**Diário Pessoal**
Nunca pensei que um simples gesto de bondade me custaria o emprego. Numa terça-feira fria, reparei num homem idoso junto à janela do café, com um golden retriever a tremer-lhe nos braços.
O homem parecia exausto, e algo na sua postura denunciava um passado militar. Aproximei-me e disse-lhe, oferecendo uma chávena de café fumegante:
— Hoje, o café é por minha conta.
O veterano contou-me que o seu cão de serviço, o Tobias, estava ferido e que iam a caminho do veterinário. Ele próprio não comia há dois dias. Sem pensar, tirei da minha bolsa um sanduíche e uma garrafa de água e dei-lhos.
Foi então que o gerente apareceu, com uma voz cortante:
— Não se distribui comida sem autorização.
Tentei argumentar, até me ofereci para pagar do meu bolso, mas ele não quis saber. Minutos depois, estava despedida—à frente de todos, incluindo o veterano.
O homem colocou-me uma mão no ombro e murmurou:
— Não fez nada de errado. Espere aqui, eu volto já.
Saí do café, apertando o avental entre as mãos, sem imaginar que aquele gesto mudaria tudo.
O que aconteceu a seguir deixou toda a gente em choque.
Mal pus os pés na rua, vi um grupo de fuzileiros navais a aproximar-se do café. O movimento parou, os olhares fixaram-se. Um deles dirigiu-se a mim:
— É a Leonor Teixeira?
Assenti, confusa.
— Soubemos do que fez. Mostrou compaixão e coragem—exatamente o que se espera de quem honra aqueles que serviram.
O veterano, o senhor António Mendes, juntou-se a nós com um sorriso. Entregaram-me um envelope—uma carta de agradecimento do comandante—e convidaram-me para um evento em apoio a veteranos e seus animais.
As lágrimas vieram sem aviso. Aquele pequeno gesto, que me custou o emprego, transformou-se numa oportunidade para fazer a diferença. Os transeuntes aplaudiram, e o café, antes palco de conflito, tornou-se num símbolo de humanidade.