Lisboa estava silenciosa naquela noite chuvosa. O Tejo refletia luzes tremeluzentes que piscavam como avisos no escuro. O vento frio carregava cheiro de sal e chuva. Entre as ruas estreitas de Alfama, o investigador privado Miguel Torres caminhava apressado. Envolvia-se no seu casaco escuro, como se estivesse a tentar proteger-se de algo mais que frio.
No seu bolso, o telefone vibrava com uma mensagem enigmática:
“Procure o eco final antes que desapareça. Lisboa está em perigo.”
Não havia remetente. Não havia explicação. Mas Miguel sabia que não podia ignorar.
Anos atrás, Miguel fora investigador num caso que mudara a sua vida — um caso que terminara em traição e desaparecimento. Agora, um sinal misterioso voltava a puxá-lo para o abismo.
Ele apertou o casaco, acelerou o passo e entrou num café perto da Praça do Comércio.
Capítulo Um — O Sussurro da Noite
O Café A Brasileira estava quase vazio. O som da chuva a bater contra a vidraça dava um tom sombrio ao ambiente. Miguel sentou-se num canto discreto e abriu um envelope negro encontrado minutos antes num banco em Alfama.
Dentro havia um pequeno pendrive e uma nota com letras irregulares:
“O eco final está em Alfama. Confie apenas em quem não teme o silêncio.”
Miguel hesitou antes de ligar o pendrive no seu portátil. Um vídeo surgiu. Um homem encapuzado, com voz distorcida pelo áudio, murmurava:
“O relógio está a contar. Lisboa não terá amanhã se não for detido.”
As imagens mostravam um dispositivo estranho, com luzes vermelhas e um som baixo e pulsante — um eco perturbador. Miguel sabia que aquilo não era um aviso qualquer. Era uma ameaça real.
Guardou o portátil na mala e saiu apressado. Alfama chamava-o de volta.
Capítulo Dois — Alfama e o Labirinto de Sombras
Nas ruas estreitas e labirínticas de Alfama, Miguel sentia os olhos de alguém a observá-lo. Cada esquina parecia esconder sombras. As pedras molhadas refletiam a luz amarelada dos candeeiros.
Na loja de um antiquário, um homem velho olhou-o de forma estranha e disse:
— Procura respostas, mas aqui encontra apenas perguntas.
Miguel entregou-lhe o mapa que encontrou junto ao pendrive. O homem tocou no papel e murmurou:
— Onde o eco se perde, a verdade respira.
Miguel saiu com o mapa enrolado no bolso. No instante em que virou a esquina, sentiu passos atrás de si. Virou-se rapidamente e viu uma figura mascarada desaparecer entre as sombras. Um frio percorreu-lhe a espinha. Ele sabia que não estava sozinho.
A pista levava-o à Estação do Rossio. Era apenas o começo de algo muito maior.
Capítulo Três — A Corrida por Lisboa
Na estação, Miguel encontrou outro envelope escondido atrás de um painel de madeira. Dentro, um bilhete com coordenadas para Sintra e um aviso:
“O relógio não espera.”
Ele apanhou o último comboio para Sintra. No caminho, sentia o peso da urgência. Sabia que cada segundo poderia ser decisivo.
Chegando, a neblina envolvia a vila. As ruas pareciam respirar mistério. Miguel seguiu o mapa até uma casa abandonada marcada com o mesmo símbolo do relógio antigo. No interior, um corredor estreito levava-o a uma sala secreta onde um relógio enorme batia horas sem parar.
Sobre a mesa, um bilhete:
“A verdade será revelada quando o último eco se extinguir.”
Miguel tocou no relógio. Um som baixo ecoou. Um arrepio percorreu-lhe a nuca. A pista final aproximava-se.
Capítulo Quatro — O Enigma do Relógio
Miguel percebeu que o relógio não marcava tempo comum. Era um dispositivo codificado ligado a pontos estratégicos em Lisboa.
Decidiu começar pelo Elevador de Santa Justa. Lá encontrou uma caixa metálica cravada numa parede antiga. Dentro, uma chave e outro bilhete:
“O próximo eco está onde a luz se encontra com a pedra.”
Miguel sabia que a pista levava-o ao Mosteiro dos Jerónimos. Mas havia algo mais — alguém o seguia silenciosamente. Cada passo seu fazia a sensação de perigo aumentar.
No caminho, ele sentiu um toque no ombro. Virou-se e encontrou Clara, uma figura do seu passado, desaparecida há anos.
— Miguel… não podemos parar agora — disse ela com urgência. — Eles sabem que estamos perto.
Miguel olhou-a com desconfiança, mas decidiu confiar. Juntos seguiram até Belém.
Capítulo Cinco — A Verdade Revelada
No Mosteiro dos Jerónimos, o eco tornou-se mais intenso. Clara guiou Miguel até uma sala esquecida. Lá, uma máquina antiga emitia um som estranho, quase hipnótico. Era como se o edifício respirasse.
Clara explicou:
— Este é o dispositivo. Está ligado a um plano para controlar Lisboa. Um ataque em larga escala está prestes a acontecer.
Miguel percebeu que o relógio não era apenas uma pista — era a chave para impedir o desastre. O seu coração batia acelerado. A adrenalina corria-lhe nas veias.
Eles tinham pouco tempo.
Capítulo Seis — O Confronto Final
Seguindo a última pista, Miguel e Clara correram pelas ruas estreitas de Belém até a uma entrada subterrânea. O relógio marcava minutos finais. O silêncio ao redor era quase sufocante.
Dentro, encontraram um grupo armado. Um confronto feroz começou: tiros ecoaram pelas paredes da caverna, respingos de água surgiam ao longo da sala. Miguel lutou com precisão, enquanto Clara trabalhava no dispositivo.
O tempo passava. O eco tornava-se mais intenso e ameaçador. Finalmente, Clara conseguiu desligar a máquina. O silêncio caiu sobre Lisboa como uma nova alvorada.
Miguel e Clara estavam exaustos, cobertos de lama e suor, mas vivos.
Epílogo — O Eco que Resta
Lisboa despertou no dia seguinte sem saber que esteve à beira da destruição. O dispositivo desaparecera, e Clara também. Miguel voltou a caminhar pelas ruas de Alfama, sentindo a chuva suave bater-lhe na cara.
No bolso, guardava o pendrive agora silencioso.
Recebeu uma última mensagem:
“O eco nunca morre. Ele espera pelo próximo guardião.”
Miguel olhou para o Tejo. Sabia que aquela noite não seria esquecida. Lisboa ainda respirava perigo, mas também esperança. E ele estava pronto para ouvir o próximo eco.