Vi a mão dela pairar sobre minha taça de champanhe exatamente por três segundos. Três segundos que mudaram tudo. A taça de cristal estava na mesa principal, esperando pelo brinde, esperando que eu a levasse aos lábios e bebesse o que a minha nova sogra, Dona Teresa, acabara de colocar ali.
O pequeno comprimido branco dissolveu-se rapidamente, deixando quase nenhum vestígio nas borbulhas douradas. Teresa não sabia que eu estava a observar. Ela pensava que eu estava do outro lado do salão de festas, a rir com as minhas damas de honra, perdida na alegria do meu dia de casamento. Ela pensava que estava sozinha. Pensava que estava segura.
Mas eu vi tudo. O meu coração batia forte contra as costelas enquanto a via olhar em volta, nervosa, os dedos cuidadosamente pintados a tremerem enquanto os afastava da minha taça. Um sorriso pequeno e satisfeito curvou os seus lábios, o tipo de sorriso que fez o meu sangue gelar. Não pensei. Apenas ajaei.
Quando Teresa voltou ao seu lugar, ajeitando o seu caro vestido de seda e colocando o sorriso de mãe do noivo, eu já tinha feito a troca. A minha taça estava agora à frente da cadeira dela. A dela, a limpa, esperava por mim.
Quando o Duarte se levantou, elegante no seu fato de cerimónia impecável, e ergueu a taça para o primeiro brinde da nossa vida de casados, senti como se estivesse a ver tudo através de um nevoeiro. As suas palavras sobre amor e eternidade soavam estranhas aos meus ouvidos. A mãe dele estava ao seu lado, radiante, levando a champanhe adulterada aos lábios.
Eu devia tê-la impedido. Devia ter gritado, batido na taça para cair, exposto-a ali mesmo na frente de todos. Mas não o fiz. Queria ver o que ela tinha planeado para mim. Queria prova. Queria que todos vissem quem Teresa realmente era por trás daquela máscara perfeita, caridosa, de pilar da comunidade.
Então, vi a minha sogra beber o veneno que preparara para mim. E depois, o inferno desatou.
Na manhã do meu casamento, acordei a acreditar em contos de fadas. A luz do sol entrava pelas janelas da suíte nupcial no Solar do Marquês, iluminando tudo com um dourado suave. A minha melhor amiga, Mariana, já estava acordada, pendurando o meu vestido — um deslumbrante traje de noiva marfim com mangas de renda delicada — perto da janela, onde a luz o beijava.
“Hoje é o dia, Leonor”, sussurrou, os olhos a brilhar. “Vais casar com o Duarte.”
Sorri tão forte que as bochechas doeram. Óbvio. O meu Duarte. Depois de três anos de namoro, finalmente íamos fazer isto, finalmente tornar-nos marido e mulher.
“Não acredito que é real”, disse, pressionando as mãos contra o estômago, onde as borboletas se instalaram permanentemente.
A minha mãe entrou nesse momento, o cabelo já arranjado, a maquiagem perfeita, segurando uma bandeja com café e pastéis de nata. “A minha menina linda”, disse, colocando a bandeja em cima da mesa e abraçando-me com força. “Estou tão orgulhosa de ti.”
A minha irmã mais nova, Beatriz, entrou atrás dela, aos saltos. “As flores acabaram de chegar e estão deslumbrantes! Leonor, está tudo perfeito!”
Tudo estava perfeito. Ou assim eu pensava.
A cerimónia decorreu sem problemas. Caminhei pelo corredor no braço do meu pai, os olhos dele brilhando com lágrimas que tentava esconder. A capela histórica estava decorada com milhares de rosas brancas e luz de velas suave. O Duarte estava no altar, parecendo todos os sonhos que alguma vez tive, o cabelo escuro perfeitamente penteado, os olhos cinzentos fixos nos meus com uma intensidade que me fez esquecer de respirar.
Quando ergueu o meu véu e sussurrou: “És a coisa mais bonita que já vi”, eu acreditei que este era o início do meu final feliz. O melhor amigo dele, o João, estava ao seu lado como padrinho, sorridente. O irmão mais novo do Duarte, o Francisco, com apenas dezanove anos, parecia desconfortável no seu fato, mas sorriu calorosamente para mim. Sempre me dei bem com o Francisco.
Teresa estava sentada na primeira fila, enxugando os olhos com um lenço de renda, desempenhando o papel da mãe emocionada do noivo à perfeição. O pai dele, o Henrique, estava ao lado, rígido e formal como sempre. Dissemos os nossos votos. TroQuando os médicos confirmaram que Teresa estava fora de perigo, decidi que o meu casamento já tinha sido arruinado o suficiente e, com o coração a doer, entreguei a aliança ao Duarte e sai do hospital sozinha, sabendo que alguns venenos não precisam de ser ingeridos para destruir uma vida.