Um Soldado Volta para Casa e Encontra a Filha Criando o Irmão Sozinha – O Cão se Tornou Seu Protetor e a Madrasta Sumiu com o Amante…

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O ar outonal em Cascais trazia o cheiro das folhas queimadas quando o Sargento-Ajudante Diogo Almeida finalmente desceu do autocarro. O seu uniforme estava engomado mas gasto, as botas marcadas pelas areias do deserto de Moçambique. Estivera ausente quase dois anos, contando os dias até reencontrar a família. Mas quando chegou à pequena casa na Rua das Hortênsias, não foi o abraço caloroso da esposa que o esperou, mas algo que lhe torceu o estômago.

O jardim estava abandonado, a relva alta, a caixa do correio entupida de folhetos velhos. Na varanda, a sua filha de nove anos, Beatriz, abraçava o irmão mais novo, o pequeno Tomás de quatro anos. À frente deles, um grande Pastor Alemão, o Tobias, mantinha-se alerta, o corpo tenso como quem guarda as crianças.

“Pai?” A voz de Beatriz partiu-se ao levantar-se, com lágrimas a escorrerem-lhe pela face. Tomás seguiu-a, tropeçando até aos braços de Diogo. Ele deixou cair a mochila e abraçou-os com força, mas mesmo naquele momento de reencontro, os seus olhos procuravam a esposa, a Carolina.

“Onde está a tua mãe?” perguntou baixinho.

Beatriz hesitou, depois baixou o olhar. “Ela foi-se embora, Pai. Há muito tempo.”

As palavras atingiram-no como uma bala. Carolina prometera que manteria a família unida enquanto ele estava destacado. Mas as palavras seguintes de Beatriz cortaram ainda mais fundo.

“Ela foi-se com um homem. Não voltou. Eu tive de tomar conta do Tomás. O Tobias ajudou-me.”

Diogo sentiu uma onda de raiva e desgosto, mas conteve-se pelos filhos. A sua menina, apenas com nove anos, fora obrigada a ser mãe. O filho, ainda um bebé, fora protegido por uma irmã mais velha e por um cão leal. A traição da esposa queimava-lhe por dentro, mas a visão dos corpos magros e olhos cansados dos filhos acendeu algo mais forte — determinação.

Diogo levou-os para dentro, onde a casa contava a sua própria história. O frigorífico estava quase vazio, apenas com leite e uns ovos. Pratos empilhados na bancada. As roupas das crianças estavam lavadas, mas mal dobradas, prova das mãozinhas de Beatriz a tentar o seu melhor. Tomás apertava um urso de peluche gasto, os olhos cheios de um medo que nenhuma criança devia conhecer.

Naquela noite, depois de os deitar, Diogo sentou-se à mesa da cozinha, a olhar para a tinta descascada das paredes. O Tobias deitou-se aos seus pés, descansado mas atento. O militar sentia-se mais destruído agora do que na guerra. Enfrentara insurgentes, bombas e perigo sem fim, mas isto… esta traição, este abandono dos seus filhos, era uma ferida mais profunda que qualquer cicatriz.

Prometeu a si mesmo que reconstruiria tudo. Por Beatriz, por Tomás, e por ele.

Na manhã seguinte, Diogo levou-os à escola no seu velho carro. Beatriz insistira que mantivera os estudos, mas ele via-lhe a exaustão no rosto. As professoras receberam-no com surpresa e alívio, explicando que Beatriz fora incrivelmente responsável — levando Tomás ao infantário todos os dias, indo às aulas, e até fazendo biscates como tomar conta de crianças ou passear cães para comprar comida.

Diogo apertou os dentes. A filha fora uma soldado à sua maneira, lutando uma guerra que nenhuma criança devia travar.

Em casa, começou a organizar as coisas. Contas por pagar, avisos de corte de serviços, até uma ameaça de despejo. Carolina não se limitara a ir-se embora — abandonara todas as responsabilidades, deixando a família à beira do colapso.

