Pai, Ajude Aquela Mãe Desamparada… E Naquela Noite, Tudo Mudou

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**Diário Pessoal**

“Pai, ajuda a senhora”, suplicou a menina ao ver a mulher. O CEO não imaginava que aquela noite gelada iria mudar a sua vida. “Pai, para. O bebê dela está congelando.” João continuou a caminhar, puxando Lara pela mão. “Querida, não podemos ajudar toda a gente, por favor.” Lara soltou-se e correu para o banco. João virou-se.

Uma jovem mulher estava sentada no banco coberto de neve, abraçando um embrulho contra o peito. A roupa estava rasgada, o rosto pálido como a neve. Lara ajoelhou-se à sua frente. “Senhora, está bem?” A mulher ergueu a cabeça devagar. Os olhos vazios encontraram os de Lara. “O meu bebê…”, a voz quebrou. “Já não chora.” João sentiu o coração parar.

Correu até elas e ajoelhou-se. O bebê nos braços da mulher tinha os lábios azuis. “Meu Deus.” Tirou o casaco e cobriu-a. Depois, envolveu o bebê com o seu cachecol vermelho. “Quanto tempo estão aqui?” “Não… não sei.” As palavras mal saíam dos lábios dormentes. João segurou-a pelo braço. “O meu carro está perto. Precisamos ir ao hospital agora.”

“Não posso…” “O seu bebê está a morrer.” A voz de João foi mais dura do que pretendia. “Entende?” A mulher assentiu, tremendo. João ajudou-a a levantar-se. Lara segurou a mão livre dela. “Vai ficar tudo bem”, sussurrou a menina. No carro, João conduziu acima do limite.

Lara estava no banco de trás, segurando a mão da mulher. “Como se chama?” “Cláudia.” “Eu sou a Lara. E o seu bebê?” “Pedro.” Uma lágrima escorreu pela face de Cláudia. “Chama-se Pedro.” “É um nome bonito.” João observou-as pelo retrovisor. Lara sorria para Cláudia com a mesma doçura que herdara da mãe falecida.

Chegaram ao hospital em 10 minutos. João carregou Cláudia enquanto ela segurava o bebê. Lara correu à frente para abrir as portas. “Ajuda!”, gritou João. “O bebê não reage!” Duas enfermeiras correram com uma maca. Tiraram Pedro dos braços de Cláudia. “Quanto tempo esteve exposto ao frio?” perguntou uma. Cláudia não respondeu. Olhava fixamente para as portas onde levaram Pedro.

“Não sabemos”, disse João. “Encontrámo-la num parque.” “Precisamos de informações do bebê. Idade, condições médicas, vacinas.” Cláudia continuava imóvel. “Senhora”, a enfermeira tocou-lhe no braço. “Precisamos da sua identificação.” “Não.” A palavra saiu como um sussurro aterrorizado. “É protocolo.” “Já disse que não!” Cláudia recuou, os olhos selvagens.

João colocou-se entre ela e a enfermeira. “Dê-lhe um momento. Ela está em choque.” A enfermeira franziu a testa. “Se não cooperar, teremos de chamar a polícia.” “Eu assumo a responsabilidade.” João tirou a carteira. “Sou João Almeida. Pagarei todas as despesas.” A enfermeira olhou para o cartão que ele lhe estendeu. Os olhos arregalaram-se ao ver o nome. “O CEO da Tecnosul.” “Sim. Por favor, ajudem o bebê primeiro. Depois resolvemos a papelada.”

A enfermeira assentiu e foi embora. João virou-se para Cláudia, que escorregara para o chão, tremendo. Lara sentou-se ao lado dela e segurou-lhe a mão. “O Pedro vai ficar bem. Os médicos aqui são muito bons. Salvaram a minha avó quando teve um enfarte.” Cláudia olhou para a menina. Algo nos olhos mortos pareceu despertar. “Obrigada”, sussurrou.

Passou uma hora, depois duas. Lara adormeceu na cadeira da sala de espera, a cabeça apoiada no ombro de Cláudia. João observava-as. Cláudia não se mexera o tempo todo. Apenas olhava para as portas fechadas da emergência, esperando.

Uma mulher alta, de fato, entrou na sala e reconheceu João. “Patrícia, a tua secretária ligou-me. Disse que estavas no hospital com uma sem-abrigo.” Patrícia olhou para Cláudia. “O que se passa, João?” “Encontrámos o bebê dela a congelar-se num parque e decidiste trazê-la aqui em vez de chamar os serviços sociais.” “Era uma emergência.” Patrícia cruzou os braços.

“Eu sou assistente social, irmão. Isto é exatamente o tipo de situação que devias ter reportado.” “Eu sei. Mas a Lara estava lá. E ela…” “A Lara tem sete anos, não pode insistir em nada.” Um médico saiu da emergência. Todos viraram-se. “Familiares de Pedro Silva?”

Cláudia levantou-se tão rápido que quase acordou Lara. “Sou a mãe dele.” “O bebê está estável. Teve hipotermia severa, mas respondeu bem ao tratamento.” O médico fez uma pausa. “Também está desnutrido. Quando foi a última vez que comeu?” Cláudia apertou os punhos. “Esta manhã, leite materno.” “Quantas onças?” “Duas.” O médico escreveu na tabela.

“Um bebê de três meses precisa de pelo menos quatro onças a cada três horas.” “Porque não tinha mais”, a voz de Cláudia soou oca. “Aquela era toda a fórmula que me restava.” Silêncio. Patrícia deu um passo à frente. “Doutor, sou Patrícia Almeida, assistente social. Posso falar consigo em privado?”

Cláudia deixou-se cair na cadeira novamente. João sentou-se à sua frente. “Há quanto tempo estás na rua?” “Três semanas.” “E o pai do bebê?” Ela fechou os olhos. “Não fale dele.” “Preciso de entender.” “Não precisas de entender nada.” Abriu os olhos, e João viu terror puro neles. “Assim que puder levar o meu filho, vou embora. Obrigada pela ajuda, mas não te envolvas mais.”

“Já estou envolvido.” “Não estás. Isto”, apontou em volta, “isto é caridade. E a caridade acaba quando eu sair por aquela porta.” Lara acordou e bocejou. “O Pedro já saiu?” Cláudia afagou o cabelo da menina com mãos trémulas. “Está bem, graças a ti e ao teu pai.”

“Ficarão connosco.” “Lara”, começou João, “lembras-te da casinha de visitas no jardim? Está vazia.” João olhou para a filha, depois para Cláudia. Patrícia regressou com o médico. “Senhora Silva, precisa de preencher estes formulários. Nome completo, morada, contacto de emergência.”

“Não posso.” “É obrigatório.” “Já disse que não posso.” Patrícia suspirou. “Se não cooperar, teremos de reportar isto às autoridades.” “Façam-no.” Cláudia levantou-se. “Reportem-me, mas não darei o meu nome a ninguém. Entendem? A ninguém.”

“Porquê?” perguntou Patrícia com voz mais suave. Cláudia olhou para ela. Os lábios tremiam. “Porque, se ele descobrir onde estou, mata-me e leva o meu filho.” João sentiu algo partir-se no seu peito. Levantou-se. “Ficarás em minha casa, tu e o Pedro. Não estou a pedir. Até ser seguro para ti ires para outro lugar sem perguntas, sem formulários. Entendido?”

Patrícia olhou para ele como se tivesse enlouquecido. “João, não pE, enquanto a noite caía sobre a cidade, Cláudia olhou pela janela da casinha do jardim, sentindo, pela primeira vez em anos, que talvez houvesse esperança.

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