O milionário chega mais cedo em casa e não acredita no que vê. Eduardo Silva estava acostumado a chegar em casa sempre depois das 21h, quando todos já dormiam.
Naquele dia, porém, a reunião com os investidores em Lisboa terminou mais cedo do que o esperado, e ele decidiu ir direto para casa sem avisar ninguém. Ao abrir a porta da mansão no bairro do Estoril, Eduardo parou na entrada e não conseguiu processar o que seus olhos viam. Ali, no meio da sala de estar, estava Mariana, a empregada doméstica de 28 anos, ajoelhada no chão molhado com um pano na mão.
Mas não era isso que o deixou paralisado. Era a cena ao lado dela. Seu filho Tomás, de apenas 4 anos, estava de pé com suas pequenas muletas roxas, segurando um pano de cozinha e tentando ajudar a jovem a limpar o chão.
“Tia Mariana, eu consigo limpar essa parte aqui”, dizia o menino louro, esticando o bracinho com dificuldade.
“Calma, Tomás, você já me ajudou muito hoje. Que tal se sentar ali no sofá enquanto eu termino?”, respondia Mariana com uma voz suave que Eduardo nunca havia ouvido antes.
“Mas eu quero ajudar! Você sempre diz que somos uma equipe”, insistia o menino, tentando manter o equilíbrio nas muletas.
Eduardo ficou ali, imóvel, observando a cena sem ser notado. Havia algo naquela interação que o emocionou de um jeito que não conseguia explicar. Tomás estava sorrindo, algo que o empresário raramente via em casa.
“Está bem, meu pequeno ajudante, mas só mais um pouquinho, ok?”, disse Mariana, aceitando a ajuda do menino.
Foi então que Tomás viu o pai parado na porta. Seu rostinho se iluminou, mas havia uma mistura de surpresa e medo em seus olhos azuis.
“Pai, você chegou cedo!”, exclamou o menino, tentando se virar rápido e quase perdendo o equilíbrio.
Mariana levantou assustada, deixando o pano cair no chão, limpou as mãos rapidamente no avental e baixou a cabeça.
“Boa noite, senhor Eduardo. Eu… não sabia que o senhor… já estava terminando a limpeza”, gaguejou, claramente nervosa. Eduardo ainda estava processando a cena.
Olhou para o filho, que ainda segurava o paninho, e depois para Mariana, que parecia querer desaparecer.
“Tomás, o que você está fazendo?”, perguntou Eduardo, tentando manter a calma na voz.
“Estou ajudando a tia Mariana, pai. Olha só!” Tomás deu alguns passos desengonçados em direção ao pai, orgulhoso. “Hoje consegui ficar de pé sozinho por quase cinco minutos!”
Eduardo olhou para Mariana, buscando uma explicação. A empregada continuava de cabeça baixa, torcendo as mãos nervosamente.
“Cinco minutos?”, repetiu Eduardo, surpreso. “Como assim?”
“A tia Mariana me ensina exercícios todos os dias. Ela diz que se eu praticar muito, um dia vou conseguir correr como as outras crianças”, explicou Tomás, animado.
O silêncio pesou no ar. Eduardo sentia uma mistura de emoções que não sabia nomear. Raiva, gratidão, confusão. Voltou a olhar para Mariana.
“Exercícios?”, questionou.
Mariana finalmente ergueu o olhar, seus olhos castanhos cheios de medo.
“Senhor Eduardo, eu só estava brincando com o Tomás. Não quis fazer nada errado. Se o senhor quiser, eu—”
Tomás interrompeu, se movendo rápido para ficar entre os dois adultos.
“Pai, a tia Mariana é a melhor. Ela nunca desiste de mim quando eu choro porque dói. Ela diz que eu sou forte como um guerreiro.”
Eduardo sentiu algo apertar em seu peito.
Quando foi a última vez que vira o filho tão feliz? Quando foi a última vez que conversara com ele por mais de cinco minutos?
