O mar estava agitado: nuvens escuras cobriam o horizonte, o vento erguia ondas altas, e um velho navio enferrujado avançava com dificuldade contra a correnteza. Os marinheiros, em pé no convés, observavam as águas quando, de repente, um deles avistou algo inesperado.
— Olhem! — gritou um dos homens, apontando. — Há um cão na água!
Todos se reuniram à borda. Era verdade: uma pastor alemão nadava sozinha no meio da imensidão do oceano. Os marinheiros trocaram olhares perplexos. Como um animal poderia estar ali, tão longe de tudo?
— Deve estar perdida… Temos de salvá-la — disse o capitão, António Mendes.
O navio aproximou-se devagar, mas, ao avistar os homens, a cadela não veio em sua direção. Em vez disso, virou-se e começou a nadar para longe, com determinação.
— Mas que diabo? — murmurou um marinheiro. — Ela não quer ser salva…
A curiosidade e um certo temor falaram mais alto, e a tripulação decidiu segui-la. Por alguns minutos, perseguiram o animal até que algo à frente os fez gelar de horror.
Entre as ondas, os destroços de um pequeno barco de madeira balançavam. Entre as tábuas quebradas, pessoas desesperadas agarravam-se ao que restava, exaustas e quase sem forças para continuar lutando.
— Náufragos! — bradou o capitão.
Imediatamente, a tripulação lançou-se ao resgate. Cordas, botes e redes foram usados para puxar os sobreviventes, que mal conseguiam erguer os braços. Entre eles, estava uma mulher, de nome Isabel Ferreira, e dois adolescentes, pálidos, os lábios azulados de frio.
Quando todos estavam a bordo, Isabel abraçou a pastor alemã, molhada e ofegante, que subira por último. Era o seu fiel companheiro.
O barco em que estavam fora surpreendido por uma tempestade repentina, despedaçado pelas ondas. Passaram horas lutando contra o mar, a esperança desvanecendo a cada minuto.
Mas foi o cão quem primeiro avistou o navio. Sabendo que era a única chance de salvar sua família, nadou em direção aos marinheiros, atraindo-lhes a atenção.
— Foi ele quem nos salvou… o nosso herói — soluçou Isabel, apertando o animal contra o peito.
Os marinheiros olharam em silêncio. Até os mais experientes, que já tinham visto de tudo no mar, nunca haviam testemunhado tamanha lealdade.