Diogo contactou o seu superior, explicando a situação. Embora já desmobilizado, o exército concedeu-lhe um apoio de reintegração e indicou-lhe grupos de ajuda para veteranos. Sentia vergonha de pedir auxílio, mas sabia que não podia deixar o orgulho impedi-lo de alimentar os filhos.

Entretanto, os murmúrios espalhavam-se pelo bairro. Alguns vizinhos tinham visto Carolina a sair há meses, num carro preto, sem olhar para trás. Outros admitiram ter tentado ajudar Beatriz, mas a menina insistira que conseguia lidar sozinha.

Uma tarde, enquanto consertava a cerca partida, Diogo viu Beatriz a observá-lo com olhos preocupados.

“Pai, vais-te embora também?”

A pergunta quase o partiu. Deixou cair o martelo, ajoelhou-se e agarrou-lhe os ombros. “Não, minha querida. Nunca vos deixarei. Tu e o Tomás são o meu mundo. Prometo.”

Beatriz acenou, mas Diogo via as marcas do abandono. Crescera demasiado depressa. Tomás, por seu lado, agarrava o Tobias como se o cão fosse a única estabilidade que conhecia.

Determinado, Diogo começou a candidatar-se a empregos de segurança. Com a sua experiência militar, conseguiu trabalho como vigia noturno num armazém. Não era glamoroso, mas pagava as contas. Durante o dia, reparava a casa, cozinhava e tentava recuperar uma vida normal.

Mas o fantasma da Carolina assombrava tudo. À noite, Diogo ficava acordado, a perguntar como ela pudera partir tão facilmente. Certa vez, Beatriz admitiu que a mãe a proibira de lhe contar sobre o amante. “Ela disse que ficarias zangado. Que queria uma vida nova.”

O coração de Diogo endureceu. Não fora só traição — fora crueldade. Percebeu então que não podia perder-se nela. A sua missão agora era curar os filhos, ser pai e mãe, protetor e provedor.

Mas sabia que não seria fácil.

As semanas transformaram-se em meses, e a família Almeida ajustou-se aos poucos. Diogo estabeleceu rotinas: pequeno-almoço juntos, passeios com o Tobias, trabalhos de casa à mesa da cozinha. Beatriz começou a sorrir outra vez, os ombros mais leves por já não carregar tudo sozinha. Tomás também se soltou, rindo mais, embora ainda acordasse a chamar pela irmã.

O laço entre pai e filhos aprofundou-se, forjado pela dor mas fortalecido pela confiança. Os vizinhos notaram a mudança, oferecendo refeições, roupa usada e amizade. Pela primeira vez desde o regresso, Diogo sentiu que não estava só.

Até que, uma tarde, Carolina apareceu. Chegou no mesmo carro preto que os vizinhos descreveram, vestida com roupa cara, o cabelo bem tratado. O homem com quem fugira não estava lá. Bateu à porta como se ainda pertencesse àquele lugar.

Beatriz gelou ao vê-la. Tomás escondeu-se atrás do Tobias, que rosnou baixinho.

Carolina sorriu, desconfortável. “Diogo… crianças… voltei. Cometi um erro.”

Diogo permaneceu na entrada, o rosto de pedra. “Um erro? Abandonaste-os. A Beatriz criou o Tomás enquanto brincavas a outra vida.”

“Não era feliz,” gaguejou. “Mas quero corrigir as coisas.”

Beatriz abanou a cabeça. A sua voz pequena era firme, mais forte do que nunca. “Já não precisamos de ti, Mãe. O Pai cuida de nós agora.”

Os olhos de Carolina encheram-se de lágrimas, mas Diogo não cedeu. “Deixaste-nos à nossa sorte. Não podes voltar quando te convém.” FecheEle fechou a porta com firmeza, sabendo que a sua verdadeira família estava ali dentro, reunida e forte, pronta para enfrentar o futuro juntos.

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