Rico Chega Mais Cedo e Se Surpreende com o Inesperado

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O milionário chegou mais cedo em casa e não acreditou no que viu. Afonso Costa estava acostumado a chegar apenas depois das 21h, quando todos já dormiam.

Naquele dia, porém, a reunião com investidores em Lisboa terminara antes do previsto, e ele decidiu ir direto para casa sem avisar. Ao abrir a porta da mansão no bairro do Estoril, Afonso parou no hall de entrada e não conseguiu processar a cena. Ali, no meio da sala, estava Leonor, a empregada doméstica de 28 anos, ajoelhada no chão molhado com um pano na mão.

Mas não era isso que o deixara petrificado. Era a cena ao lado dela. Seu filho Diogo, de apenas 4 anos, estava em pé com suas muletinhas lilás, segurando um pano de prato e tentando ajudar a jovem.

“Tia Leonor, eu consigo limpar esta parte aqui”, dizia o menino loiro, esticando o bracinho com dificuldade.

“Calma, meu anjinho, já me ajudaste muito hoje. Que tal te sentares no sofá enquanto eu termino?”, respondeu Leonor com uma doçura que Afonso nunca lhe ouvira.

“Mas eu quero ajudar! A senhora sempre diz que somos uma equipa!”, insistia Diogo, equilibrando-se nas muletas.

Afonso ficou imóvel, observando aquela interação que lhe apertava o peito de um jeito inexplicável. Diogo sorria – algo raro naquele lar.

“Está bem, meu ajudante, mas só mais um pouquinho, sim?”, cedera Leonor.

Foi então que Diogo avistou o pai na entrada. Seu rostinho iluminou-se, mas havia um misto de surpresa e medo em seus olhos verdes.

“Pai, chegaste cedo!”, exclamou, virando-se rápido e quase perdendo o equilíbrio.

Leonor levantou assustada, deixando o pano cair. Enxugou as mãos no avental e baixou a cabeça.

“Boa-noite, senhor Afonso. Eu… não sabia que o senhor… já estou terminando a limpeza”, gaguejou, nervosa.

Afonso ainda processava a cena. Olhou para Diogo, ainda com o paninho, depois para Leonor, que parecia querer sumir.

“Diogo, o que estás a fazer?”, perguntou, contendo a voz.

“Estou a ajudar a tia Leonor, pai! Olha só!” Diogo deu passinhos cambaleantes em direção ao pai, orgulhoso. “Hoje consegui ficar em pé quase 5 minutos sozinho!”

Afonso mirou Leonor, buscou explicação. A empregada torcia as mãos, nervosa.

“Cinco minutos?”, repetiu Afonso, surpreso. “Como assim?”

“A tia Leonor me ensina exercícios todos os dias. Ela diz que se eu praticar, um dia vou correr como os outros meninos”, explicou Diogo, entusiasmado.

O silêncio pesou na sala. Afonso sentia raiva, gratidão, confusão.

“Exercícios?”, questionou.

Leonor ergueu o rosto, seus olhos castanhos cheios de medo. “Senhor Afonso, eu só brincava com o Diogo. Não quis fazer mal. Se o senhor quiser, posso…”

“Pai!”, interrompeu Diogo, colocando-se entre os dois. “A tia Leonor é a melhor! Ela não desiste de mim quando choro de dor. Diz que sou forte como um cavaleiro!”

Algo apertou o peito de Afonso. Quando foi a última vez que vira o filho tão feliz?

“Diogo, vai para o teu quarto. Preciso falar com a Leonor.”

“Mas pai…”

O menino olhou para Leonor, que lhe deu um sorriso encorajador. Diogo saiu mancando, mas antes de sumir no corredor, gritou:

“A tia Leonor é a melhor pessoa do mundo!”

Sozinhos na sala, Afonso aproximou-se. Notou então as manchas de água nos joelhos da calça azul da empregada, suas mãos vermelhas de tanto esfregar.

“Há quanto tempo isto acontece?”, perguntou.