“Tomás, vai para o seu quarto. Preciso falar com a Mariana”, disse Eduardo, tentando soar firme, mas gentil.
“Mas pai—”
“Agora, Tomás.”
O menino olhou para Mariana, que lhe deu um sorriso encorajador, como se dissesse que estava tudo bem.
Tomás saiu mancando com suas muletas, mas antes de sumir na escada, gritou:
“A tia Mariana é a melhor pessoa do mundo!”
Eduardo e Mariana ficaram sozinhos na sala. O empresario se aproximou, notando pela primeira vez que a empregada tinha manchas de umidade nos joelhos da calça azul e que suas mãos estavam vermelhas de tanto esfregar o chão.
“Desde quando isso acontece?”, perguntou ele.
“Senhor?”
“Desde quando você faz exercícios com o Tomás?”
Mariana hesitou antes de responder.
“Desde que comecei a trabalhar aqui, senhor. Faz uns seis meses. Mas juro que nunca deixei de fazer meu trabalho por causa disso. Faço os exercícios com ele na minha hora de almoço ou depois de terminar tudo.”
“E você não recebe extra por isso”, observou Eduardo.
“Não, senhor. E não estou pedindo nada. Eu gosto de brincar com o Tomás. Ele é uma criança especial.”
“Especial como?”
Mariana pareceu surpresa com a pergunta.
“Ah, senhor Eduardo…”, ela sorriu pela primeira vez desde que ele chegara. “Ele é determinado. Mesmo quando os exercícios são difíceis e ele quer chorar, não desiste. E tem um coração enorme. Sempre se preocupa se estou cansada, se estou triste. É uma criança muito carinhosa.”
Eduardo sentiu aquela pressão no peito de novo.
Quando foi a última vez que ele parara para notar essas qualidades no próprio filho?
E os exercícios, como você sabe o que fazer?”, continuou ele.
Mariana baixou a cabeça novamente.
“Eu… tenho experiência com isso, senhor.”
“Que tipo de experiência?”
Houve uma longa pausa. Mariana parecia lutar consigo mesma sobre o que dizer.
“Meu irmão mais novo, o João, nasceu com problemas nas pernas. Passei minha infância levando ele à fisioterapia, aprendendo exercícios, ajudando-o a andar. Quando vi o Tomás, não consegui ficar parada vendo ele triste.”
“Triste?”
“Senhor, com todo respeito, o Tomás fica muito sozinho. A senhora Beatriz está sempre ocupada com as amigas, e o senhor… bem, o senhor trabalha muito. Então eu pensei que… talvez eu pudesse ajudar.”
Eduardo ficou em silêncio por um momento.
Se você não quer que eu faça, paro imediatamente. Só queria…”, Mariana levantou o olhar e, pela primeira vez, Eduardo viu determinação em seus olhos.
“Queria vê-lo sorrir mais, senhor. Uma criança deveria sorrir todos os dias.”
Eduardo não conseguia lembrar a última vez que vira Tomás sorrir nas últimas semanas.
“Onde está a Beatriz?”, perguntou.
“A senhora saiu para jantar com as amigas. Disse que voltaria tarde.”
“E você ficou aqui com o Tomás.”
“Sim, senhor. Ele jantou, tomou banho, fizemos os exercicios e eu estava terminando de limpar porque ele derrubou o sumo na sala. Ele quis me ajudar.”
Eduardo olhou em volta, percebendo pela primeira vez como tudo estava impecável. Os móveis brilhavam, não havia um grão de pó e até as plantas pareciam mais vivas.
“Mariana, posso fazer uma pergunta pessoal?”
“Claro, senhor.”
“Por que trabalha como empregada doméstica?”
A pergunta pegou Mariana de surpresa.
“Como assim, senhor?”
“Você claramente tem conhecimento de fisioterapiaEduardo, com os olhos cheios de lágrimas, abraçou Tomás enquanto olhava para Mariana, percebendo que a verdadeira riqueza não estava em seu banco, mas naquela família que ele quase perdeu.