mas, no fundo, até ela sentia arrepios.
Capítulo 3 – Os Primeiros Estranhos Acontecimentos
Instalaram-se numa sala de aula com carteiras partidas e quadros riscados. Acenderam lanternas e começaram a explorar.
De repente, ouviram um som vindo do corredor: um toc-toc-toc, como se alguém estivesse a bater na parede.
— Deve ser o vento — disse Pedro, tentando manter a calma.
Mas o som repetiu-se, agora mais forte.
Rita agarrou-se ao braço de Sofia.
— Eu quero ir embora… isto não é brincadeira.
Tiago, rindo nervosamente, pegou no telemóvel e filmou o corredor escuro.
— Fantasmas, apareçam! Estamos à vossa espera!
Nesse instante, uma porta ao fundo abriu-se sozinha com um estrondo.
Capítulo 4 – O Retrato de Clara
Decidiram investigar a porta que se abrira. Entraram numa sala onde ainda havia alguns livros queimados no chão. Mas o que mais chamou a atenção foi um retrato antigo pendurado torto na parede.
Era a fotografia de uma turma antiga. Entre os alunos, destacava-se uma rapariga de olhos claros e cabelo comprido. Na parte inferior, lia-se: Turma de 1999 – Clara Mendes.
Rita levou a mão à boca.
— É ela… a rapariga que morreu no incêndio.
Sofia aproximou-se para observar melhor, mas nesse momento as luzes das lanternas começaram a piscar. O ar ficou gelado, como se alguém tivesse aberto um frigorífico invisível.
E então, todos ouviram claramente uma voz suave a sussurrar:
— Ajudem-me…
Capítulo 5 – O Espírito Preso
Apavorados, os quatro recuaram. Mas a voz voltou, desta vez mais desesperada:
— Ajudem-me… não consigo sair daqui…
Pedro engoliu em seco.
— Talvez… talvez ela esteja presa aqui.
Sofia, sempre a mais racional, respondeu:
— Se isto for real, talvez haja algo que possamos fazer por ela.
Seguindo os sussurros, chegaram à biblioteca da escola. Apesar do incêndio, muitas estantes ainda estavam de pé. No canto, encontraram um diário chamuscado. Era de Clara.
As páginas falavam de bullying, de como era gozada pelos colegas e ignorada pelos professores. A última frase dizia:
“Amanhã vou finalmente enfrentar os meus medos. Não posso continuar assim.”
Foi nesse dia que a escola ardeu.
Capítulo 6 – O Enigma do Incêndio
Enquanto liam o diário, ouviram novamente passos atrás deles. Quando se viraram, viram uma figura translúcida no meio da sala: uma rapariga jovem, com o uniforme escolar queimado em algumas partes.
Era Clara.
— Não tive escolha… — disse o fantasma, com lágrimas nos olhos. — Eles trancaram-me aqui… eu não consegui escapar.
Os amigos gelaram. Clara não se suicidara; fora vítima.
— Quem? — perguntou Sofia, a tremer. — Quem te trancou?
Mas antes que pudesse responder, um estrondo ecoou pelo corredor. Todas as portas da biblioteca fecharam-se com violência.
Capítulo 7 – O Encontro com a Sombra
De repente, Clara gritou:
— Ele ainda está aqui! Fujam!
Uma sombra escura surgiu no teto e desceu lentamente, tomando a forma de um homem alto e sem rosto.
Pedro tentou abrir a porta, mas estava trancada. Tiago arremessou uma cadeira contra a janela, mas o vidro não quebrou.
A sombra avançava, emitindo um som gutural. As lanternas apagaram-se sozinhas.
Clara colocou-se entre os adolescentes e a criatura.
— Não vou deixar que ele vos faça mal, como fez a mim!
Com um grito, a sombra atacou, mas a figura de Clara brilhou intensamente e repeliu-a.
Capítulo 8 – A Descoberta da Verdade
Quando a luz se apagou, a sombra tinha desaparecido. Clara, enfraquecida, olhou para os jovens.
— Preciso que contem a verdade… digam ao mundo o que me aconteceu. Só assim terei paz.
Sofia segurou-lhe a mão fria como gelo.
— Nós vamos, prometemos.
Nesse momento, o diário que estava no chão abriu-se sozinho numa página escondida. Lá estava escrito o nome dos rapazes que tinham fechado a porta da biblioteca naquela noite fatídica. Eram colegas de Clara que, por maldade, a tinham prendido lá dentro. O incêndio começara pouco depois.
Capítulo 9 – A Fuga
De repente, a sombra regressou, ainda mais forte.
— A verdade nunca sairá daqui! — rugiu.
A biblioteca começou a tremer, livros caíam das estantes, e uma rachadura abriu-se no teto.
Pedro conseguiu finalmente arrombar a porta, e os quatro correram pelos corredores escuros. Mas a sombra continuava atrás deles.
Quando chegaram à saída, Clara apareceu uma última vez.
— Vão! Levem o diário com vocês. Eu vou segurá-lo.
— Não! — gritou Rita, chorando. — Vem connosco!
Mas Clara sorriu tristemente.
— O meu lugar não é no vosso mundo. Obrigada…
E, com um brilho intenso, enfrentou a sombra, que desapareceu numa explosão de luz.
Capítulo 10 – O Amanhecer
Os quatro amigos saíram da escola exatamente quando o sol começava a nascer. Estavam exaustos, assustados, mas vivos.
Na mão de Sofia estava o diário de Clara.
Durante semanas, investigaram os nomes escritos nele. Descobriram que os rapazes responsáveis nunca tinham sido acusados de nada. Tinham seguido as suas vidas normalmente, como se nada tivesse acontecido.
Graças à persistência do grupo, a história foi publicada no jornal local. Pela primeira vez, o nome de Clara foi lembrado não como uma lenda, mas como uma vítima que merecia justiça.
Epílogo – A Lição
Meses depois, os quatro voltaram à colina. A escola ainda estava em ruínas, mas algo parecia diferente: já não havia aquele peso sufocante no ar.
Pedro deixou flores junto ao portão e disse:
— Descansa em paz, Clara.
Todos sentiram uma brisa suave, como se fosse uma resposta.
Perceberam então que as histórias sobrenaturais não são apenas sobre medo. São sobre verdades escondidas, dores não resolvidas e vozes que pedem para ser ouvidas.
E, desde aquela noite, nenhum deles voltou a duvidar que o mundo guarda mistérios muito maiores do que se imagina.