“Senhor… os exercícios…”

“Há quanto tempo fazes exercícios com ele?”

Leonor hesitou. “Desde que comecei aqui, há seis meses. Mas juro que nunca deixei meu trabalho por isso. Faço na hora do almoço ou depois de terminar tudo.”

“E não recebes extra por isso.”

“Não, senhor. E não peço nada. Gosto de brincar com o Diogo. Ele é… especial.”

“Especial como?”

Leonor surpreendeu-se. “Como assim, senhor?”

“Disseste que é especial. Especial como?”

Ela sorriu pela primeira vez desde que ele chegara.

“É determinado, senhor. Mesmo quando dói, não desiste. Tem um coração enorme – pergunta se estou cansada, se estou triste…”

Aquela descrição cortou Afonso como uma faca. Quando foi a última vez que notara isso no próprio filho?

“E os exercícios? Como sabes o que fazer?”

Leonor baixou a cabeça. “Tenho… experiência com isso.”

“Que experiência?”

Ela lutou consigo mesma antes de responder:

“Meu irmão mais novo, Rodrigo, nasceu com problemas nas pernas. Passei a infância levando-o à fisioterapia, aprendendo exercícios… Quando vi o Diogo, não consegui ficar parada. O menino fica tão só, senhor. A senhora Beatriz sempre com as amigas, e o senhor… bem, trabalha muito.”

Afonso engoliu seco. “Onde está Beatriz?”

“Foi jantar com as amigas. Disse que voltaria tarde.”

Ele olhou ao redor. A sala estava impecável – móveis brilhando, plantas viçosas.

“Leonor, porque trabalhas como empregada?”

A pergunta pegou-a de surpresa. “Como assim, senhor?”

“Tens conhecimento de fisioterapia, és boa com crianças. Por que não trabalhas na saúde?”

Ela sorriu triste. “Não tenho diploma, senhor. Aprendi cuidando do Rodrigo, mas isso não vale para nada oficial. E preciso sustentar minha mãe e meu irmão.”

Afonso sentiu vergonha. Aquela jovem trabalhava como uma escrava, mas ainda assim encontrava energia para cuidar de seu filho.

“E nunca pensaste em estudar fisioterapia?”

Leonor riu sem humor. “Com que dinheiro, senhor? Saio de casa às 6h, pego dois autocarros, trabalho até as 18h… Quando chego em casa, é quase meia-noite. Fins de semana faço limpeza noutras casas.”

O silêncio que se seguiu foi pesado. Afonso jamais imaginara a vida dela além daquelas paredes.

“Leonor, posso ver esses exercícios com o Diogo?”

“Ele já está de pijama, senhor. Normalmente fazemos de manhã, antes das aulas online.”

“De manhã?”

“Sim. Chego às 7h30, preparo o pequeno-almoço, e enquanto o senhor e a senhora dormem, fazemos os exercícios no jardim.”

Afonso percebeu que não sabia nada da rotina do próprio filho.

“E ele gosta?”

“Adora, senhor. Ontem ficou três minutos sem muletas!”

“Três minutos?! O fisioterapeuta disse que isso levaria meses!”

Leonor corou. “Talvez ele esteja mais motivado… Quer impressionar o senhor.”

“Impressonar-me?”

“Fala sempre do senhor. Diz que quando conseguir andar bem, vai trabalhar consigo. Quer ser igual ao pai.”

Afonso sentiu os olhos marejados. Não fazia ideia.

Nesse momento, ouviram passos na escada. Era Diogo, descendo com dificuldade.

“Pai, ainda estás aí?”, perguntou, aliviado.

“Devias estar a dormir”, disse Afonso, sem tom de repreensão.

“Não consegui. Pai… não vais despedir a tia Leonor, pois não?”

A pergunta surAfonso ajoelhou-se para ficar à altura do filho, enxugou as lágrimas que teimavam em cair e sussurrou: “Filho, a tia Leonor vai ficar connosco para sempre, porque ela já faz parte da nossa família”.

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